São Paulo, domingo, 26 de junho de 2005

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MODA

Marcação homem a homem

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

JACKSON ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"A moda está abrindo a cabeça dos homens, mostrando mais possibilidades de vestir", diz o estilista Ricardo Almeida, que, nesta terça, dá a partida na São Paulo Fashion Week do verão 2006. Ele promete invadir a passarela com um esquadrão de 40 famosos -para nenhuma revista de celebridade botar defeito. "Vai ser o desfile mais louco que já fiz", diz o estilista do presidente Lula.
O casting de Ricardo Almeida prova a diversidade das coleções feitas para os homens, que começam a ganhar as liberdades conquistadas pelas mulheres no prêt-à-porter. "Empatamos com o feminino", comemora Mário Queiroz, que desfila em seguida, às 18h. Segundo ele, "a descoberta mais recente no Brasil é que existem vários tipos de homens".
Parece que sim. Tanto é que a tradicional VR Menswear contratou como "modelo" um homem de 2,08 m. É o jogador de basquete Anderson Varejão, 22, brasileiro do time norte-americano Cleveland Cavaliers, da NBA.
Ele faz sua estréia nas passarelas no sábado. "Nada cabe nele", espanta-se Caio Campos, relações-públicas da VR. A roupa do desfile teve de ser feita sob medida, e ele calça 48. "Mesmo tentando se vestir melhor, Anderson só usava roupas mais folgadas", conta Campos, que mandou produzir um guarda-roupa para o jogador usar em eventos e viagens.
"O consumidor masculino está num processo de correr atrás da sua imagem", confirma o estilista Vitor Santos, da V.Rom, primeira marca a desfilar no sábado -e em pleno estádio do Pacaembu.
O badalado Maxime Perelmuter, da British Colony, vai tentar emplacar em sua apresentação de quinta-feira um visual de "Mad Max" tropical. "O homem brinca tanto quanto a mulher na moda", garante. Para ele, a preocupação com o que vestir é igual: "O teor é outro, mas o fundamento é o mesmo", garante o carioca.
"Como imagem, a moda masculina está, sim, mais livre [do que antes], como, por exemplo, no uso das cores, com que o homem pode brincar de se vestir", diz o talentoso produtor Mauricio Ianes, que assina a edição dos desfiles de Alexandre Herchcovitch.
"Esse mundo hoje se divide em vários estilos", explica Mário Queiroz, que costuma comparar a moda com a música: "Tem heavy metal, pop, samba... Há o estilo mais adolescente, o mais executivo, o casual...", opina o estilista.
Para Caio Campos, da VR, "a vaidade masculina esbarra no medo de escorregar". "O brasileiro prefere ser mais tradicional a correr o risco de chamar atenção demais no escritório. Ele só usa peças diferentes depois de ver alguém usando."
Nesse sentido, o maior desafio das marcas de moda masculina é convencer o consumidor de que a camisa do verão não é igual à do inverno. "Lanço um colarinho novo a cada estação e mantenho dois da coleção anterior; tenho um modelo de camisa que reedito há seis anos e mudo as outras", revela Ricardo Almeida. Em sua coleção de inverno (a que está nas lojas) lançou uma série de jaquetas mais modernas, estreitas. "Só vendi 30 no total, contra dez ternos clássicos por dia", diverte-se.
"Não podemos superestimar o mercado: os lojistas não estão tão informados quanto o público final. Eles são resistentes, não são audaciosos por causa das oscilações da economia. Há dez anos falamos que o homem é vaidoso, precisamos saber se o mercado vê isso e se a economia garante essa liberdade", reclama Queiroz.


Colaboraram Sergio Amaral, André do Val e Eduarda de Souza

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