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Waters embala com show nostálgico
Mesmo sendo péssimo vocalista, cantor empolga 45 mil pessoas no estádio do Morumbi com sucessos do Pink Floyd
Faltou ousadia, mas fãs urravam a cada música; apresentação de canção solo deu a sensação de
estar em culto evangélico
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais do que uma apresentação de Roger
Waters, o público
queria ver um espetáculo do
Pink Floyd. E foi isso o recebido
pelas 45 mil pessoas que estiveram no Morumbi anteontem.
Fundador, compositor e ex-baixista do Pink Floyd, Roger
Waters fez não um show solo,
mas um grande apanhado de
vários clássicos de sua antiga
banda. O clima, portanto, era
de pura nostalgia (com tudo o
que isso tem de bom e de ruim).
Já tendo tocado em São Paulo
em 2003, Waters trazia consigo
um trunfo: a execução por inteiro do álbum "The Dark Side
of the Moon" (1973).
A noite foi dividida em três
partes. Na primeira, ele tocou
canções do Floyd. Na segunda,
veio "Dark Side...". E, no bis,
mais hits da banda inglesa, somando 2h30 de música.
Roger Waters é uma figura
emblemática no rock. Não apenas por suas idéias marxistas
mas também por ter sido o
principal compositor do grupo
até 1985, quando o deixou. Mas,
neste show, via-se que ele, sozinho, não consegue dar conta de
uma performance à altura da
história do Pink Floyd. Waters
é péssimo vocalista (monocórdico, não é um frontman de primeira linha) e, por isso, várias
canções foram interpretadas
por integrantes de sua banda.
O público, claro, ávido por
uma apresentação do Pink
Floyd, que nunca veio ao Brasil,
parecia não se importar com
esses detalhes. A cada canção,
os fãs urravam de êxtase.
Muito disso, deve-se dizer,
era devido à qualidade da produção: telões de alta definição
com imagens que faziam referências ao psicodelismo, a Syd
Barrett e a figuras abstratas. O
sistema de som, alto e límpido,
foi outro ponto alto, com diversas caixas ao redor do estádio,
dando a sensação de estar dentro de uma concha acústica.
Quando mostrou duas canções de sua carreira solo, notava-se por que Waters prefere se
amparar nas músicas do Floyd.
Em "Perfect Sense", por exemplo, com ele fazendo caretas, o
telão mostrando explosões épicas, as backing vocals gritando
e o arranjo de uma grandiosidade piegas, deu a sensação de estarmos num culto evangélico.
Durante "Sheep", um porco
inflável "flutuou" pelo estádio
com a ajuda de cabos de aço, pichado com frases como "Bush,
não estamos à venda" e outros
mandamentos "politicamente
contestadores". Sim, Waters, o
Brasil não está à venda, que o
digam os que pagaram até R$
500 pelo direito de assisti-lo.
São Paulo assistiu ao que deve ter sido o mais próximo de
um show do Floyd que a cidade
terá. Tudo muito certinho,
muito bem executado, apoiado
por uma produção de primeira.
Mas faltou ousadia para dar a
tantas músicas do Floyd o brilho que elas carregam.
ROGER WATERS
Avaliação: regular
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