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MÚSICA
Apresentação com mais de duas horas de duração atesta atualidade da obra do compositor de "Minha Namorada"
Lyra repassa sua carreira ao ganhar o Prêmio Shell
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Carlos Lyra levou a sério a informação de que estava recebendo o
Prêmio Shell de Música pelo conjunto de sua obra. Fez na noite de
terça-feira, na sala Cecília Meireles, no Rio, um show de duas horas e 20 minutos, interpretando
29 canções.
Embora um tanto cansativo como show, a apresentação serviu
para mostrar a riqueza, a diversidade e o razoável poder de renovação da obra do compositor carioca, 66 anos de vida, 51 de carreira e, ao que parece, uma boa
dose de futuro.
"Saliência" foi a palavra mais
usada por Lyra nas suas muitas
conversas com a platéia. Ao usá-la, ele queria dizer que faria no
palco algo pouco esperado -ou
que já tinha feito alguma surpresa
ao compor determinada música.
As "saliências" foram responsáveis por alguns dos bons momentos do show, como a participação
dos jovens do Bossacucanova em
"Maria Moita" e "Aruanda" -a
primeira com resultado bem superior ao da segunda.
Lyra cantou de pé e ensaiou passos de dança embalado pelos sons
elétricos e eletrônicos do grupo.
Pareceu livre de qualquer purismo em torno da bossa nova.
Logo em seguida, Marcos Valle
subiu ao palco para mostrar seu
arranjo para "Quem Quiser Encontrar o Amor", renovando a
parceria de Lyra com Geraldo
Vandré e mostrando como há
muitas possibilidades abertas
dentro da obra do autor.
Vinicius
Uma obra que se iniciou em
1954, quando o adolescente precoce compôs a intrincada "Quando Chegares". Ele a cantou terça-feira após duas introduções: um
prelúdio para piano, "saliência"
sua interpretada por Helvius Vilela; e "Minha Namorada", parceria
com Vinicius de Moraes que é sua
música mais conhecida.
"Vou homenagear um parceiro
especial, que sou eu mesmo", disse ele, antes de "Quando Chegares" e "Maria Ninguém". Depois,
enfileirou blocos dedicados a outros parceiros, a começar por Ronaldo Bôscoli.
"Entre as mais úmidas, eu selecionei algumas", brincou ele, contando que, ao se empolgar enquanto fazia uma letra, Bôscoli
suava nas mãos.
Lyra cantou "Lobo Bobo",
"Saudade Fez um Samba", "Se É
Tarde, Me Perdoa" e "Canção para Morrer no Ar".
De Vinicius ele emendou "Você
e Eu" e "Coisa Mais Bonita", e em
seguida interpretou, entremeando com imitações do jeito de falar
do poeta, três feitas para o musical
"Pobre Menina Rica": "Samba do
Carioca", "Sabe Você" e "Primavera".
Pode-se afirmar que as músicas
citadas e mais "Marcha da Quarta-Feira de Cinzas" (também com
Vinicius), que ele guardou para o
final, são o melhor de Lyra, o que
fica escrito na história.
Mas ele aproveitou a homenagem para mostrar parcerias com
Gianfrancesco Guarnieri, Ruy
Guerra, Dolores Duran (as duas
feitas após a morte da compositora), Paulo César Pinheiro, Zé Keti,
Millôr Fernandes, Chico Buarque
e até mesmo Castro Alves e Machado de Assis. Recebeu no palco,
entre outros artistas, Joyce, Elton
Medeiros, Wanda Sá e Roberto
Menescal.
O show caiu de ritmo, assim como a obra de Lyra se tornou irregular a partir de meados dos anos
60. Mas ela não deixou de produzir bons momentos e de buscar
caminhos alternativos ao padrão
da bossa nova. As "saliências" de
Lyra também são premiáveis.
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