São Paulo, segunda-feira, 26 de março de 2007

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Waters embala com show nostálgico

Mesmo sendo péssimo vocalista, cantor empolga 45 mil pessoas no estádio do Morumbi com sucessos do Pink Floyd

Faltou ousadia, mas fãs urravam a cada música; apresentação de canção solo deu a sensação de estar em culto evangélico

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais do que uma apresentação de Roger Waters, o público queria ver um espetáculo do Pink Floyd. E foi isso o recebido pelas 45 mil pessoas que estiveram no Morumbi anteontem.
Fundador, compositor e ex-baixista do Pink Floyd, Roger Waters fez não um show solo, mas um grande apanhado de vários clássicos de sua antiga banda. O clima, portanto, era de pura nostalgia (com tudo o que isso tem de bom e de ruim).
Já tendo tocado em São Paulo em 2003, Waters trazia consigo um trunfo: a execução por inteiro do álbum "The Dark Side of the Moon" (1973).
A noite foi dividida em três partes. Na primeira, ele tocou canções do Floyd. Na segunda, veio "Dark Side...". E, no bis, mais hits da banda inglesa, somando 2h30 de música.
Roger Waters é uma figura emblemática no rock. Não apenas por suas idéias marxistas mas também por ter sido o principal compositor do grupo até 1985, quando o deixou. Mas, neste show, via-se que ele, sozinho, não consegue dar conta de uma performance à altura da história do Pink Floyd. Waters é péssimo vocalista (monocórdico, não é um frontman de primeira linha) e, por isso, várias canções foram interpretadas por integrantes de sua banda.
O público, claro, ávido por uma apresentação do Pink Floyd, que nunca veio ao Brasil, parecia não se importar com esses detalhes. A cada canção, os fãs urravam de êxtase.
Muito disso, deve-se dizer, era devido à qualidade da produção: telões de alta definição com imagens que faziam referências ao psicodelismo, a Syd Barrett e a figuras abstratas. O sistema de som, alto e límpido, foi outro ponto alto, com diversas caixas ao redor do estádio, dando a sensação de estar dentro de uma concha acústica.
Quando mostrou duas canções de sua carreira solo, notava-se por que Waters prefere se amparar nas músicas do Floyd. Em "Perfect Sense", por exemplo, com ele fazendo caretas, o telão mostrando explosões épicas, as backing vocals gritando e o arranjo de uma grandiosidade piegas, deu a sensação de estarmos num culto evangélico.
Durante "Sheep", um porco inflável "flutuou" pelo estádio com a ajuda de cabos de aço, pichado com frases como "Bush, não estamos à venda" e outros mandamentos "politicamente contestadores". Sim, Waters, o Brasil não está à venda, que o digam os que pagaram até R$ 500 pelo direito de assisti-lo.
São Paulo assistiu ao que deve ter sido o mais próximo de um show do Floyd que a cidade terá. Tudo muito certinho, muito bem executado, apoiado por uma produção de primeira.
Mas faltou ousadia para dar a tantas músicas do Floyd o brilho que elas carregam.


ROGER WATERS
Avaliação:
regular


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