São Paulo, domingo, 26 de junho de 2005

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FOTOGRAFIA

Mostra do brasileiro pioneiro na fotografia de moda abre hoje, para convidados, nos domínios da São Paulo Fashion Week

Obra de Otto Stupakoff tem retrospectiva em São Paulo

EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Enxergar na fronteira, geográfica inclusive, a possibilidade da superação dos obstáculos e nunca o fim do caminho, é a marca de Otto Stupakoff, 70, artista brasileiro pioneiro na fotografia de moda que ganha retrospectiva glamourosa a partir de hoje nos domínios da São Paulo Fashion Week, no pavilhão da Bienal, no Ibirapuera.
"Moda Sem Fronteiras - Otto Stupakoff" tem curadoria dos fotógrafos Fernando Laszlo e Bob Wolfenson. "Otto encarnou tudo aquilo que nós, fotógrafos brasileiros, almejávamos em nossos devaneios juvenis. Personificou como poucos a figura do fotógrafo charmoso, namorador, cercado de glamour", diz Wolfenson.
Nascido no Tatuapé, em São Paulo, Stupakoff foi, aos 17, para Los Angeles estudar fotografia no Art Center College of Design. Ao retornar, montou estúdio no Rio. Em plena efervescência da bossa nova, tornou-se amigo de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
Em 1957, transferiu seu estúdio para São Paulo e integrou o realismo mágico, termo que nomeava o movimento artístico liderado pelo artista plástico Wesley Duke Lee. Em pouco tempo, seu estúdio se tornou uma referência em retratos e fotografia de moda.
Quando sua carreira em São Paulo parecia cristalizada, Stupakoff resolveu superar fronteiras. "Um dia coloquei minha produção de 11 anos e olhei tudo. Foi decepcionante. Tinha poucas fotos boas. Percebi que havia entrado num ciclo em que importava apenas clientes e dinheiro. Não havia uma busca intelectual. Faltava complexidade."
O caminho rumo à expressão pessoal levou Stupakoff, em 1965, para Nova York. "Saí com pouco dinheiro para enfrentar um mundo diferente. Queria, sobretudo, me livrar das influências estéticas do passado. Sentia necessidade de ver o mundo com olhos novos. As influências nos deixam refratários ao novo. A busca por um caminho próprio é dolorosa, temos que lidar com o desconhecido, com o imponderável", diz.
Após dificuldades iniciais, Stupakoff começou a fotografar capas de discos. Seu portfólio chegou às mãos de Alexey Brodovitch, diretor de arte da "Harper's Bazaar". Um dia, Brodovitch resolveu pautá-lo para um retrato. Gostou. Em seguida o chamou para fazer um ensaio de moda com Leslie Bogart, filha do ator Humphrey Bogart. A fronteira que o levaria a ter "voz própria" parecia superada.
"Meu diferencial era o olhar sobre o feminino. Enquanto os outros fotógrafos de moda viam na modelo apenas um cabide para a roupa, eu buscava a atmosfera de sonho e desejos femininos."
Com a carreira novamente em ascensão, Stupakoff se casou com Margareta, modelo suíça eleita miss universo em 1966, a partir dali uma de suas principais modelos nos editoriais de moda, que, a essa altura, haviam ultrapassado outra fronteira: do outro lado do Atlântico, a Vogue francesa o requisitou para uma edição especial. Seus pares passaram a ser fotógrafos-ícones, como Richard Avedon e Helmut Newton.
O diferencial de Stupakoff era sua capacidade em injetar vida e elegância em cenas que ele fazia parecerem corriqueiras. "Eu fazia questão que minhas fotos não parecessem fotos de moda. Sempre detestei os maneirismos. A vida é mais importante que a moda."
A partir dos anos 90, Stupakoff ultrapassou mais uma fronteira: a fotografia perdeu espaço para a pintura e a colagem. Após a morte da última de suas três mulheres, foi morar em Harley, nos EUA. No último inverno, optou por Bangkok. Não se adaptou ao calor. Retornou a São Paulo a convite da SPFW. Lugar de onde ele partiu em busca de si mesmo e que hoje o recebe com a maior retrospectiva de seu trabalho. A cidade sem fronteiras recebe um dos seus ilustres forasteiros.


Moda Sem Fronteiras - Otto Stupakoff
Quando: abre hoje, às 19h; de ter. a seg. (apenas para convidados)
Onde: Bienal do Ibirapuera (pq. Ibirapuera, s/nš, portão 3)



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