São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 2006

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Crítica

Visual deslumbrante não compensa falhas no roteiro

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA, EM CANNES

Lançado na internet meses atrás, o primeiro trailer de "Marie-Antoinette" jogou às alturas a expectativa em torno do novo longa-metragem de Sofia Coppola. Um clipe forrado de imagens deslumbrantes de Kirsten Dunst como a última rainha da França, ao som de "Age of Consent", de New Order, sugeria uma obra de alta voltagem, fusão original e explosiva entre o histórico e o contemporâneo. Mas não foi isso o que se encontrou na primeira projeção pública do filme, ontem, em Cannes. O resultado está muitos tons abaixo do esperado -o que pode explicar a vaia que "Marie-Antoinette" levou. Aquilo que parecia tão bem condensado no trailer perdeu a força no longa. É claro que Sofia Coppola se posiciona quilômetros à frente da grande maioria dos diretores que se aventuraram pelos filmes históricos. Em nenhum momento ela pretendeu fazer uma mera reconstituição de época. A cineasta propõe uma interpretação assumida da história, na qual música e costumes (os figurinos são da genial Milena Canonero) fazem ressonância com a modernidade. Sofia filma Versalhes com o mesmo despojamento que filmou o Japão em "Encontros e Desencontros" e, apesar da beleza deslumbrante, não recai no mau gosto do filme pomposo. Entre a Maria Antonieta personagem da história e aquela da fantasia de Sofia, porém, não se forjou uma terceira convincente, de celulóide. A cineasta encara só parcialmente o que a atraiu na vida da rainha adolescente -uma espécie de solidão intrínseca da condição feminina e a dor dessa constatação na juventude.
Avaliação:   

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