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"Sex Pistols são punks de karaokê", diz empresário
McLaren, que pretende montar musical na Broadway, diz
que banda hoje é "farsa" e "parte do que queriam destruir'
Artista britânico afirma que
"a indústria musical está
morrendo e a moda foi
explorada a ponto de ficar
saturada e corporativa"
Divulgação
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A estilista Vivienne Westwood e Malcolm McLaren, então um casal, em sua loja Let It Rock
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia a continuação da entrevista com Malcolm McLaren.
(MARCO AURÉLIO CANÔNICO)
FOLHA - O que o sr. achou da volta
dos Sex Pistols, em 1996 (numa turnê que passou pelo Brasil)?
MALCOLM MCLAREN - Não tive interesse, no que me concerne
eles são punks de karaokê, estão estragando tudo que já fizemos. John Lydon disse recentemente à TV britânica que [o
polêmico hit dos Pistols] "God
Save the Queen" era um lixo.
Eles só queriam explorar o que
fizemos, e que era sincero, para
lucrar. Tornaram-se parte do
que queríamos destruir quando começamos, são uma farsa.
FOLHA - Como foi sua experiência
em Paris, na década de 90?
MCLAREN - Na época eu trabalhava com Steven Spielberg em
Hollywood, me aborrecendo
com as dificuldades do mundo
do cinema, e me apaixonei por
uma espanhola, com quem fui
morar em Paris -o que foi ótimo, porque, se há uma coisa
que os franceses amam, é qualquer pessoa que os ingleses
odeiem. A espanhola, então minha noiva, sugeriu que eu fizesse um disco sobre a cidade, algo
que interessaria às gravadoras
francesas. Fechei um excelente
contrato com o selo Vogue, mas
deveria envolver no projeto pelo menos três divas francesas
que cantassem comigo. Consegui convencer Catherine
Deneuve, Françoise Hardy e
Jeanne Moreau, que teve uma
crise alcoólica na época e teve
de ser internada e substituída
por uma jovem africana em ascensão, Amina. O resultado disco foi o disco "Paris" [1994].
FOLHA - Em um artigo recente, o sr.
argumentou que o atual cenário cultural é ainda pior do que o que deu
origem ao punk.
MCLAREN - Vivemos em um
mundo de karaokê. A conexão
das pessoas com a terra e a cultura está desaparecendo rapidamente, substituída pelo
mundo globalizado, que algumas pessoas achavam que era o
futuro. As corporações estão
dominando o planeta e fazendo
um péssimo trabalho. A indústria musical está morrendo, a
moda foi explorada a ponto de
ficar saturada e corporativa.
Em termos políticos, a base das
sociedades foi destruída, o que
gera as guerras que vemos hoje,
a descrença em tudo. Nos anos
70, ainda era possível encontrar pessoas e temas que não
estavam à venda, mas hoje tudo
virou commodity, produto.
FOLHA - O que abre espaço para
outra mudança radical, não?
MCLAREN - Sem dúvida, e já vemos isso emergindo, mas será
uma emergência violenta, como geralmente tem de ser para
atrair a atenção do público e
combater a ganância corporativa. É um mundo difícil de navegar, mas a internet dá possibilidades às alternativas radicais,
permite a disseminação de informação de modo inédito. Estamos ficando cada vez mais
sofisticados no trato com a notícia, conscientes sobre manipulações. Se podemos fazer algo construtivo para mudar isso,
não cabe a mim dizer, mas é fato que as frentes de batalha estão sendo armadas e que o
mundo vai se tornar um lugar
mais violento por causa disso.
FOLHA - O sr. tem projetos atuais?
MCLAREN - Estou completamente entregue a um musical
que pretendo montar na
Broadway, já tenho alguns produtores importantes me
apoiando. Ele vai ser sobre tudo
que eu conheço, música e moda, mas jurei não comentar nada sobre ele ainda.
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