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DANÇA
Em pé de igualdade
Storm, dançarino alemão de hip hop, se apresenta hoje e amanhã em São Paulo, ao lado do grupo Discípulos do Ritmo
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Divulgação
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Um dos integrantes do Discípulos do Ritmo, grupo formado há dois anos em São Paulo |
ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Na Alemanha, Niels Robitzky,
mais conhecido como Storm, é
considerado o rei da dança hip
hop. Com quase 20 anos de carreira, ele concedeu status artístico
a essa expressão praticada nas
ruas dos grandes centros urbanos, pelos chamados B-Boys.
A convite do Instituto Goethe,
Storm trabalhou nas últimas semanas com o grupo paulista Discípulos do Ritmo, dirigido por
Frank Ejara. O resultado desse intercâmbio, a coreografia "Tá Limpo!", estréia hoje no Centro Cultural São Paulo, onde Storm também dança "Solo for Two".
Folha - Nos intercâmbios que realiza em diferentes países, você confirma que o hip hop é uma linguagem universal?
Storm - Cada vez que chego a um
lugar estranho, seja no Japão ou
na África, me sintonizo imediatamente. Dançarinos de hip hop
não têm problemas de linguagem
porque nosso canal de comunicação é o movimento, pelo qual tentamos ser poéticos. Muitas vezes
me sinto privilegiado, por exemplo, quando vejo, na rua onde
moro, pessoas que foram presas
por causa de drogas. Percebo então que eu tenho outra opção, que
é o movimento, a dança, e que essa capacidade de expressão fica
ainda melhor quando as pessoas a
experimentam juntas.
Folha - Ao decidir ser dançarino
de hip hop você sofreu preconceitos e dificuldades para se impor?
Storm - Acho que todo mundo,
de alguma forma, enfrenta preconceitos, e, na maioria das vezes,
eu ignoro quem tem atitudes preconceituosas. No início de minha
carreira, minha família dizia que
dança hip hop não era trabalho,
mas hoje meu pai reconhece que
aprendeu muito comigo. Na sociedade atual, marcada pelo individualismo, é preciso trabalhar
por si para ser reconhecido em cidades com milhões de habitantes,
como São Paulo. No meio disso,
cabe ao dançarino de hip hop dimensionar o tamanho de seu ambiente. Quando comecei a dançar,
eu queria ser o rei do quarteirão,
depois o rei do bairro e, à medida
que me tornava conhecido, pensava que podia ser o rei da cidade,
do país, do continente. Porém,
com o tempo, compreendi que
podia ir bem mais além ensinando o que sabia às novas gerações.
Folha - Você começou a dançar
muito cedo?
Storm - Acho que sempre dancei
em minha vida. Meu pai era músico de jazz, minha mãe às vezes
dançava quando estava cozinhando, e esse ambiente me animava.
Na adolescência, depois de ver o
filme "Grease", eu, minha namorada e um amigo tentávamos
dançar como John Travolta e Olivia Newton-John. Mas o grande
impacto foi quando vi B-Boys nas
ruas, dançando apoiados na cabeça e nas costas. Aquilo me pareceu
muito louco e eu pensei: "Quero
aprender a fazer isso"! Daí fui conhecendo gente do meio, me enturmando, aprendendo. Também
queria impressionar as garotas e
nunca mais parei.
Folha - Qual a situação da dança
hip hop na Alemanha?
Storm - Berlim, onde moro, é a
mais cruel das cidades alemãs.
Não oferece suporte para os dançarinos e é o contrário de Paris,
onde as entidades culturais do governo estimulam a prática e o desenvolvimento do hip hop. Em
Berlim, você tem que se valer por
si e se esforçar muito para obter
informação. Já no sul da Alemanha é diferente, lá há mais dinheiro, e em metrópoles como Stuttgart o hip hop é muito forte.
Folha - Na França, a dança hip
hop já é exibida em teatros de ópera. Você acha isso importante?
Storm - Nesses ambientes, a
dança hip hop costuma provocar
curiosidade. À medida que o público dos teatros de ópera se sente
estimulado a se informar melhor
a respeito, a dança hip hop acaba
se firmando e conquistando reconhecimento. Mas, para o dançarino, o mais importante é preservar
o hip hop como um estilo de vida,
uma mentalidade, uma energia,
um estado de espírito.
Folha - Nos últimos tempos, o hip
hop tornou-se fonte de inspiração
e referência para vários coreógrafos contemporâneos, como José
Montalvo, da França. O que você
acha desses cruzamentos com outros estilos de dança?
Storm - Gosto das combinações
de Montalvo porque ele não tenta
mudar a atitude do hip hop. Mas
há companhias contemporâneas
que às vezes nos dizem: "Agora
você está num outro tipo de palco
e tem de se comportar de maneira
diferente". É quando o hip hop
perde o seu espírito verdadeiro, e
aí eu prefiro estar fora desses grupos e dos teatros convencionais.
Também já me disseram que não
sou suficientemente intelectual
porque minhas abordagens da
dança são simples. Daí eu digo para essas pessoas: "Então façam o
que estou fazendo". É claro que
elas não conseguem, porque nossa movimentação é complexa.
SOLO FOR TWO & TÁ LIMPO! - Coreografias de Storm com
participação do Discípulos do Ritmo.
Onde: Centro Cultural São Paulo -°sala
Adoniran Barbosa (r. Vergueiro, 1.000,
tel. 0/xx/11/3277-3611). Hoje e amanhã,
às 19h. Entrada franca.
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