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Crítica/"Os Inquilinos"
Filme contundente abre caminho para nova fase de Bianchi
"Os Inquilinos", que retrata problemas enfrentados por família de periferia durante atentados do PCC, estreia hoje
RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA
A sutileza cai bem a Sérgio Bianchi. Diretor de
filmes que trazem vereditos bruscos, quase didáticos,
sobre as mazelas sociais brasileiras, como "A Causa Secreta"
(1994), "Cronicamente Inviável" (2000) e "Quanto Vale ou
É por Quilo?" (2005), o cineasta abre-se para a ambiguidade
em "Os Inquilinos", seu novo
trabalho.
Em vez de verdades definitivas, condenatórias, Bianchi nos
oferece agora uma insinuação:
a de que viver no Brasil pode ser
uma experiência comparável a
habitar um filme de terror psicológico, em que a violência
mora ao lado, sempre a um passo de eclodir.
Mas, desta vez,
não se trata daquele país genérico que o cineasta tentava explicar e alvejar. E sim de um lugar bem específico, de um período bem localizado: uma casa
na periferia de São Paulo, onde
mora a família que protagoniza
o filme, na época dos atentados
do PCC (Primeiro Comando da
Capital).
A rotina pacata de Valter
(Marat Descartes) -empregado de um entreposto de frutas
de dia e estudante universitário
de noite-, de sua mulher, Iara
(Ana Carbatti), e de seus dois filhos é abalada pela mudança
para a casa ao lado de três jovens ruidosos e agressivos, supostamente ligados ao crime.
O mais afetado é o patriarca. Valter vê os novos vizinhos como
uma ameaça não apenas à segurança de sua família mas também à própria masculinidade
-porque eles são mais jovens e
atléticos; porque não tem coragem de confrontá-los.
Embora ainda recaia em certos didatismos desnecessários
(por exemplo, quando ilustra
os devaneios de Valter com cenas em que sua mulher se atraca com um dos vizinhos), Bianchi desta vez parece mais interessado em criar uma atmosfera -de tensão, de mistério, de
terror- do que em buscar polêmicas.
As cenas mais marcantes do filme, como o sorriso
enigmático de Iara ao ver Valter invadindo a casa vazia dos
vizinhos, são aquelas que não
podem ser reduzidas a um único significado.
Em vez de atenuar a força denunciatória de Bianchi, a opção
pelo sutil, pelo específico, pelo
ambíguo -somada a um cuidado maior com o artesanato do
roteiro e da direção de atores,
que afasta seus personagens da
caricatura de trabalhos anteriores- torna seu ataque ao
que há de insustentável na realidade brasileira ainda mais
contundente.
O resultado não é
apenas seu melhor filme até
aqui como também um trabalho que abre caminho para uma
nova fase em sua obra -e que
desperta enorme curiosidade
pelo que vem a seguir.
OS INQUILINOS: OS INCOMODADOS QUE SE MUDEM
Direção: Sérgio Bianchi
Produção: Brasil, 2009
Com: Marat Descartes, Ana Carbatti,
Cassia Kiss, Caio Blat e Umberto Magnani
Onde: HSBC Belas Artes, Frei Caneca
Unibanco Arteplex e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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