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CINEMA
Crítica/ "Os Homens que Encaravam Cabras"
Time de astros estrela comédia morna, mas de premissa bem interessante
RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA
Nos primeiros minutos
de "Os Homens que
Encaravam Cabras",
fica difícil espantar a sensação
de estar vendo uma comédia
dos irmãos Coen. George Clooney de bigode e expressão abobalhada como em "E aí, Meu Irmão, Cadê Você?" (2000), Jeff
Bridges em um papel muito parecido ao Dude de "O Grande
Lebowski" (1998), personagens
que se metem em situações improváveis sem se dar conta do
absurdo que os cerca... tudo leva a crer que se trata de um
Coen legítimo.
Mas logo fica claro que Grant
Heslov, o diretor de "Os Homens que Encaravam Cabras"
(também ator e roteirista de
"Boa Noite e Boa Sorte"), pode
até emular o cinismo da dupla
de cineastas, mas não sua imaginação. E olha que seu filme tinha um ponto de partida espetacular: o livro de Jon Ronson
que investiga as experiências
reais do exército americano
com a paranormalidade, a cultura new age ou com o puro
nonsense -como matar cabras
com o olhar, atravessar paredes
de concreto, tornar-se invisível
e usar canções infantis para
torturar os inimigos.
Heslov usa esses dados reais
para criar uma sátira ficcional,
sobre um repórter (Ewan
McGregor) que, após ser traído
pela mulher, decide cobrir a
Guerra do Iraque para encontrar uma história que desse
uma guinada em sua vida. Ele
conhece um ex-oficial do Exército (Clooney) que foi a estrela
de uma unidade de espiões paranormais que se identificavam
como guerreiros Jedi e acreditavam poder terminar uma
guerra com o poder da mente.
Com uma premissa tão extraordinária e um elenco de astros com timing cômico, Heslov consegue criar bons momentos isolados de humor
-como nas cenas em que o coronel hippie ensina seus duros
comandados a dançar ou coloca
LSD no tanque de água de um
batalhão. São truques antigos,
fáceis, mas ainda funcionais.
No geral, porém, fica a sensação de desperdício de um belo
material. Heslov cria uma sátira morna, pouco incisiva, que
hesita entre atacar o absurdo
do militarismo ou o patético do
misticismo. Nunca se sabe se
ele nutre um desprezo maior
pelos falcões da guera ou pelas
pombas da paz. As duas frentes
de batalha do filme se igualam
-e terminam por se anular.
Recentemente, os Coen mostraram o caminho para uma
boa sátira ao militarismo em
"Queime Depois de Ler"
(2008). Mas o maior exemplar
desse filão continua sendo "Dr.
Fantástico" (1964), de Stanley
Kubrick. Mas são comparações
injustas. Se Heslov não conseguiu se mostrar um bom discípulo dos Coen, como exigir que
esteja à altura de Kubrick?
OS HOMENS QUE ENCARAVAM
CABRAS
Diretor: Grant Heslov
Produção: EUA, 2009
Com: George Clooney, Ewan McGregor
Onde: Espaço Unibanco Pompeia, Reserva Cultural e circuito
Classificação: 16 anos
Avaliação: regular
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