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CINEMA/CRÍTICA
"Adeus, Lênin!" trabalha o fim do socialismo sem rancor habitual
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Em "Adeus, Lênin!", a sra.
Kerner, dedicada servidora
da Alemanha Oriental, sofre um
problema vascular e fica em coma
por meses. Quando volta a si, não
há mais Alemanha Oriental, nem
muro de Berlim, nem socialismo.
Quase todos os seus motivos de
viver desapareceram. Aos que
restam -os filhos- incumbe
evitar que ela sofra "emoções fortes", ou seja, descubra que seu
mundo caiu. É Alex o filho mais
dedicado à tarefa insana de fingir
o tempo todo que nada mudou.
"Adeus, Lênin!" é, como se vê,
uma comédia alemã -termos
quase contraditórios. É também
provavelmente o primeiro filme
que dá conta com propriedade e
de forma aguda desse momento
capital para a Europa e para o
mundo que foi o fim das repúblicas socialistas.
Wolfgang Becker, o diretor, sabe olhar para esse mundo cheio
de bolor que é a Alemanha Oriental sem o rancor habitual a este tipo de filme. Também não amacia
as coisas: lá está a repressão aos
que não eram membros do partido, a precariedade dos bens de
consumo, as flores de plástico, a
violência da polícia etc. Do outro
lado está o capitalismo, com sua
fantástica vitalidade, suas infinitas promessas, mas também com
seus profundos desajustes sociais.
Mais que tudo, o que Becker põe
em questão é a possibilidade de
sobrevivência de um mundo baseado na mentira. Da mentira,
evoluímos para a ficção. E se
constrói um mundo tão fictício
como o era a Alemanha Oriental.
Com imagens se constrói a realidade que bem se quer, rósea ou
sombria. Conhecer o poder das
imagens e partilhá-lo com os espectadores não é um mérito menor deste filme em que, talvez por
isso mesmo, o humor por vezes é
tão dramático e a realidade parece
tão absurda.
Adeus, Lênin!
Good Bye, Lenin!
Produção: Alemanha, 2002
Direção: Wolfgang Becker
Com: Daniel Brühl, Katrin Sass
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Morumbi e circuito
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