São Paulo, sábado, 25 de agosto de 2007

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Crítica/cinema/"Brasileirinho"

Ótima música supera imagens para turista ver

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

O início de "Brasileirinho", segundo filme rodado aqui pelo fin-landês Mika Kaurismäki, assusta: belas imagens de cartões-postais do Rio, uma narração tatibitate... Parece que vem um filme de gringo para gringo ver. Mas o documentário se salva quando deixa que fale por si o que interessa: a música. Mais exatamente, o choro.
Se em "Moro no Brasil" (2002) Kaurismäki abordou a rica diversidade musical do país, em "Brasileirinho" (em cartaz na cidade), filmado em 2004, ele fechou a câmera no choro, gênero com armas eficientes para seduzir um espectador estrangeiro de bom gosto: menos conhecido do que o samba; campo de instrumentistas virtuosísticos; nascido em quintais e salões cariocas como nova forma de interpretação de músicas européias como a valsa e a polca, entre outras fontes.
Tendo esse espectador estrangeiro na mira, não chega a surpreender que o documentário só agora ganhe distribuição comercial no Brasil -embora parte da produção tenha sido custeada pelo BNDES. Surpreende até mais que o filme exale frescor mesmo para quem não é neófito em choro.
Isto é possível, em primeiro lugar, porque a narrativa sacrifica o didatismo em nome da música sendo tocada. Ninguém sairá do cinema sabendo como Pixinguinha criava seus contrapontos, mas dificilmente não se comoverá com Zezé Gonzaga cantando "Senhorinha" acompanhada pelo autor da melodia, Guinga. Ou não será alegrado pelo suingue do trombonista Zé da Velha e do trompetista Silvério Pontes.
Em segundo lugar, Kaurismäki se vale das histórias de alguns personagens para montar um breve panorama do choro. Com Jorginho do Pandeiro e Ronaldo do Bandolim, mostra os núcleos familiares que são fundamentais no gênero. Com Joel Nascimento, mostra o lado amador -ele se aposentou como operador de raio-X- e como o bandolim o salvou da frustração de, por causa de uma deficiência auditiva, não ter se tornado um pianista clássico. E com Yamandú Costa e outros jovens, a renovação em curso.
É pena que, mesmo assim, o diretor tenha forjado cenas como o encontro casual entre Yamandú e Marcello Gonçal numa manicure ou a macumba-para-turista que é o número musical em frente ao Real Gabinete Português de Leitura. "Brasileirinho" é, sobretudo, um filme para se ouvir.


BRASILEIRINHO - GRANDES ENCONTROS DO CHORO
Produção:
Brasil/ Suíça/ Finlândia, 2007
Direção: Mika Kaurismäki
Com: Paulo Moura, Yamandú Costa
Onde: em cartaz no Unibanco Arteplex
Avaliação: bom


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