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14º FESTIVAL DE CURITIBA
Criado por Luís Melo, o Ateliê de Criação Teatral estréia "Daqui a Duzentos Anos", reunião de contos e cartas do autor russo
Act experimenta fusão de textos de Tchecov
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Um noivo -"zelador" daquela
que ama- atravessa o ritual "estúpido" do enxoval até que se casa
e não sabe explicar porquê o amor
o faz tolerar a mulher que fala pelos cotovelos e é desapaixonada
dos livros, ao contrário dele.
Começa assim, sob o signo da
palavra e suas imagens, quando
tornada fala, o novo espetáculo do
Ateliê de Criação Teatral, o Act,
que o ator Luís Melo, 47, toca há
quatro anos em Curitiba.
"Daqui a Duzentos Anos" estréia hoje na Mostra Oficial do 14º
Festival de Teatro de Curitiba.
Reúne contos, cartas e excertos de
peças do russo Anton Thecov
(1860-1904).
O noivo da primeira cena pertence ao conto "O Amor". Ao lado
de "Brincadeira" e "O Caso do
Champanhe", todos traduzidos
por Marcos Davi, compõem o tripé narrativo. "Queríamos todos
enfrentar a palavra", diz o diretor
Marcio Abreu, 33, (Cia. Brasileira
de Teatro) convidado pelo Act.
Abreu opta pelo despojamento.
Espera sensibilidade na inter-relação direta do ator com a platéia,
numa invocação ancestral e contemporânea dos contadores de
história. O formato do palco é arena, circundada por arquibancadas. "O público também é personagem, reage, mas pode ser mais
reservado nas emoções. É mais
difícil, se comparado ao palco italiano [platéia frontal]", diz Melo.
Sob luz suave, com raras variações, Melo perpassa as histórias,
algumas vezes contracenando
com dois jovens atores oriundos
dos trabalhos do Act, André Coelho e Janja (ambos estavam no
primeiro espetáculo do ateliê,
"Cãocoisa e a Coisa Homem", dirigido por Aderbal Freire-Filho
(2002).
A atmosfera é corroborada pelo
acordeon e voz de Edith Camargo
(do conjunto Wandula).
Para Abreu, "Daqui a Duzentos
Anos" é um experimento, um espetáculo em movimento. Em janeiro do ano passado, formou-se
um grupo de estudos sobre Tchecov. Participavam artistas do teatro, da fotografia, das artes visuais, jornalistas etc. Os primeiros
seis meses resultaram em leituras
dramáticas, cenas curtas, um documentário (sobre o conto "A Corista") e uma exposição de fotos.
Há seis meses, consolidou-se o
núcleo atual, voltado para a criação do espetáculo. Entre as peças
citadas, estão "A Gaivota" e "Ivanov". Os três contos não foram
adaptados, diz Melo. "Não tinha
sentido. A intenção é aproximá-los dos textos das cartas, das peças. Tchecov não separava a vida
da arte", diz o ator da minissérie
"América", da Rede Globo.
As cenas de "A Duzentos Anos"
transitam lirismo, humor e críticas à sociedade e ao comportamento humano, sobretudo o
amoroso. Como no conto "Brincadeira", em que um rapaz sussurra um "eu te amo" no ouvido
da namorada, e esta tem dúvida se
ouviu a voz dele ou do vento.
Daqui a Duzentos Anos
Texto: Anton Tchecov
Direção: Marcio Abreu
Quando: hoje, às 20h30; amanhã e
dom., às 20h30
Onde: Ateliê de Criação Teatral (r. Paulo
Graesser Sobrinho, 305, São Francisco,
tel. 0/xx/ 41/338-0450)
Quanto: R$ 24
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