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"MAO"
Biografia mostra queda de líder pela "desordem"
JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA
O inglês Jonathan Spence, o
mais festejado pesquisador
da história da China nos dias de
hoje, sentencia no prefácio de sua
biografia do líder da revolução
chinesa: "Cheguei à conclusão de
que a enigmática arena em que
Mao mais parecia sentir-se à vontade era o oposto da ordem, era o
mundo da desordem".
Palavras sábias que aparecem
na obra escrita por Spence para a
coleção Breves Biografias, da editora Objetiva. Mao Tse-tung não
vendia a idéia trotskista da "revolução permanente", mas seu reinado foi uma ininterrupta sucessão de turbulências, em contraste
visível, por exemplo, com o que
ocorria na vizinha União Soviética. O regime de Leonid Brejnev
(1964-1982) entrou para a história
como o período da "zastoi", termo russo para descrever a estagnação.
"O terrível feito de Mao foi pegar (...) intuições de filósofos chineses anteriores, combiná-las
com elementos extraídos do pensamento socialista ocidental e encadeá-las para prolongar o limitado conceito de desordem numa
demorada aventura de rebelião",
escreve Spence.
Mao imperou da chegada dos
comunistas ao poder, em 1949, até
sua morte, em 1976. Promoveu
terremotos que deixaram marcas
indeléveis na história da China,
como o Grande Salto para a Frente e a Revolução Cultural. Foram
aventuras com exagerados custos
humanos.
Em o Grande Salto para Frente,
Mao pretendeu, ao final do da década de 50, acelerar a industrialização do país. Forçou camponeses a improvisarem siderúrgicas
toscas e a se juntarem em gigantescas comunas agrícolas. O experimento maoísta levou mais desorganização à economia e provocou ondas de fome e milhões de
mortes.
Na Revolução Cultural, Mao
Tse-tung defendeu o aprofundamento das teses revolucionárias e
prometeu varrer da China "vestígios dos regimes burguês e feudal" e atacar os "quatro velhos"
elementos da sociedade chinesa:
velhos costumes, velhos hábitos,
velha cultura e velho pensamento.
Sob o guarda-chuva do maoísmo,
Pequim promoveu perseguição a
intelectuais e até a dirigentes do
Partido Comunista, acusados de
"inclinações direitistas".
Essa nova onda maoísta de desordem organizou jovens chineses em hordas conhecidas como
as dos "guardas vermelhos".
Brandindo o livro vermelho de
Mao, esses grupos cruzavam o
país em busca de "contra-revolucionários" e chegaram mesmo a
se enfrentar em confrontos armados, mergulhando a China ainda
mais num cenário caótico.
Na biografia, Spence afirma que
"o número de vítimas da descoordenada violência da Revolução
Cultural é incalculável, mas foram
vários milhões". Além do custo
humano, a avalanche maoísta representou mais um golpe na economia chinesa, que já havia sofrido nas mãos do Grande Salto.
A Revolução Cultural, que durou de 1966 a 1976, é descrita
atualmente pelo próprio Partido
Comunista chinês como "a década perdida". Em sua avaliação do
desempenho histórico do fundador do regime, o PC já deixou de
endeusar Mao e afirma que ele teve 70% de acertos e 30% de erros.
E o principal deles foi o turbilhão
da Revolução Cultural.
Spence, autor também de "Em
Busca da China Moderna", clássico da historiografia moderna chinesa, conta que Mao "jamais escreveu uma única análise abrangente do que pretendia atingir
com a Revolução Cultural". Mas
um objetivo dessa desordem era
claro: conquistar apoio político
perdido com a catástrofe da desordem anterior, que foi o fracassado Grande Salto para a Frente.
Mao
Mao
Autor: Jonathan Spence
Tradução: Marcos Santarrita
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 19 (228 págs.)
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