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TELEVISÃO
Difusão de método de acesso grátis a canais fechados preocupa o setor, que já tem baixo número de assinantes
Pirataria de TV paga é vendida por e-mail
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Da periferia aos bairros mais
nobres, não são raras as "gambiarras" para receber TV por assinatura de graça ou conectar mais
de um televisor aos canais fechados sem pagar taxa adicional.
Agora, além dos chamados "gatos", as empresas brasileiras de
TV paga terão de lidar com um
problema que desconheciam: a
venda por e-mail de esquemas para montagem de aparelhos capazes de piratear seus sinais.
A divulgação dos métodos de
fabricação do decodificador ilegal, batizado de "caixinha mágica", está crescendo no Brasil por
meio de spam (publicidade enviada a listas de e-mails).
A Folha teve acesso a um deles,
que oferece as informações exigindo depósito de R$ 10. Com o
campo de assunto do e-mail
preenchido com "!!!TV A CABO
GRÁTIS???", a mensagem coloca
à venda um "arquivo que desbloqueia todos os canais disponíveis", incluindo "pay-per-view" e
canais eróticos (pagos à parte pelos assinantes).
Segundo a publicidade, "qualquer assistência técnica das mais
simples" poderia montar a caixa
por menos de R$ 30.
Depósito
Para receber o site com as informações e a senha de acesso é preciso depositar o dinheiro em uma
conta bancária. Após responder a
mensagem solicitando os dados, a
reportagem recebeu um e-mail,
de destinatário identificado por
Sandro da Silva, com as instruções para o pagamento.
O valor deveria ser depositado
em uma conta de poupança da
Caixa Econômica Federal, numa
agência de Imperatriz, no Maranhão.
O arquivo, obtido após a confirmação do depósito, traz um manual de 20 páginas, em inglês, com o título: "Plano para decodificador a cabo agora!".
Logo no início do texto, o autor
demonstra tentar um álibi: "O
conteúdo deste documento é apenas para propósitos educacionais". E "adverte" que "o uso ilegal das informações é estritamente proibido por lei".
Além de explicações teóricas, há
figuras com o passo a passo da
montagem do aparelho. A "caixa
mágica", ligada ao televisor, é
mais eficaz para piratear TV a cabo (como Net e TVA) do que para
as de satélite (Sky e DirecTV, por
exemplo), segundo engenheiros
especializados em televisão consultados pela Folha.
Mais problemas
Para a Associação Brasileira de
Televisão por Assinatura (ABTA),
a divulgação de pirataria por meio
de spam é uma novidade.
"Não conhecíamos essa forma
de disseminação. Sabíamos da
existência de sites que ensinam a
burlar as operadoras, mas não
dessa venda por e-mail", disse
Adir Mattos, 46, coordenador da
comissão antipirataria da ABTA,
após receber da Folha uma cópia
do spam e do manual.
Mattos afirmou que a associação não tem estatísticas da pirataria, mas admitiu ter indícios de que está aumentando no Brasil.
Uma das razões seria o alto custo das assinaturas. Fora o preço de
adesão ao sistema, há pacotes de
até R$ 100 por mês, metade do valor do salário mínimo no país.
O crescimento da ilegalidade só
agrava a situação das empresas,
num momento em que enfrentam dificuldades financeiras e
baixa penetração no mercado
(hoje, no Brasil, são cerca de 3,5
milhões, menos da metade do que
o setor projetava quando a TV paga foi lançada no país, há 11 anos).
EUA
Nos Estados Unidos, onde cerca de 90% dos televisores têm TV
por assinatura, 17 pessoas foram
condenadas na semana passada
por piratear sinais de duas operadoras de canais por satélite, DirecTV e Dish Network.
Um dos acusados, morador de
Los Angeles com 48 anos, teria
causado prejuízo de US$ 14,8 milhões às empresas, segundo a
agência Associated Press.
A investigação constatou que o
trabalho dos hackers é tentar desvendar os códigos de proteção
instalados pelas operadoras.
Para trocar informações, os
acusados, que podem ser punidos
com até cinco anos de detenção,
costumavam conversar em salas
secretas de bate-papo pela internet e usar apelidos como
"freeTV" (TV grátis).
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