|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA/CRÍTICA
Músico apresenta show "Reactivus Amor Est (turba Philosophorum)" para casa hiperlotada em São Paulo
Jorge Ben Jor comanda festa pagã para jovens
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
De volta a um grande palco paulistano após vários anos, Jorge
Ben Jor, 62, confirmou na sexta-feira a permanência de um fenômeno que já dura 41 anos e não
encontra paralelos dentro da música popular de seu país.
Mesmo sem gozar de destaque
privilegiado no circuitão de gravadoras, TVs e rádios nacionais,
Ben Jor hiperlotou o DirecTV
Music Hall, com direito a gente
sem ingresso, quase-tumulto na
entrada e ondas de frisson durante maior parte do longo show.
Um detalhe o separa de seus pares que também primam por extremo profissionalismo em cima
do palco: a platéia de Ben Jor é
majoritariamente formada por
jovens. Tal detalhe explicitou o erro da casa de shows, de confinar a
garotada no fundo da platéia, enquanto outros nem tão jovens se
contorciam mais à frente para
dançar apesar das mesas e cadeiras. Como todo mundo sabe, Ben
Jor é de pista, não é de mesa.
Entre poucas músicas do novo e
revigorante álbum "Reactivus
Amor Est (Turba Philosophorum)", o cantor, compositor e
guitarrista carioca demonstra que
não está na novidade o poder de
seu mito. Sua big band de soul,
funk, blues, reggae e samba é o
mais poderoso remanescente de
culto dionisíaco no pop moderno
brasileiro -não à toa, Jorge, comumente arredio a interpretar
outros autores, cantou nessa noite
"Do Leme ao Pontal", de Tim
Maia (1942-98), o cara que lhe ensinou metade de tudo o que ele sabe sobre palco e fusão de ritmos
negros brasileiros, africanos, latino-americanos e norte-americanos.
O segredo é simples e mora em
Dionísio. A música de Ben Jor é
pagã, profana, bole com divindades que não transam com a culpa
religiosa e suas conseqüências.
Louva a coexistência pacífica e
complementar entre o feminino e
o masculino, seja nos modos da
carne viva (como no samba de
brejo "Menina Mulher da Pele
Preta", de 74) ou da divindade
profanada (como no rito masculino "Jorge de Capadócia", de 75).
Em termos mais diretos, fala de
sexo, e não vem de outro lugar o
segredo da permanência do fenômeno: mesmo quando não esconde suas tristezas, Ben Jor é líder
incontestável da corrente antidepressiva da música brasileira.
Sua arte grande só existe em plenitude quando e onde se desmanchem preconceitos de elaboração
intelectual e cultos morais à melancolia, penitência, depressão.
O palco tem sido esse lugar,
quando se encontram o grão-mestre e discípulos dispostos a espantar demônios cristãos, a encontrar anjos pagãos como os que
fazem "flap, flap, flap, fly, fly" em
"Gabriel, Rafael, Miguel", festim
da safra 2004 de Jorge Ben Jor.
Avaliação:
Texto Anterior: Evento: "Diálogos Impertinentes" debate o direito Próximo Texto: Nelson Ascher: Sobre tiros e culatras Índice
|