São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Minissérie é lançada sem "liberdades" tomadas na TV

"Os Maias" chega ao DVD sem "enxertos"

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Marco da televisão brasileira pela qualidade do texto, da produção e da "mise-en-scène", a minissérie "Os Maias", exibida pela Rede Globo em 2001, chega ao DVD expurgada de tudo aquilo que era alheio ao romance de Eça de Queirós.
Ou quase tudo. Algumas liberdades tomadas pela escritora Maria Adelaide Amaral na adaptação do texto queirosiano para a TV permaneceram na nova versão (leia texto nesta página).
Mas, de acordo com o diretor da minissérie, Luiz Fernando Carvalho, que recebeu carta-branca da Globo para fazer a nova edição, o grosso dos elementos alheios ao romance foi eliminado. Isso significa que tramas e personagens extraídos do romance "A Relíquia" e de outros livros de Eça de Queirós caíram fora.
As mais de 40 horas da minissérie foram reduzidas a quatro DVDs com a duração total de 15 horas, sem contar os "extras". A Folha teve acesso ao pacote, que deverá ser lançado na primeira semana de maio.
Para realizar esse amplo e meticuloso "enxugamento" da série, Carvalho contou com a assessoria de Beatriz Berrini, professora da PUC de São Paulo e respeitada internacionalmente como estudiosa da obra de Eça.
A professora Berrini já havia colaborado com Carvalho antes mesmo do início das gravações de "Os Maias", em 2001, quando conversou longamente com o elenco sobre o romance e sobre o mundo do autor português.
"Nunca tive um público tão atento e informado", rememora Berrini, que se declara encantada com a experiência e considera "admirável" a adaptação realizada por Maria Adelaide Amaral, apesar de discordar radicalmente de algumas alterações introduzidas na trama do romance pela escritora (leia texto ao lado).
Carvalho, por sua vez, manifesta satisfação por ter conseguido trazer "Os Maias" para mais perto do espírito e da letra do romance original. "Aquele enxerto de trechos da "Relíquia", que foi inevitável para viabilizar a minissérie, era algo que me incomodava, até porque o tom de "Os Maias" é trágico, e o da "Relíquia" é quase de farsa", diz o diretor.
Além disso, a remontagem lhe permitiu restaurar suas intenções originais. "Consegui botar muitas cenas como eu gostaria de ter feito e na época não tive tempo."
De acordo com o diretor, o trabalho de reedição o fez lembrar "da batalha que foi, na época, fazer vingar uma linguagem, um ritmo e um tratamento que saíam totalmente do padrão da televisão brasileira".
"Os Maias" foi o primeiro trabalho de Carvalho na TV depois de ter dirigido no cinema o longa-metragem "Lavoura Arcaica". "A experiência no "Lavoura" foi fundamental na realização de "Os Maias". Por incrível coincidência, além de ser adaptações de grandes obras literárias, ambas lidam com o incesto."

"A Relíquia"
Em depoimento que consta do DVD, Maria Adelaide Amaral diz que os trechos de "A Relíquia" expurgados da série "Os Maias" serão editados num DVD à parte, como uma adaptação do romance cômico de Eça.
Mas Beatriz Berrini opina que isso não será possível. "Só se gravarem cenas novas, pois falta o essencial do livro, que é o sonho do Teodorico Raposo na Terra Santa." Cauteloso, Luiz Fernando Carvalho diz que está examinando o material gravado para verificar a viabilidade de um DVD de "A Relíquia".



Texto Anterior: Crítica - Bia Abramo: Falta texto nos novos humorísticos
Próximo Texto: Estudiosa ataca alteração do romance
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.