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JAZZ
Wayne Shorter poupa palavras e toca o inexprimível
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Você nem precisava ter estado lá para saber, mas acredite: a noite de sábado na versão
paulistana do Tim Festival foi a
grande noite de jazz do festival e o
grande evento jazzístico do ano.
(Bem diferente de sexta, em que o
ecletismo comandou, trazendo
um naipe de percussões latinas,
um cantor de funk e blues de Nova Orleans e a sambista Dona Ivone Lara, a grande surpresa, com
um show elegante e sofisticado.)
Afinal, o jazz chegou em São
Paulo com a big band do saxofonista tenor Bob Mintzer, com 16
músicos sobre o palco, tocando
arranjos suaves e interessantes,
embora sem o ar de inovação que
alguns haviam apregoado e lhe
aferido. Na seqüência, apresentaram-se o guitarrista Russell Malone e o pianista Benny Green, para
fazer um show em formação intimista, somente os dois, com intenso diálogo musical e suingue.
Mas a maior expectativa da noite era pela apresentação do saxofonista Wayne Shorter, principal
nome da escalação jazz do festival. "Meu pai me falou que ele é a
última lenda viva do jazz, que eu
não podia perder", comentava o
estudante Felipe Navarro, 17.
Quando apareceu no palco com
seu quarteto, Shorter foi aplaudido de pé pelo público. Agradeceu,
poupou as palavras e ofereceu
música. Tocando sax tenor e soprano, acompanhado de Danilo
Perez ao piano, John Patitucci no
baixo e Brian Blade na bateria, ele
cumpriu sua promessa de tocar
música para abrir a cabeça das
pessoas. Nada ali era previsível.
Em transe com os sons que criavam, os instrumentistas se mexiam tanto quanto a música, exceto por Shorter, no centro de tudo,
com um sorriso de Mona Lisa.
Deixando os mais desavisados
pelo caminho, a banda foi fazendo música ousada, tão cerebral
quanto instintiva, sem soar hermética. Com infinitas dinâmicas,
alternando entre suavidade e peso. Era impossível saber onde terminava a partitura e começava o
improviso. Era uma espécie de
free jazz "acertado", se é que isso
faz sentido. Quando parecia que
os músicos estavam indo cada um
para um lado, eles se encontravam para provar que estavam
juntos o tempo todo, nos mostrando novas possibilidades.
No auge da carreira, aos 72
anos, Shorter faz música muito
grande para sua baixa estatura.
Tentar descrever o entendimento
superior de música que se demonstrou ali é apenas um exercício de busca de adjetivos para descrever o inexprimível. Não é que
Shorter quebrou barreiras. Elas
simplesmente nem existiram enquanto ele estava no palco.
Wayne Shorter:
Russell Malone/Benny Green:
Bob Mintzer Big Band:
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