São Paulo, domingo, 25 de outubro de 2009

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Gigantes na tela

Grandes estrelas do esporte e da confusão são temas de filmes da Mostra de SP; Mike Tyson e Maradona estão em documentários e Cantona interpreta a si mesmo em ficção

Jeff Haynes/Associated Press
O boxeador americano Mike Tyson, 43, tema do
documentário de James Toback


EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

De forma inconsciente, a filmagem de ""Tyson" funcionou como uma forma de psicanálise para aquele que já foi o terror dos ringues (e, pensando bem, fora deles também) conhecido pelo apelido de "Iron" Mike.
A conclusão é do "doutor", ou melhor, do diretor do filme, o americano James Toback.
""[A filmagem] foi como uma elaborada sessão de psicanálise na qual todas as complexas vozes, memórias e impulsos brigavam por atenção e supremacia", diz Toback em entrevista à Folha. ""Mike foi finalmente capaz de deixá-los saírem."
O resultado foram desabafos, muito choro e uma mensagem de que ""ei, sou um cara legal".
Toback explica a sua técnica: mostrava a Tyson, sem alertar a que ele assistiria, cenas de sua história e pedia que ele falasse o que lhe ocorresse.
"Assim como um psicanalista, abri a porta para que todas as vozes que ele tinha na cabeça saíssem. Sua mente vagou liberta. Em uma sessão com o psiquiatra ou com o psicólogo, discutem-se coisas. Mas eu fui mais um provocador."
Tyson encarou episódios humilhantes, como a prisão pelo estupro de Desiree Washington, o "talk show" no qual sua então mulher, Robin Givens, o acusou de ser maníaco-depressivo e a famigerada luta na qual tirou, a dentadas, um naco da orelha de Evander Holyfield.
"Sabia que, se expusesse Mike a essas situações, mas da forma correta, ele cooperaria."
Apesar de ser formado por Harvard e ser branco, dois ingredientes que geralmente tornariam Tyson arredio, Toback escondia um ás na manga.
O diretor se vangloria de conhecer Tyson há 25 anos -quando o pugilista visitou o set de "O Rei da Paquera". Como Tyson, ele se autodefine como "um homem de extremos".
"Temos longa história de intimidade e cumplicidade. Tínhamos em comum manias semelhantes, estávamos abertos e sem inibições para dividir nossas vozes e obsessões."
Uma delas é pelos extremos -altos e baixos.
Ao ser questionado sobre que espécie de limites vivenciou para ter conquistado a confiança de Tyson, Toback contou que, aos 19 anos, consumiu tanto LSD que "ficou louco por mais de uma semana".
Apesar do convívio, o resultado surpreendeu até o diretor. "Não esperava que ele chorasse tanto. Acho que foi resultado de um desejo inconsciente", diz o dublê de psicanalista.
"[O filme] foi a oportunidade de deixar um registro sobre quem ele é, em suas palavras."
O único momento em que Tyson sorriu foi quando falou dos filhos. Mas qual foi sua reação após a morte de Exodus, 4, neste ano, vítima de um acidente doméstico e após a produção do filme?
"Mike me disse que não tentou descobrir mais sobre o incidente. Se descobrisse que sua filha morrera porque alguém fez algo que não deveria, seria capaz de fazer algo com consequências trágicas", afirma.
"Foi uma das vezes em que mostrou maturidade em vez de agir por impulso, como geralmente faria", finaliza ele.


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