Em "Vale-Tudo", quadrinista traz HQs feitas na juventude, com críticas à família, à TV e ao machismo

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ele não é o mesmo de duas décadas atrás, mas isso não o impede de relembrar o momento. O quadrinista Marcio Baraldi, 39, lança no próximo sábado "Vale-Tudo - Os Quadrinhos Mais Revoltados do Mundo!", coletânea de HQs feitas no início de sua carreira.
Em comum, segundo ele, elas trazem a ingenuidade e a revolta típicas de um adolescente. A maior parte dessas histórias foi publicada de 1986 a 1989, quando o autor tinha entre 17 e 20 anos. Outras, mais recentes, também foram selecionadas, desde que estivessem no "clima rebelde" das demais.
"Essa é a visão que eu tinha quando era moleque: que a humanidade não tinha jeito", conta Baraldi. "Essas histórias são uma espécie de terapia que eu fiz e agora compartilho o resultado com o público." As HQs de "Vale-Tudo" são de um humor acusatório, uma espécie de dedo em riste que primeiro aponta, denunciando, e depois debocha. Entre outros temas, são satirizados o conceito de "família unida", a programação da TV brasileira, o machismo, o desrespeito com a natureza e até a idéia de que a humanidade evolui.
Baraldi explica esse sentimento de revolta como resultado da soma de sua personalidade com o ambiente em que viveu: "Comecei a trabalhar como cartunista aos 15 anos em um sindicato no ABC paulista", conta. "Cresci mergulhado em movimentos sociais e coloquei isso nos quadrinhos. Está tudo misturado: minha revolta juvenil e esse clima social que eu respirava 24 horas por dia."

Revolução dos bichos
Uma das maneiras que ele encontrou para criticar foi criar histórias com inversão da realidade. Em "...Vingança Total contra a Humanidade", por exemplo, os animais dominam o mundo e são os humanos que passam a ser expostos em zoológicos ou usados como matéria-prima de casacos de pele. Ao refletir sobre o livro, Baraldi diz que as HQs já traziam a semente do seu trabalho atual -hoje, ele faz histórias de humor que abordam temas como rock, rap e tatuagens.
"Achei que seria legal apresentar esse material para as pessoas que me lêem hoje, mas que não conhecem essa minha fase, que já trazia tantas características que mantenho no trabalho que faço atualmente."