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CRÍTICA
"Brasileirinho" troca a Bahia pelos brasis
DO ENVIADO AO RIO
Tratado por Maria Bethânia como um disco "pequeno", "Brasileirinho" ostenta a virtude de abdicar da centralidade baiana, para querer
representar todo o Brasil, todos
os brasis.
"Brasileirinho" cresce ao se
espalhar pelo Brasil indígena
("Senhor da Floresta"), pela
negritude ex-escrava ("Yáyá
Massemba", o ex-tropicalista
Capinan de volta à composição), pelo aboio interiorano de
Luiz Gonzaga ("Boiadeiro",
inesperada e nada sutil na voz
de Bethânia).
Nos poemas declamados, entram as letras mineiras de Guimarães Rosa, as letras paulistas
de Mário de Andrade. Nos encontros vocais com as cariocas
Miúcha ("Cabocla Jurema") e
Nana Caymmi ("Sussuarana"),
explodem duelos de delicadeza, retratos melancólicos do
Brasil migratório, instável, provisório.
O choro carioca do grupo Tira Poeira contamina "Padroeiro do Brasil"; os experimentos
mineiros do Uakti colaboram
com "Salve as Folhas", em que
Bethânia espanta ao usar registro inédito de voz. A Bahia sincrética transborda de "Santo
Antônio" (do sobrinho J. Velloso) e de "São João Xangô
Menino" (do irmão Caetano
Veloso e do "irmão" Gilberto
Gil).
A Bethânia independente
não chega a divergir do rótulo
industrial de antes. Mas reconquista o prazer de parcerias retomadas ou inéditas, o despojamento roubado de alguma
cantora em início de carreira.
Se havia exigência de gravadora ou acomodamento da própria artista, não se pode saber.
Mas "Brasileirinho" se solidifica ao começar a romper hábitos musicais arraigados.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Brasileirinho
Artista: Maria Bethânia
Lançamento: Quitanda
Quanto: R$ 30, em média
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