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Crítica/MPB
Martinho promove belo sincretismo musical em novo CD
À vontade, sambista carioca passeia entre fox, rap e reggae
ao lado de Madeleine Peyroux, Negra Li e Toni Garrido
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
D
uas belas características que Martinho da
Vila mantém em quatro décadas de carreira se confirmam no novo CD: seus discos nunca são amontoados de
faixas, mas têm uma idéia que
as sustenta; e seu samba prega
o encontro de gêneros, jamais a
segregação.
"Martinho da Vila, do Brasil e
do Mundo" se aproxima de
"Maravilha de Cenário" (1975),
"Batuqueiro" (1986) e outros
álbuns em que o artista procurou reunir vários Brasis. E também está ligado aos recentes
"Conexões" (2003) e "Brasilatinidade" (2005), por causa da
fusão do samba com ritmos e
artistas além-fronteiras, num
esforço de fortalecimento de
sua carreira internacional.
Bons exemplos da busca de
uma síntese entre os dois caminhos são "O Amor da Gente" e
"Nossos Contrastes". A primeira é uma parceria de Martinho
com o craque do samba-de-roda Roque Ferreira e tem um
trecho rap com participação de
Negra Li. A segunda é parceria
com o mangueirense Nelson
Sargento, levada aqui em clima
reggae, num dueto com Toni
Garrido.
Mesmo um samba-canção
clássico como "Copacabana"
(Braguinha/Alberto Ribeiro)
ganha um toque internacional
ao receber contornos de fox.
O dueto com a norte-americana Madeleine Peyroux soa
um tanto postiço. "Madalena
do Jucu" -canto popular adaptado por Martinho e um de seus
grandes sucessos- tem seu andamento muito ralentado para
virar "Madeleine, I Love You" e
perde sua força.
A outra canja estrangeira é
mais interessante, pois é coerente que o argentino Fito Paez
recite a versão em espanhol da
letra de "Por Ti, América", samba-enredo com que Martinho e
Luiz Carlos da Vila perderam
na Unidos de Vila Isabel no
Carnaval de 2006 -e a escola
foi campeã com o vencedor.
A gravação é uma doce vingança do compositor, pois há
uma regra não-escrita que impede sambas derrotados em escolas de serem gravados. Mas
Martinho passa por cima disso,
assim como sempre deu a volta
em qualquer preconceito. No
CD, há tambores baianos, frevo, jongo, trocas com Cuba, Angola e Portugal, e uma convidada que anda esquecida, Eliana
Pittman. O título do disco se
justifica plenamente.
MARTINHO DA VILA, DO BRASIL
E DO MUNDO
Gravadora: MZA
Quanto: R$ 24, em média
Avaliação: bom
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