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ARQUITETURA
Ohtake é um dos dez palestrantes escolhidos para o congresso da União Internacional de Arquitetos, em Pequim
Ruy Ohtake mostra Brasil de hoje na China
FRANCESCA ANGIOLILLO
free-lance para a Folha
Um nissei em Pequim, falando
do Brasil. Não é salada russa. Ruy
Ohtake, um dos nomes mais conhecidos da arquitetura contemporânea brasileira, está na capital
chinesa participando do 20º Congresso da União Internacional dos
Arquitetos (UIA).
O congresso da UIA é realizado a
cada três anos. O tema desta edição, que vai até amanhã, é a arquitetura do século 21.
Ohtake, autor de projetos como
o hotel Renaissance (97), em São
Paulo, figura ao lado de outros nove conferencistas, como Jean Nouvel, arquiteto francês que projetou
o Instituto do Mundo Árabe (98),
em Paris, e Kenneth Frampton,
crítico e historiador da arquitetura.
O arquiteto diz que acha que foi
chamado porque tem dado muitas
palestras, nas quais, julga, tem levantado questões polêmicas. Leia
abaixo trechos de entrevista concedida à Folha antes da viagem.
Folha - Como o senhor vê arquiteturas regionais no contexto de
um mundo globalizado?
Ruy Ohtake - É muito importante
que cultura e arquitetura regionais
tenham um patamar universal,
mas sem aceitar tranquilamente a
globalização. A arquitetura brasileira é uma das mais peculiares do
mundo e, por isso, avança em direção ao século 21.
Folha - Como as "arquiteturas regionais" podem se adaptar à globalização mantendo suas peculiaridades?
Ohtake - O desafio é sair do puro
regionalismo, que é restrito. Por
exemplo, se o tango argentino tivesse mais Astor Piazzollas teria
saído muito mais da Argentina,
como a música brasileira conseguiu com Tom Jobim, João Gilberto... Não é coincidência. A cultura
contemporânea brasileira é muito
forte, desde os anos 50, culminando com a construção de Brasília.
Folha - Como o senhor vê a relação entre o projeto de edifícios e a
escala urbana das metrópoles?
Ohtake - É necessário que as
obras cumpram mais que sua finalidade específica, como o Museu
de Arte Contemporânea de Niterói, cuja afluência pública tem sido
acima das expectativas. Muitos visitantes não conhecem nem o Portinari, mas o prédio atrai.
Folha - Falando de edifícios que
modificam a cidade à sua volta, como o senhor vê a construção, no
centro de São Paulo do edifício
mais alto do mundo (São Paulo Tower, com 494 metros de altura)?
Ohtake - Vai ser uma "sacudida
boa". Pode ser que, realmente, revitalize o centro.
Folha - Mas ele não deve sobrecarregar a região?
Ohtake - Há que se considerar
que vai reunir cerca de 50 mil pessoas num só lugar. Mas, no Brasil,
a infra-estrutura vem "a reboque".
Então o edifício é um modo - não
planejado, infelizmente- de romper com a forma de ocupação do
centro. É como funciona em países
como o nosso. O dinheiro vai para
onde mais precisa na hora.
Folha - Que projetos o senhor
tem hoje em andamento?
Ohtake - Projetos que buscam fazer arquitetura brasileira contemporânea sem cair no regionalismo.
Estou fazendo um centro comunitário para filhos de pescadores, no
litoral paulista, onde uso sapé, um
pouco de tijolo, mas com linhas
atuais. Há uma escola para ensino
convencional e de atividades manuais. Terá também um pomar e
uma horta, para que se auto-sustente. Vou mostrá-lo como exemplo de "arquitetura social".
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