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MÚSICA
Aos 67, músico baiano lança simultaneamente CD inédito, DVD com show de 2000 e livro "Tropicalista Lenta Luta"
Tom Zé colhe safra recorde em 2003
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
É tempo de safra recorde para
Tom Zé. Aos 67 anos, o músico
baiano radicado em São Paulo
apresenta ao mesmo tempo três
trabalhos distintos feitos em suportes diferentes.
Em CD sai "Imprensa Cantada
2003", em que ele coleta, sob produção do jovem Jair Oliveira, músicas suas que já existiam, mas
permaneciam inéditas em álbum.
O DVD concomitante não se refere a "Imprensa Cantada 2003",
mas ao show do disco anterior,
"Jogos de Armar" -é a primeira
reprodução digital com imagem
de uma apresentação ao vivo do
artista co-fundador da tropicália.
Por fim, Tom Zé investe parcialmente na veia de escritor e lança
"Tropicalista Lenta Luta", pela
Publifolha.
O livro reúne um texto rememorativo inédito do autor, letras
de músicas e escritos seus que saíram anteriormente em diversos
veículos de imprensa e arte. Uma
entrevista conduzida pelo músico
Luiz Tatit e pelo editor da Publifolha, Arthur Nestrovski, arremata
o material.
Um dos pontos de partida do
instante triplo é o fato de o anterior "Jogos de Armar" (2000) haver sido "veladamente censurado
pela hipocrisia da classe média",
segundo palavras do artista no
encarte de "Imprensa Cantada".
Tom Zé atribui a suposta censura velada aos palavrões e à abordagem da prostituição infantil como temas de "Jogos de Armar".
"A apresentação da música "Chamegá" na TV era meio constrangedora. As rádios de que sou frequentador deixaram de me procurar naquele ano", descreve.
Censura virou, então, um dos
temas centrais de "Imprensa Cantada", a exemplo de "Sem Saia,
sem Cera, Censura" e de "Requerimento à Censura", composição
de 75 que ele agora revalida.
Diz que quer falar, também, do
que chama "censura externa".
"Conversando com amigos como
David Byrne e Sean Lennon, eles
me contaram da censura da Guerra do Iraque, disseram como se
sentiam amordaçados", diz.
A Guerra do Iraque é, aliás, outro tema recorrente no disco, como em "Companheiro Bush" e
"Urgente, pela Paz". "Os filmes de
Hollywood são uma escola de crime", completa, seguindo linha
aparentemente anti-americana.
As críticas à política norte-americana não se estendem, neste
momento, à brasileira. "Digo que
agora sou vidraça, não jogo mais
pedra. Torço pelo governo, torço
por Gilberto Gil, não quero nenhum favor."
Em "Tropicalista Lenta Luta",
predominam as reminiscências
da infância e juventude interioranas em Irará, mas também outras
sobre o levante tropicalista, as prisões de Caetano Veloso e Gilberto
Gil em 68 etc.
Tom Zé discorre sobre episódios menos conhecidos, como
suas próprias prisões no início
dos anos 70, uma vez por questões políticas, outra porque encontraram maconha em sua casa.
E conta sobre a chamada "corrente de santo Antônio": um indivíduo preso por porte de droga
não seria libertado enquanto não
citasse o nome de alguma outra
pessoa que também usasse, estabelecendo assim uma corrente de
delações que alimentaria a atividade policial.
"Até desconfio de quem tenha
citado meu nome, uma pessoa de
nossa convivência. Teve de fazer,
era assim mesmo", sorri.
"Meu maior medo era ter que
fazer o mesmo, mas providenciei
minha sorte e minha salvação respondendo como se fosse um louco de asilo", conta. E arremata:
"Louco é louco, quem é que vai
mexer com louco?".
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