São Paulo, Sexta-feira, 25 de Junho de 1999
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ARQUITETURA
Ohtake é um dos dez palestrantes escolhidos para o congresso da União Internacional de Arquitetos, em Pequim
Ruy Ohtake mostra Brasil de hoje na China

FRANCESCA ANGIOLILLO
free-lance para a Folha

Um nissei em Pequim, falando do Brasil. Não é salada russa. Ruy Ohtake, um dos nomes mais conhecidos da arquitetura contemporânea brasileira, está na capital chinesa participando do 20º Congresso da União Internacional dos Arquitetos (UIA).
O congresso da UIA é realizado a cada três anos. O tema desta edição, que vai até amanhã, é a arquitetura do século 21.
Ohtake, autor de projetos como o hotel Renaissance (97), em São Paulo, figura ao lado de outros nove conferencistas, como Jean Nouvel, arquiteto francês que projetou o Instituto do Mundo Árabe (98), em Paris, e Kenneth Frampton, crítico e historiador da arquitetura.
O arquiteto diz que acha que foi chamado porque tem dado muitas palestras, nas quais, julga, tem levantado questões polêmicas. Leia abaixo trechos de entrevista concedida à Folha antes da viagem.
 

Folha - Como o senhor vê arquiteturas regionais no contexto de um mundo globalizado?
Ruy Ohtake -
É muito importante que cultura e arquitetura regionais tenham um patamar universal, mas sem aceitar tranquilamente a globalização. A arquitetura brasileira é uma das mais peculiares do mundo e, por isso, avança em direção ao século 21.

Folha - Como as "arquiteturas regionais" podem se adaptar à globalização mantendo suas peculiaridades?
Ohtake -
O desafio é sair do puro regionalismo, que é restrito. Por exemplo, se o tango argentino tivesse mais Astor Piazzollas teria saído muito mais da Argentina, como a música brasileira conseguiu com Tom Jobim, João Gilberto... Não é coincidência. A cultura contemporânea brasileira é muito forte, desde os anos 50, culminando com a construção de Brasília.

Folha - Como o senhor vê a relação entre o projeto de edifícios e a escala urbana das metrópoles?
Ohtake -
É necessário que as obras cumpram mais que sua finalidade específica, como o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, cuja afluência pública tem sido acima das expectativas. Muitos visitantes não conhecem nem o Portinari, mas o prédio atrai.

Folha - Falando de edifícios que modificam a cidade à sua volta, como o senhor vê a construção, no centro de São Paulo do edifício mais alto do mundo (São Paulo Tower, com 494 metros de altura)?
Ohtake -
Vai ser uma "sacudida boa". Pode ser que, realmente, revitalize o centro.

Folha - Mas ele não deve sobrecarregar a região?
Ohtake -
Há que se considerar que vai reunir cerca de 50 mil pessoas num só lugar. Mas, no Brasil, a infra-estrutura vem "a reboque". Então o edifício é um modo - não planejado, infelizmente- de romper com a forma de ocupação do centro. É como funciona em países como o nosso. O dinheiro vai para onde mais precisa na hora.

Folha - Que projetos o senhor tem hoje em andamento?
Ohtake -
Projetos que buscam fazer arquitetura brasileira contemporânea sem cair no regionalismo. Estou fazendo um centro comunitário para filhos de pescadores, no litoral paulista, onde uso sapé, um pouco de tijolo, mas com linhas atuais. Há uma escola para ensino convencional e de atividades manuais. Terá também um pomar e uma horta, para que se auto-sustente. Vou mostrá-lo como exemplo de "arquitetura social".


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