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Ana Cristina Cesar simboliza geração
DA REDAÇÃO
Nem tudo era militância política na Geração 77. Uma das
predileções do "braço cultural"
da juventude dos anos Geisel
era a poesia. Não exigia meios,
pegava carona na cultura "subversiva" do mimeógrafo, circulava de mão em mão em revistas e edições alternativas e até
aglutinava algum público em
sessões de leitura.
O fenômeno ocorreu país
afora, mas coube à carioca (que
mais parecia uma inglesa) Ana
Cristina Cesar ficar como uma
espécie de símbolo literário da
geração. Sua sofisticação intelectual, a qualidade de sua
aventura poética e as circunstâncias trágicas de sua morte
(suicidou-se em outubro de
1983) compuseram a personagem misteriosa e encantadora.
Ana detestava a grossura da
cultura de esquerda que extraía
do engajamento conteudístico
seu principal valor, em detrimento da qualidade estética
das obras. Causava-lhe enjôos
a inclinação naturalista de alguns escritores e artistas, sempre dispostos a besuntar a arte
de povo, pregar para convertidos e trombetear o futuro redentor do socialismo. Gostava
de Caetano Veloso, Baudelaire
e Stephane Mallarmé. Não trocaria alguns versos de Jorge de
Lima e Manuel Bandeira por
toda a obra de Ferreira Gullar e
não perdia um capítulo da novela "O Astro", de Janete Clair
-o bastante para qualquer comunista arquivá-la na pasta
dos "alienados".
Em "A Ditadura Encurralada", Ana, maníaca por diários,
pontua a narrativa de Gaspari
sobre a Geração 77 com suas
notas: "Teve época em que eu
piamente acreditei que bastava
ter opiniões de esquerda para
ser de esquerda. A ideologia vinha primeiro. É a política alucinatória". Ela manteve ligações
pessoais com militantes estudantis da época e participou do
jornal "O Beijo", idealizado pelo jornalista Julio Cesar Montenegro, no qual havia alguns
responsáveis pelo "Avesso", da
USP, citado no livro.
(MAG)
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