São Paulo, quarta-feira, 25 de julho de 2007

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"Sex Pistols são punks de karaokê", diz empresário

McLaren, que pretende montar musical na Broadway, diz que banda hoje é "farsa" e "parte do que queriam destruir'

Artista britânico afirma que "a indústria musical está morrendo e a moda foi explorada a ponto de ficar saturada e corporativa"

Divulgação
A estilista Vivienne Westwood e Malcolm McLaren, então um casal, em sua loja Let It Rock

DA REPORTAGEM LOCAL

Leia a continuação da entrevista com Malcolm McLaren. (MARCO AURÉLIO CANÔNICO)

 

FOLHA - O que o sr. achou da volta dos Sex Pistols, em 1996 (numa turnê que passou pelo Brasil)?
MALCOLM MCLAREN
- Não tive interesse, no que me concerne eles são punks de karaokê, estão estragando tudo que já fizemos. John Lydon disse recentemente à TV britânica que [o polêmico hit dos Pistols] "God Save the Queen" era um lixo. Eles só queriam explorar o que fizemos, e que era sincero, para lucrar. Tornaram-se parte do que queríamos destruir quando começamos, são uma farsa.

FOLHA - Como foi sua experiência em Paris, na década de 90?
MCLAREN
- Na época eu trabalhava com Steven Spielberg em Hollywood, me aborrecendo com as dificuldades do mundo do cinema, e me apaixonei por uma espanhola, com quem fui morar em Paris -o que foi ótimo, porque, se há uma coisa que os franceses amam, é qualquer pessoa que os ingleses odeiem. A espanhola, então minha noiva, sugeriu que eu fizesse um disco sobre a cidade, algo que interessaria às gravadoras francesas. Fechei um excelente contrato com o selo Vogue, mas deveria envolver no projeto pelo menos três divas francesas que cantassem comigo. Consegui convencer Catherine Deneuve, Françoise Hardy e Jeanne Moreau, que teve uma crise alcoólica na época e teve de ser internada e substituída por uma jovem africana em ascensão, Amina. O resultado disco foi o disco "Paris" [1994].

FOLHA - Em um artigo recente, o sr. argumentou que o atual cenário cultural é ainda pior do que o que deu origem ao punk.
MCLAREN
- Vivemos em um mundo de karaokê. A conexão das pessoas com a terra e a cultura está desaparecendo rapidamente, substituída pelo mundo globalizado, que algumas pessoas achavam que era o futuro. As corporações estão dominando o planeta e fazendo um péssimo trabalho. A indústria musical está morrendo, a moda foi explorada a ponto de ficar saturada e corporativa. Em termos políticos, a base das sociedades foi destruída, o que gera as guerras que vemos hoje, a descrença em tudo. Nos anos 70, ainda era possível encontrar pessoas e temas que não estavam à venda, mas hoje tudo virou commodity, produto.

FOLHA - O que abre espaço para outra mudança radical, não?
MCLAREN
- Sem dúvida, e já vemos isso emergindo, mas será uma emergência violenta, como geralmente tem de ser para atrair a atenção do público e combater a ganância corporativa. É um mundo difícil de navegar, mas a internet dá possibilidades às alternativas radicais, permite a disseminação de informação de modo inédito. Estamos ficando cada vez mais sofisticados no trato com a notícia, conscientes sobre manipulações. Se podemos fazer algo construtivo para mudar isso, não cabe a mim dizer, mas é fato que as frentes de batalha estão sendo armadas e que o mundo vai se tornar um lugar mais violento por causa disso.

FOLHA - O sr. tem projetos atuais?
MCLAREN
- Estou completamente entregue a um musical que pretendo montar na Broadway, já tenho alguns produtores importantes me apoiando. Ele vai ser sobre tudo que eu conheço, música e moda, mas jurei não comentar nada sobre ele ainda.


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