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TEATRO
Depois de cinco meses, palco da avenida Paulista reabre com "O que Leva Bofetadas", dirigida por Antônio Abujamra
Popular do Sesi, 40, volta após reformas
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Faz 40 anos que uma das platéias mais diversas de São Paulo se
enfileira na calçada ou no saguão
do 1.313 da av. Paulista para ver os
espetáculos gratuitos do Teatro
Popular do Sesi.
A cena se repete hoje, com a reabertura do TPS, após cinco meses
de reforma. Estréia "O que Leva
Bofetadas", do russo Leonid Andreiev (1871-1919), direção de Antônio Abujamra.
Quando foi inaugurado, em setembro de 1963, o TPS, além do
espaço físico, designava a companhia idealizada e dirigida por Osmar Rodrigues Cruz, 80.
Era o desdobramento profissional do Teatro Experimental do
Sesi, grupo amador surgido em
1959 e capitaneado por Cruz para
entreter funcionários da indústria. No período em que coordenou o TPS (1963-1992), Cruz assinava as montagens e procurava
seguir os ideais do francês Jean
Vilar (1912-71), que difundiu na
França, a partir dos anos 50, o
conceito de um teatro popular
voltado para a formação de público, sobretudo aquele que jamais
pusera os pés num teatro.
"O teatro popular, como a gente
fez no Sesi, tinha um certo sentido
de educar o público", reconhece
Cruz em sua autobiografia "Uma
Vida no Teatro" (Hucitec, 2001),
que escreveu com a filha e atriz
Maria Eugênia.
A primeira produção do TPS foi
"Cidade Assassinada" (1963), de
Antônio Callado. Seguiram-se peças de (ou baseadas em) Dostoiévski, Oduvaldo Vianna, pai,
García Lorca, Molière, Martins
Pena, Plínio Marcos, Maria Adelaide Amaral, Shakespeare etc.
O maior público de teatro adulto de Cruz foi registrado em "O
Santo Milagroso", de Lauro César
Muniz, que ficou em cartaz entre
1981 e 1983 e atraiu mais de 600
mil espectadores. Havia ainda
sessões para escolas, peças para
jovens e projeto itinerante pelo
Estado, mantidos até hoje.
Essas longas temporadas cessaram a partir de meados dos anos
90, quando a direção do Serviço
Social da Indústria mudou as diretrizes do TPS.
Cruz deixa a casa. Cada montagem fica em cartaz de seis meses a
um ano e traz um diretor convidado. Entre eles, Gabriel Villela
("O Mambembe"), Ulysses Cruz
("Péricles") e Cacá Rosset ("O
Avarento").
Ainda é assim, mas nos últimos
anos o teatro investiu menos em
clássicos da dramaturgia universal ou nacional, como no período
de Cruz, em favor de novos grupos, autores ou diretores. Um
exemplo disso foram as duas edições da Mostra de Dramaturgia
Contemporânea (2002 e 2003).
"Oferecemos ao público a chance de conhecer linguagens experimentais, por exemplo, e decidir se
gosta ou não. Evitamos determinar o que é popular", diz Silvio
Anaz, 38, coordenador do Centro
Cultural Fiesp, onde fica o prédio
do TPS.
Os atuais 455 lugares são invariavelmente preenchidos. A gratuidade é fator evidente. Porém,
entre os "fracassos" de público da
história recente do TPS, estão
"Futebol" (1994-95, média de 222
espectadores por sessão), dirigido
por Bia Lessa, e "Temporada de
Gripe" (2003, média de 218), com
a Sutil Companhia, dirigida por
Felipe Hirsch.
Agora, há o retorno de Abujamra, que marcou a nova fase do TPS
em 1994, com "O Inspetor Geral",
de Gogól, e elege outro dramaturgo russo, Andreiev, pouco encenado entre nós.
"O que Leva Bofetadas" recria o
universo circense. Abujamra assina a livre adaptação e também
atua na história do palhaço que
apanha com freqüência em meio
à trupe formada por uma domadora que desaprendeu a lidar com
as feras, uma trapezista encantadora à espera do momento de ser
vendida e um mestre-de-cerimônias com sua barriga cheia de serragem e ilusões.
A produção anual do TPS para
os espetáculos é orçada em cerca
de R$ 2 milhões. O Sesi gastou o
dobro disso na última reforma.
O QUE LEVA BOFETADAS. Com: Kito
Junqueira, Paulo Herculano, Luiz
Amorim, Natalia Correa. Onde: Teatro
Popular do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel.
0/xx/11/3146-7405). Quando: estréia
hoje; sex. e sáb., às 20h; dom., às 19h.
Quanto: grátis (retirar um ingresso por
pessoa uma hora antes do início do
espetáculo). Até 14/11.
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