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São Paulo, quinta-feira, 25 de dezembro de 2003

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CINEMA/CRÍTICA

"Adeus, Lênin!" trabalha o fim do socialismo sem rancor habitual

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Em "Adeus, Lênin!", a sra. Kerner, dedicada servidora da Alemanha Oriental, sofre um problema vascular e fica em coma por meses. Quando volta a si, não há mais Alemanha Oriental, nem muro de Berlim, nem socialismo.
Quase todos os seus motivos de viver desapareceram. Aos que restam -os filhos- incumbe evitar que ela sofra "emoções fortes", ou seja, descubra que seu mundo caiu. É Alex o filho mais dedicado à tarefa insana de fingir o tempo todo que nada mudou.
"Adeus, Lênin!" é, como se vê, uma comédia alemã -termos quase contraditórios. É também provavelmente o primeiro filme que dá conta com propriedade e de forma aguda desse momento capital para a Europa e para o mundo que foi o fim das repúblicas socialistas.
Wolfgang Becker, o diretor, sabe olhar para esse mundo cheio de bolor que é a Alemanha Oriental sem o rancor habitual a este tipo de filme. Também não amacia as coisas: lá está a repressão aos que não eram membros do partido, a precariedade dos bens de consumo, as flores de plástico, a violência da polícia etc. Do outro lado está o capitalismo, com sua fantástica vitalidade, suas infinitas promessas, mas também com seus profundos desajustes sociais.
Mais que tudo, o que Becker põe em questão é a possibilidade de sobrevivência de um mundo baseado na mentira. Da mentira, evoluímos para a ficção. E se constrói um mundo tão fictício como o era a Alemanha Oriental.
Com imagens se constrói a realidade que bem se quer, rósea ou sombria. Conhecer o poder das imagens e partilhá-lo com os espectadores não é um mérito menor deste filme em que, talvez por isso mesmo, o humor por vezes é tão dramático e a realidade parece tão absurda.


Adeus, Lênin!
Good Bye, Lenin!
    
Produção: Alemanha, 2002
Direção: Wolfgang Becker
Com: Daniel Brühl, Katrin Sass
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Morumbi e circuito



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