São Paulo, segunda-feira, 25 de maio de 2009

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Vibração de atores anima cerimônia

Charlotte Gainsbourg ("Anticristo') e o Christoph Waltz ("Bastardos Inglórios') levaram prêmios de melhor atuação no festival

Alain Resnais levou troféu especial; prêmio de melhor diretor dado ao filipino Brillante Mendoza causou espanto na crítica

DA ENVIADA ESPECIAL A CANNES

A cerimônia de premiação do 62º Festival de Cannes, ontem, teve dois pontos altos: a entrega dos troféus à melhor atriz, a francesa Charlotte Gainsbourg, e ao melhor ator, o austríaco Christoph Waltz. A emoção de ambos contagiou a plateia e o júri que os premiou.
Gainsbourg, que é filha da atriz Jane Birkin e do músico Serge Gainsbourg, ganhou o prêmio por seu desempenho em "Anticristo", de Lars Von Trier, onde ela vive uma mulher em crise depressiva após a morte de seu filho pequeno num acidente doméstico do qual se sente culpada. Recebido a pedradas pela crítica, o filme foi tachado de misógino.
Falando baixo e pausadamente, Charlotte Gainsbourg disse: "Agradeço ao [diretor-geral do festival] Thierry Frémaux e ao Festival de Cannes pela audácia de selecionar esse filme. Divido esse prêmio com meu diretor, que não está aqui, mas que me permitiu viver a mais intensa, dolorosa e magnífica experiência que tive até hoje como atriz".
Depois de dedicar o prêmio ao marido e aos filhos, Gainsbourg despediu-se assim: "Abraço a minha mãe, que foi minha confidente durante as filmagens, e penso no meu pai. Acho que ele ficaria orgulhoso de mim. Orgulhoso e um pouco chocado". "Anticristo" tem cenas de tortura e automutilação.
Waltz recebeu o prêmio pelo papel do coronel Hans Landa em "Bastardos Inglórios", de Quentin Tarantino. Landa é um oficial nazista. Com inteligência aguda e extraordinária habilidade para línguas estrangeiras, ele é expert em interceptar a fuga de judeus. Tarantino disse que desistiria do filme caso não encontrasse o ator adequado ao papel.
Imitando seu personagem, Waltz falou em francês, inglês e alemão. Agradeceu ao júri por "essa honra extraordinária, esse momento único na vida de um ator" e a Brad Pitt, com quem contracena no longa, "por me deixar ser seu parceiro". Por fim, dirigiu-se a Tarantino, ausente à cerimônia: "Quentin, você me deu minha vocação de volta". Waltz tem mais de 30 anos de carreira. Como disse à Folha: "É tempo suficiente para já ter sido rejeitado em muitos testes e perdido muitos papéis importantes".
O diretor francês Jacques Audiard, que levou o Grande Prêmio do Júri -o segundo troféu mais importante- pelo drama carcerário "Un Prophète" (um profeta), disse que, de "tão feliz", acabaria falando "só besteiras" e afirmou que a única coisa que vinha à sua cabeça era uma frase do filme "Entre Dois Amores" (Sydney Pollack, 1985): "Preste atenção porque, a partir de agora, eu vou acreditar em tudo o que você diz".
Um "prêmio excepcional" foi dado ao cineasta francês Alain Resnais, que concorreu com "Les Herbes Folles" (as ervas daninhas), 50 anos depois de estrear em Cannes "Hiroshima Meu Amor". De pé, o público aplaudiu longamente.
O prêmio de melhor diretor dado ao filipino Brillante Mendoza por "Kinatay" (esquartejar) num ano em que Alain Resnais, Marco Bellocchio e Pedro Almodóvar competiam, causou espanto na crítica.
O cineasta turco Nuri Bilge Ceylan, membro do júri, afirmou: "Particularmente, gostei muito [de "Kinatay'] e alguns outros [membros do júri] pensam como eu".


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