São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2005

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"JULIA MANN - MEMÓRIAS DO PARAÍSO"

Obra de Strecker conta a história da mãe brasileira dos irmãos Mann

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

O grande mérito do documentário "Julia Mann - Memórias do Paraíso" é recuperar uma história praticamente desconhecida dos brasileiros: a influência indireta, porém marcante, que o país teve na formação de dois dos maiores escritores da língua alemã do século 20, Thomas Mann (de "A Montanha Mágica") e Heinrich Mann (de "O Anjo Azul"). Julia Mann, a mãe dos dois, nasceu e cresceu em Paraty, filha de donos de uma fazenda de café e cana de açúcar. Em suas memórias, "Sobre a Infância de Dodô" (1903), a cidade não surge como mero cenário, mas como "paraíso perdido", palco de poucos momentos de real felicidade.
Julia (1853-1923) já nasceu sob o signo da instabilidade, em um barco que viajava de Angra a Paraty. Lá, viveu até os sete anos, quando sua mãe morreu, vítima de um parto complicado, e seu pai Ludwig resolveu mandá-la (e a todos os irmãos) para a Alemanha. Aos poucos, todos voltariam para a companhia do pai, menos Julia, que permaneceu num internato. As perdas da infância, somadas ao o grande choque cultural que foi deixar a católica e exuberante Paraty para viver na austera e protestante Lubeck, imprimiriam em Julia uma tristeza que seria de alguma forma herdada pelos filhos e se tornaria motor de criação para os dois mais velhos, que se tornariam escritores.
O documentário de Marcos Strecker quer simplesmente informar o espectador das riquezas dessa trajetória marcada pela melancolia e pela inquietude, tarefa que cumpre com competência. Ele alterna o docudrama (recriações ficcionais de cenas da infância de Julia) a depoimentos, costurados por uma narração em primeira pessoa, assumindo o ponto de vista de Julia, segundo roteiro de João Silvério Trevisan.


Julia Mann - Memórias do Paraíso
   
Direção:
Marcos Strecker
Quando: hoje, às 16h50, no Cineclube Vitrine; e amanhã, às 21h50, no Frei Caneca Unibanco Arteplex



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