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TEATRO
Montagem, que hoje é encenada em Paris, Londres e Nova York, chega a SP em curta temporada no Alfa Real
"Arte' discute complexidade da amizade
CRISTIANO CIPRIANO POMBO
free-lance para a Folha
Marcos - Você não comprou esse
quadro por 50 mil!
Sérgio - Eu sabia que você não ia
entender.
Marcos - Você comprou essa
merda por 50 mil?!
Sérgio - Como é que você pode
dizer "essa merda"?
Marcos - Sérgio, um pouco de humor! Ria!... Ria, meu velho, é fantástico que você tenha comprado
esse quadro!
Sérgio - Que você ache essa aquisição fantástica tanto melhor, que
ela faça você rir, tudo bem, mas eu
gostaria de saber o que você quer
dizer com "essa merda".
Marcos - Você está brincando!
Sérgio - De jeito nenhum. "Essa
merda" com relação a quê? Quando se diz que alguma coisa é uma
merda, é porque se tem um critério
de valor para avaliar essa coisa...
Esse diálogo, traduzido por Zélia
do Vale Rezende Brosson, integra
a peça "Arte", escrita pela dramaturga francesa Yasmina Reza, que
atualmente tem faturado prêmios
em todo o mundo e se firmado como um dos maiores fenômenos
globalizados do teatro.
Em cartaz nas cidades de Paris,
Londres e Nova York, hoje, sob a
direção de Mauro Rasi (de "Pérola"), o espetáculo faz sua estréia
nacional em São Paulo.
Em princípio, o nome da peça e o
diálogo que parece levar a uma
acirrada discussão acerca da arte
são pretextos para a abordagem de
algo mais complexo: as relações
humanas.
Definida pelo diretor como comédia, "Arte" gira em torno da
amizade de três personagens: o
atacadista Ivan (Pedro Paulo Rangel), o dermatologista Sérgio (Paulo Gorgulho) e o engenheiro aeronáutico Marcos (Paulo Goulart).
A amizade dos três é abalada
quando suas opiniões divergem
em relação à compra de um quadro branco no valor de R$ 50 mil,
colocando em questão o jogo de
poder e competição na vida dos
homens, suas fragilidades, relações entre si e com as mulheres.
"É um espetáculo sem nudez ou
efeito especial, com destaque para
a palavra e o trabalho do ator. Apesar do nome, não há o porre de
conceitualizações sobre a arte, mas
sim sobre a arte de viver", explica
Mauro Rasi, que dirige pela primeira vez uma peça que não é de
sua autoria. "Aceitei porque é um
texto simples e brilhante. Algo que
eu nunca teria escrito."
Segundo ele, a peça permite várias leituras, criando uma rede de
identificações com o público, que
vai da concepção dos personagens
até a disposição do cenário.
"Ivan é conciliador, vive tentando apaziguar os amigos e é o mais
criticado. Sérgio é sofisticado e liberal, enquanto Marcos é mais
conservador. Nos três personagens temos traços de personalidade de uma mesma pessoa em diferentes momentos. Às vezes, é mais
fácil avaliar uma obra de arte do
que as relações humanas", diz.
A trama se completa com uma
linguagem comum rebuscada,
apartes -atores se dirigindo ao
público- e o cenário -três cadeiras e uma mesa-, que está ligado
aos personagens.
"Ivan tem uma poltrona mais
simples, Marcos uma cadeira mais
clássica e Sérgio algo com design
mais moderno."
Para o dramaturgo, o desfecho é
o grande diferencial: "A tensão se
estende até o final, numa crescente, e a saída de Yasmina é fantástica, com poesia, sem babaquice".
Depois de São Paulo, a peça segue para o Rio de Janeiro.
²
Peça: Arte
Quando: estréia hoje, às 21h; de quinta a
sábado, às 21h; domingo, às 19h; até 18/10
Onde: teatro Alfa Real (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722, tel. 5181-7333)
Quanto: de R$ 15 a R$ 35
Patrocinador: Banco Real
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