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VANESSA VÊ TV
VANESSA BARBARA - vanessa.barbara@uol.com.br
Um beijo para os meus familiares
ESPREMER-SE com um grupo de
amigos a fim de caber no enquadramento e sorrir para a máquina fotográfica está entre as práticas mais
degradantes do ser humano. Não há
páreo para as pochetes, o telemarketing, as excursões a Porto Seguro,
a podologia com ênfase em micoses,
o vestido balonê.
Pior que isso, só os agrupamentos
formados em torno de um repórter e
uma câmera de TV, em geral na avenida Paulista. É quando o indivíduo
perde de vez a noção do ridículo, decidindo que vai fazer "poropopó"
vestido de esquilo durante uma passeata em comemoração ao Dia
Mundial da Vergonha Alheia.
"O repórter Fulano de Tal está
com a colônia alemã em Blumenau.
É com você, Fulano", anuncia o
apresentador no intervalo de uma
partida da Copa, e corta para um
correspondente tentando encaixar
o ponto eletrônico na orelha.
Em questão de segundos, ele dá a
deixa para a galera (entre eles, o
homem vestido de esquilo), e o que
era até então um bate-papo entre
cinco senhores pacatos vira uma
balbúrdia concentrada diante da
tela. Ao que tudo indica, é o momento mais empolgante da vida daqueles alemães -todos tocando fole e
com vestes típicas.
É ainda mais triste quando o
evento só existe em função das
emissoras ali presentes. Alguns câmeras de TV costumam liderar marchas de protesto e dirigem as massas, solicitando que parem, voltem,
façam tudo de novo. "Estamos ao
vivo", ele informa, e os populares
fazem a festa, com os "urrús" de
praxe. "Corta", ele diz, e todos vão
pra casa cuidar de seus afazeres.
Os closes na gente simples do povo, no popular exaltado e na viúva
inconsolável deviam ser proibidos
por lei. A gracinha final da repórter
de tailleur afetando intimidade com
o entrevistado podia muito bem dar
cadeia, sem direito a sol no pátio.
Gente que acena para as câmeras, olhando de esguelha para ver
se a gravação já acabou: três meses
de trabalhos forçados. Dançarinas
sorrindo e rebolando com vistas a
se destacar das demais: Sibéria nelas. Populares indignados querendo
aparecer: extração dentária com
chave de grifo.
Quanto aos repórteres, a única
punição suficientemente rigorosa é
o voto de silêncio.
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