São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2005

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ARTES

Empresa faz parceria com casa chinesa para atender a restrições a estrangeiros e licencia uso de seu nome e serviços

Christie's assina contrato para fazer leilões na China

CAROL VOGEL
DO "NEW YORK TIMES"

Determinada a ser a primeira casa de leilões ocidental a tirar vantagem direta do florescente mercado chinês de arte, a Christie's assinou um contrato para conduzir leilões em Pequim, informaram dirigentes da empresa. E para atender às restrições do governo chinês quanto à realização de leilões por empresas estrangeiras, o grupo formou uma parceria com uma casa de leilões recentemente estabelecida em Pequim, chamada Forever.
Sob os termos do acordo, fechado esta semana, a Christie's licenciará o uso de seu nome, fornecerá especialistas e supervisionará todo o processo de leilão, da aquisição dos trabalhos para venda à impressão e design dos catálogos. O primeiro leilão da empresa na China -450 peças de arte moderna e contemporânea chinesa- está marcado para o dia 3/11 no Great Wall Sheraton Hotel, em Pequim, e o total arrecadado deve ultrapassar os US$ 10 milhões.
"É importante para nós marcar presença e informar que chegamos", disse Edward Dolman, presidente-executivo da Christie's. "Trata-se de um mercado imenso, e tomamos como ponto de partida as vendas excelentes que já realizamos em Hong Kong."
Em maio e junho, informou Dolman, as vendas da Christie's em Hong Kong totalizaram cerca de US$ 130 milhões e atraíram cerca de 4.500 pessoas por dia. Os interessados estavam à procura de peças que variavam de cerâmica chinesa clássica a jóias em jade, passando por quadros modernos e contemporâneos.
O número de colecionadores ricos está crescendo na China à medida que fortunas são feitas em setores como a construção, tecnologia e imóveis. De acordo com números das dez principais casas de leilões chinesas, as vendas cresceram de menos de US$ 100 milhões em 2000 para cerca de US$ 1 bilhão em 2005.
A China não é território novo nem para a Christie's nem para sua principal rival, a Sotheby's. Ambas abriram escritórios em Xangai em 1994 para identificar propriedades vendáveis e contatar potenciais compradores. Dois anos mais tarde, a Christie's abriu um escritório em Pequim. A Sotheby's tem representação na capital chinesa desde o ano passado. Quanto a Hong Kong, a Sotheby's realiza leilões na antiga colônia britânica desde 1973, e a Christie's, desde 1986.
Ano a ano cresce o número de asiáticos que adquirem peças de arte em leilões. Os executivos da Sotheby's informaram que, em 2004, os clientes asiáticos do grupo investiram mais de US$ 275 milhões nas salas de leilões operadas pela empresa em todo o mundo, ante pouco mais de US$ 100 milhões em 2003.
A arte asiática está ganhando popularidade e seu preço também está crescendo. Em julho, a Christie's estabeleceu um recorde para peças de arte asiáticas vendidas em leilão quando um negociante londrino adquiriu um vaso azul e branco do século 14 por US$ 27,7 milhões. Agora, a Christie's e a Sotheby's procuram a melhor maneira de aproveitar as oportunidades do mercado chinês.
Mas enquanto a Christie's fechou acordo com uma congênere chinesa em Pequim, a Sotheby's optou por abordagem mais cautelosa. "Estamos sondando o mercado e observaremos de perto o que acontece com a Christie's para ver o que se pode aprender", disse Henry Howard-Sneyd, diretor executivo da Sotheby's na Ásia e Austrália, acrescentando que o número de funcionários de sua empresa em toda a Ásia cresceu entre 15% e 20%.
A arte contemporânea chinesa é um dos segmentos de mais rápido crescimento nesse mercado, atraindo compradores de todo o mundo. A Sotheby's planeja realizar seu primeiro leilão desse segmento em março, durante sua semana asiática, em Nova York. Xiaming Zhiang, especialista encarregada do leilão, antes de ser contratada pela Sotheby's era funcionária do museu Guggenheim, onde ajudou a organizar a mostra "China, 5.000 anos", em 1998.
Zhang está agora viajando pela China à procura de propriedades para vender. "Não é fácil", disse por telefone. "A procura é muito maior do que a oferta".
Os artistas contemporâneos chineses em geral se enquadram em duas categorias. No primeiro grupo estão aqueles cujo estilo se baseia nas imagens e formas tradicionais chinesas, como paisagens em aquarela que remontam aos séculos 17 e 18. Um exemplo é Wu Guanzhong, cujo "White Poplar Woods", visão moderna de uma floresta que, tradicionalmente, serve de tema à pintura chinesa, deve ser vendido por um valor entre US$ 770 mil e US$ 900 mil no leilão da Christie's/Forever, no mês que vem.
A segunda categoria inclui os trabalhos de um importante grupo de artistas chineses cujas peças se inspiram na arte pop e na arte conceitual e têm grande aceitação internacional. Entre eles, destaca-se Cai Guo-Qiang, curador do primeiro pavilhão oficial chinês na Bienal de Veneza.


Tradução Paulo Migliacci

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