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Crítica/cinema/"Brasileirinho"
Ótima música supera imagens para turista ver
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
O início de "Brasileirinho", segundo filme
rodado aqui pelo fin-landês Mika Kaurismäki, assusta: belas imagens de cartões-postais do Rio, uma narração tatibitate... Parece que vem
um filme de gringo para gringo
ver. Mas o documentário se salva quando deixa que fale por si
o que interessa: a música. Mais
exatamente, o choro.
Se em "Moro no Brasil"
(2002) Kaurismäki abordou a
rica diversidade musical do
país, em "Brasileirinho" (em
cartaz na cidade), filmado em
2004, ele fechou a câmera no
choro, gênero com armas eficientes para seduzir um espectador estrangeiro de bom gosto: menos conhecido do que o
samba; campo de instrumentistas virtuosísticos; nascido
em quintais e salões cariocas
como nova forma de interpretação de músicas européias como a valsa e a polca, entre outras fontes.
Tendo esse espectador estrangeiro na mira, não chega a
surpreender que o documentário só agora ganhe distribuição
comercial no Brasil -embora
parte da produção tenha sido
custeada pelo BNDES. Surpreende até mais que o filme
exale frescor mesmo para
quem não é neófito em choro.
Isto é possível, em primeiro
lugar, porque a narrativa sacrifica o didatismo em nome da
música sendo tocada. Ninguém
sairá do cinema sabendo como
Pixinguinha criava seus contrapontos, mas dificilmente
não se comoverá com Zezé
Gonzaga cantando "Senhorinha" acompanhada pelo autor
da melodia, Guinga. Ou não será alegrado pelo suingue do
trombonista Zé da Velha e do
trompetista Silvério Pontes.
Em segundo lugar, Kaurismäki se vale das histórias de alguns personagens para montar
um breve panorama do choro.
Com Jorginho do Pandeiro e
Ronaldo do Bandolim, mostra
os núcleos familiares que são
fundamentais no gênero. Com
Joel Nascimento, mostra o lado
amador -ele se aposentou como operador de raio-X- e como o bandolim o salvou da
frustração de, por causa de uma
deficiência auditiva, não ter se
tornado um pianista clássico. E
com Yamandú Costa e outros
jovens, a renovação em curso.
É pena que, mesmo assim, o
diretor tenha forjado cenas como o encontro casual entre Yamandú e Marcello Gonçal numa manicure ou a macumba-para-turista que é o número
musical em frente ao Real Gabinete Português de Leitura.
"Brasileirinho" é, sobretudo,
um filme para se ouvir.
BRASILEIRINHO - GRANDES ENCONTROS DO CHORO
Produção: Brasil/ Suíça/ Finlândia,
2007
Direção: Mika Kaurismäki
Com: Paulo Moura, Yamandú Costa
Onde: em cartaz no Unibanco Arteplex
Avaliação: bom
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