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São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2003

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MÚSICA

Aos 67, músico baiano lança simultaneamente CD inédito, DVD com show de 2000 e livro "Tropicalista Lenta Luta"

Tom Zé colhe safra recorde em 2003

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

É tempo de safra recorde para Tom Zé. Aos 67 anos, o músico baiano radicado em São Paulo apresenta ao mesmo tempo três trabalhos distintos feitos em suportes diferentes.
Em CD sai "Imprensa Cantada 2003", em que ele coleta, sob produção do jovem Jair Oliveira, músicas suas que já existiam, mas permaneciam inéditas em álbum.
O DVD concomitante não se refere a "Imprensa Cantada 2003", mas ao show do disco anterior, "Jogos de Armar" -é a primeira reprodução digital com imagem de uma apresentação ao vivo do artista co-fundador da tropicália.
Por fim, Tom Zé investe parcialmente na veia de escritor e lança "Tropicalista Lenta Luta", pela Publifolha.
O livro reúne um texto rememorativo inédito do autor, letras de músicas e escritos seus que saíram anteriormente em diversos veículos de imprensa e arte. Uma entrevista conduzida pelo músico Luiz Tatit e pelo editor da Publifolha, Arthur Nestrovski, arremata o material.
Um dos pontos de partida do instante triplo é o fato de o anterior "Jogos de Armar" (2000) haver sido "veladamente censurado pela hipocrisia da classe média", segundo palavras do artista no encarte de "Imprensa Cantada".
Tom Zé atribui a suposta censura velada aos palavrões e à abordagem da prostituição infantil como temas de "Jogos de Armar". "A apresentação da música "Chamegá" na TV era meio constrangedora. As rádios de que sou frequentador deixaram de me procurar naquele ano", descreve.
Censura virou, então, um dos temas centrais de "Imprensa Cantada", a exemplo de "Sem Saia, sem Cera, Censura" e de "Requerimento à Censura", composição de 75 que ele agora revalida.
Diz que quer falar, também, do que chama "censura externa". "Conversando com amigos como David Byrne e Sean Lennon, eles me contaram da censura da Guerra do Iraque, disseram como se sentiam amordaçados", diz.
A Guerra do Iraque é, aliás, outro tema recorrente no disco, como em "Companheiro Bush" e "Urgente, pela Paz". "Os filmes de Hollywood são uma escola de crime", completa, seguindo linha aparentemente anti-americana.
As críticas à política norte-americana não se estendem, neste momento, à brasileira. "Digo que agora sou vidraça, não jogo mais pedra. Torço pelo governo, torço por Gilberto Gil, não quero nenhum favor."
Em "Tropicalista Lenta Luta", predominam as reminiscências da infância e juventude interioranas em Irará, mas também outras sobre o levante tropicalista, as prisões de Caetano Veloso e Gilberto Gil em 68 etc.
Tom Zé discorre sobre episódios menos conhecidos, como suas próprias prisões no início dos anos 70, uma vez por questões políticas, outra porque encontraram maconha em sua casa.
E conta sobre a chamada "corrente de santo Antônio": um indivíduo preso por porte de droga não seria libertado enquanto não citasse o nome de alguma outra pessoa que também usasse, estabelecendo assim uma corrente de delações que alimentaria a atividade policial.
"Até desconfio de quem tenha citado meu nome, uma pessoa de nossa convivência. Teve de fazer, era assim mesmo", sorri.
"Meu maior medo era ter que fazer o mesmo, mas providenciei minha sorte e minha salvação respondendo como se fosse um louco de asilo", conta. E arremata: "Louco é louco, quem é que vai mexer com louco?".


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