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Vibração de atores anima cerimônia
Charlotte Gainsbourg ("Anticristo') e o Christoph Waltz ("Bastardos Inglórios') levaram prêmios de melhor atuação no festival
Alain Resnais levou troféu especial; prêmio de melhor diretor dado ao filipino Brillante Mendoza causou espanto na crítica
DA ENVIADA ESPECIAL A CANNES
A cerimônia de premiação do
62º Festival de Cannes, ontem,
teve dois pontos altos: a entrega dos troféus à melhor atriz, a
francesa Charlotte Gainsbourg,
e ao melhor ator, o austríaco
Christoph Waltz. A emoção de
ambos contagiou a plateia e o
júri que os premiou.
Gainsbourg, que é filha da
atriz Jane Birkin e do músico
Serge Gainsbourg, ganhou o
prêmio por seu desempenho
em "Anticristo", de Lars Von
Trier, onde ela vive uma mulher em crise depressiva após a
morte de seu filho pequeno
num acidente doméstico do
qual se sente culpada. Recebido
a pedradas pela crítica, o filme
foi tachado de misógino.
Falando baixo e pausadamente, Charlotte Gainsbourg
disse: "Agradeço ao [diretor-geral do festival] Thierry Frémaux e ao Festival de Cannes
pela audácia de selecionar esse
filme. Divido esse prêmio com
meu diretor, que não está aqui,
mas que me permitiu viver a
mais intensa, dolorosa e magnífica experiência que tive até hoje como atriz".
Depois de dedicar o prêmio
ao marido e aos filhos, Gainsbourg despediu-se assim:
"Abraço a minha mãe, que foi
minha confidente durante as
filmagens, e penso no meu pai.
Acho que ele ficaria orgulhoso
de mim. Orgulhoso e um pouco
chocado". "Anticristo" tem cenas de tortura e automutilação.
Waltz recebeu o prêmio pelo
papel do coronel Hans Landa
em "Bastardos Inglórios", de
Quentin Tarantino. Landa é
um oficial nazista. Com inteligência aguda e extraordinária
habilidade para línguas estrangeiras, ele é expert em interceptar a fuga de judeus. Tarantino disse que desistiria do filme caso não encontrasse o ator
adequado ao papel.
Imitando seu personagem,
Waltz falou em francês, inglês e
alemão. Agradeceu ao júri por
"essa honra extraordinária, esse momento único na vida de
um ator" e a Brad Pitt, com
quem contracena no longa,
"por me deixar ser seu parceiro". Por fim, dirigiu-se a Tarantino, ausente à cerimônia:
"Quentin, você me deu minha
vocação de volta". Waltz tem
mais de 30 anos de carreira. Como disse à Folha: "É tempo suficiente para já ter sido rejeitado em muitos testes e perdido
muitos papéis importantes".
O diretor francês Jacques
Audiard, que levou o Grande
Prêmio do Júri -o segundo
troféu mais importante- pelo
drama carcerário "Un Prophète" (um profeta), disse que, de
"tão feliz", acabaria falando "só
besteiras" e afirmou que a única coisa que vinha à sua cabeça
era uma frase do filme "Entre
Dois Amores" (Sydney Pollack,
1985): "Preste atenção porque,
a partir de agora, eu vou acreditar em tudo o que você diz".
Um "prêmio excepcional" foi
dado ao cineasta francês Alain
Resnais, que concorreu com
"Les Herbes Folles" (as ervas
daninhas), 50 anos depois de
estrear em Cannes "Hiroshima
Meu Amor". De pé, o público
aplaudiu longamente.
O prêmio de melhor diretor
dado ao filipino Brillante Mendoza por "Kinatay" (esquartejar) num ano em que Alain Resnais, Marco Bellocchio e Pedro
Almodóvar competiam, causou
espanto na crítica.
O cineasta turco Nuri Bilge
Ceylan, membro do júri, afirmou: "Particularmente, gostei
muito [de "Kinatay'] e alguns
outros [membros do júri] pensam como eu".
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