São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2010

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Crítica/"Tulpan"

Drama mostra vida familiar nas estepes

ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

E m meados da década passada, o cazaque Sergei Dvortsevoy começou a construir uma respeitável filmografia como documentarista. Em "Tulpan" -sua estreia na ficção-, ele adota o mesmo tom respeitoso dos documentários e observa o mesmo universo: a realidade pós-soviética a partir da luta das pessoas para sobreviver. Mas o drama também tem um lado romanesco, em que fantasia e a comédia não estão ausentes.
Depois de concluir o serviço militar, Asa (Ashkat Kuchinchirekov) volta para as áridas estepes do Cazaquistão. Quer ser pastor e fundar uma família. A única noiva possível, Tulpan, repudia o pretendente, perturbada pelo tamanho das orelhas dele. Asa insiste, mas ela não cede: é tão inacessível que não mostra o rosto durante o filme.
Dvortsevoy filma a estepe em planos amplos, que valorizam sua beleza e grandiosidade. Os ruídos do vento e do rebanho invadem o espaço, tornando-o mais áspero, duro, como a vida dos pastores seminômades.
Em contraste com as feições quase épicas dos grandes espaços, o filme recolhe a intimidade da família no interior da cabana onde vivem Asa, a irmã (Samal Yesylamova), o marido pastor (Ondasyn Mesikbasvo) e os filhos. Graças à câmera ágil, acompanhamos seus hábitos, conversas e gestos. O cotidiano é descrito com rigores etnográficos, mas a ternura não é alheia a este olhar, que capta os sonhos dos adultos e a inocência das brincadeiras das crianças.
O momento culminante é a cena em que Asa ajuda uma ovelha a parir. Impotente diante do parto, hesita, se desespera, até que, subitamente, faz uma salvadora respiração boca a boca. Registro bruto do real, pedaço da vida que só o cinema pode captar, a cena é forte e simbólica: assinala o "renascimento" de Asa, que toma consciência de sua coragem, ganha confiança, se transforma. Não por acaso, o filme recebeu o prêmio da mostra "Um Certo Olhar" no Festival de Cannes de 2008.


TULPAN

Diretor: Sergei Dvortsevoy
Produção: Rússia/Cazaquistão/Alemanha/Polônia/Suíça, 2008
Classificação: 10 anos
Avaliação: bom




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