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MTV isola revelações e consagra (de novo) amigos e geração quarentona no Video Music Brasil
Vanguarda do atraso
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Banda amiga da direção da
MTV desde sempre, o sexteto
Titãs, 20, sagrou-se campeão do
8º Video Music Brasil, numa das
mais comportadas e tediosas cerimônias da história da premiação
anual do videoclipe nacional. Levaram os prêmios "nobres" do
VMB: escolha da audiência, clipe
do ano e clipe de rock.
A tendência retrô se reproduziu
em outra categoria de frente, a de
pop, que tinha Lulu Santos e Nando Reis concorrendo e foi vencida
pelo também veterano Frejat.
Na categoria democlipe, ilha supostamente dedicada a quem está
começando e ainda não teve acesso ao mundinho pop, venceram
os Ratos de Porão. Além de terem
cerca de 20 anos de atividade, são
liderados por João Gordo, funcionário emérito da emissora.
Público votante e jurados especializados caíram na cilada de um
nascente e precoce conservadorismo da "TV jovem". Em enquete promovida pela Folha Online,
até as 13h de ontem 85% dos opinantes respondiam "sim" à pergunta "você acha que o VMB tem
alguma importância no cenário
atual da música brasileira?".
Amontoados, esses dados confirmam de viés o laço entre o estado de calamidade da indústria
musical brasileira e a postura "a
crise não nos pegou" que a MTV
resolveu adotar neste ano. Crescem o faturamento e a audiência,
mas com ela crescem, de dentro
para fora, acomodação, condescendência e autocomplacência.
É aí que Supla, outro macaco velho, assume ares de rebelde com
causa, fantasiado de pirata. Criticou a si (o disco de platina que recebeu em 2001 era ilegítimo) e à
indústria a que pertence (aludindo à pirataria, o principal problema atual das gravadoras, em parte
agravado por elas próprias).
Ou seja, Supla fez a crítica e a autocrítica que a MTV se "esqueceu" de fazer -talvez porque ela
própria hoje pirateie artistas que
pagam mico no VMB, suprimindo pagamentos de seus direitos
autorais por litígios judiciais.
A MTV caiu em mais ciladas armadas por ela própria. Protagonizado por Fernanda Lima, tão exuberante quanto nervosa, o roteiro
da premiação foi um espetáculo
de constrangimento, que fez o público presente ir afundando na cadeira a cada nova intervenção.
Apesar de não possuir tino humorístico, Fernanda suportou
um texto de apoio primário, que
se esparramava aos apresentadores de ocasião em piadas tolas,
grosserias sem graça de Hermes
& Renato, reflexões sobre o nada.
Discursos-paisagem toscos sobre internet ou direção de arte
(pobre Skank, que vexame colossal...) pareciam apenas destinados
a preencher um vácuo temático
aterrorizante. E a feliz intervenção
de Cazé, fundindo standards da
pop-MPB, estilo e campanha pelo
voto consciente terminou inconvincente, tipo "vamos nos livrar
logo desse assunto incômodo".
Pronto? Não, para quem seguia
rumo à próxima parada, pós-cerimônia, havia ainda o indizível
show do Reggae B (em mais um
último desfile de astros dos anos
80), para arruinar a festa.
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