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COMIDA
Com a proximidade das férias, escolas de culinária abrem cursos voltados para o público infantil
Lugar de criança é...
CRISTIANE LEONEL
DA REPORTAGEM LOCAL
A cozinha é um dos espaços em
que as crianças podem vivenciar
uma experiência que agrega divertimento e aprendizado (com
cuidado), principalmente no período de férias, quando elas devem soltar a criatividade fora das
tradicionais salas de aula .
Sabendo disso, algumas escolas
de culinária criaram programas
de aulas específicas para a criançada nos meses de dezembro e janeiro. É o caso, por exemplo, da
Escola Wilma Kövesi de Gastronomia, em Pinheiros, que tem em
sua grade o curso Crianças e Panelas, voltado para os pequenos
com mais de nove anos.
Um dos alunos mais assíduos
da Wilma é Ítalo Federico Neto,
11, que gosta de jogar futebol e fazer judô, mas vai para cozinha
desde cedo, porque "é importante
ser independente, e cozinhar faz
parte da vida".
Como as aulas são sazonais na
Wilma (somente nas férias), ele
também pratica em casa, geralmente com o pai. Ao tentar cozinhar sozinho, acabou passando
por uma experiência ruim: fez um
pequeno corte no dedo ao fatiar
um salame.
Algo que dificilmente aconteceria na escola, segundo a proprietária e professora Betty Kövesi:
"Há uma auxiliar que ajuda na supervisão das crianças, e as aulas
iniciam-se com uma introdução
sobre os cuidados na cozinha".
Em algumas escolas, o uso de faca é proibido, como o Atelier
Gourmand, nos Jardins, que oferece aulas para os pequenos desde
1999, e o Studio do Sabor, no Pacaembu, que há três anos recebe
as crianças nos períodos de férias.
Como ambas promovem cursos
para crianças menores que as
aceitas na escola de Betty (em geral de seis a dez anos), os cuidados
são redobrados.
Vera Lúcia Xavier, gerente do
Atelier, explica que as aulas acontecem em mesas montadas provisoriamente nos dias de aula, pois,
na escola, as bancadas são projetadas para adultos. "Além disso,
as receitas quase não vão ao fogo e
ao forno. E, se vão, são os professores que lidam com o fogão."
Na cozinha experimental da
Helô Escola de Culinária, na Vila
Madalena, única escola que oferece cursos para crianças o ano todo, a estrutura é projetada especialmente para os pequenos. A
bancada, onde estão também os
fogões, tem cerca de 70 cm. Ainda
há uma biblioteca só com livros
infantis de gastronomia.
Passo-a-passo
Com livros e fogões ocupando o
mesmo espaço, a aula na Helô começa com a apresentação da pauta do dia. "Hoje vamos fazer uma
musse de framboesa, uma de roquefort e uma de chocolate", diz a
professora, enquanto as crianças
se programam para o "ritual": lavar as mãos, prender os cabelos e
colocar os aventais.
O próximo passo é cada um
preparar o seu "mise-en-place"
de acordo com a apostila que recebem no início de cada aula, que
contém os ingredientes, o preparo e os utensílios necessários.
Renata Douek, 13, é uma veterana na turma -freqüenta a escola
há um ano e meio. Sua voz fina
em nada tem a ver com a firmeza
que mantém nas mãos. Enquanto
fatia minuciosamente um grande
pedaço de queijo roquefort, fala
sobre o chef que admira: "Eu gosto daquele que faz gelatina quente, sabe?". É Ferran Adrià.
Apesar de Renata já ter alguns
conhecimentos bem à frente da
sua idade, como saber quem é
Adrià (maior ícone da cozinha catalã, conhecido pelas suas invenções exóticas), seu universo ainda
é brincar de ser chef nas aulas e tagarelar com a colega Beatriz Cardoso, da mesma idade. "Este
queijo tem fungo, sabia?", diz Renata. "Não, ele é feito com ervas",
rebate a amiga, que completa:
"Mas as pessoas comem fungo?
Eca!".
A professora ri, mas logo chama
a atenção. "Prestem atenção, meninas. Vamos bater o chantilly. É
preciso ficar de olho para não passar do ponto e virar manteiga."
Para bater as claras, a criançada
põe força no braço, um exercício
físico e tanto. "Ai, o braço dói", reclama uma das meninas. Enquanto isso, mais concentrado, o único
menino da turma, Eduardo Geraldi Lacaz, 14, bate o creme com
menos esforço. Ainda que a altura
dos fogões já seja um pouco baixa
para ele.
A altura da bancada é também
um desafio para Isabela Mancusi,
de apenas seis anos. A menina
tem de subir no banquinho para
cozinhar.
Desde os quatro, a garota pede a
mãe levá-la para uma aula de culinária. "Como ela não tinha idade,
fiquei enrolando e disse a ela que
com seis ela poderia ir", conta a
mãe, Karen Mancusi. No dia em
que completou a "maioridade para fazer a aula de cozinha", a menina reivindicou seu direito. E já
tem seus fãs. Entre eles, a proprietária da escola Heloísa Monteiro
da Silva: "Ela tem uma mãozinha
muito firme".
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