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FOTOGRAFIA
Mostra do brasileiro pioneiro na fotografia de moda abre hoje, para convidados, nos domínios da São Paulo Fashion Week
Obra de Otto Stupakoff tem retrospectiva em São Paulo
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Enxergar na fronteira, geográfica inclusive, a possibilidade da superação dos obstáculos e nunca o
fim do caminho, é a marca de Otto Stupakoff, 70, artista brasileiro
pioneiro na fotografia de moda
que ganha retrospectiva glamourosa a partir de hoje nos domínios
da São Paulo Fashion Week, no
pavilhão da Bienal, no Ibirapuera.
"Moda Sem Fronteiras - Otto
Stupakoff" tem curadoria dos fotógrafos Fernando Laszlo e Bob
Wolfenson. "Otto encarnou tudo
aquilo que nós, fotógrafos brasileiros, almejávamos em nossos
devaneios juvenis. Personificou
como poucos a figura do fotógrafo charmoso, namorador, cercado de glamour", diz Wolfenson.
Nascido no Tatuapé, em São
Paulo, Stupakoff foi, aos 17, para
Los Angeles estudar fotografia no
Art Center College of Design. Ao
retornar, montou estúdio no Rio.
Em plena efervescência da bossa
nova, tornou-se amigo de Tom
Jobim e Vinicius de Moraes.
Em 1957, transferiu seu estúdio
para São Paulo e integrou o realismo mágico, termo que nomeava
o movimento artístico liderado
pelo artista plástico Wesley Duke
Lee. Em pouco tempo, seu estúdio se tornou uma referência em
retratos e fotografia de moda.
Quando sua carreira em São
Paulo parecia cristalizada, Stupakoff resolveu superar fronteiras.
"Um dia coloquei minha produção de 11 anos e olhei tudo. Foi decepcionante. Tinha poucas fotos
boas. Percebi que havia entrado
num ciclo em que importava apenas clientes e dinheiro. Não havia
uma busca intelectual. Faltava
complexidade."
O caminho rumo à expressão
pessoal levou Stupakoff, em 1965,
para Nova York. "Saí com pouco
dinheiro para enfrentar um mundo diferente. Queria, sobretudo,
me livrar das influências estéticas
do passado. Sentia necessidade de
ver o mundo com olhos novos. As
influências nos deixam refratários
ao novo. A busca por um caminho próprio é dolorosa, temos
que lidar com o desconhecido,
com o imponderável", diz.
Após dificuldades iniciais, Stupakoff começou a fotografar capas de discos. Seu portfólio chegou às mãos de Alexey Brodovitch, diretor de arte da "Harper's
Bazaar". Um dia, Brodovitch resolveu pautá-lo para um retrato.
Gostou. Em seguida o chamou
para fazer um ensaio de moda
com Leslie Bogart, filha do ator
Humphrey Bogart. A fronteira
que o levaria a ter "voz própria"
parecia superada.
"Meu diferencial era o olhar sobre o feminino. Enquanto os outros fotógrafos de moda viam na
modelo apenas um cabide para a
roupa, eu buscava a atmosfera de
sonho e desejos femininos."
Com a carreira novamente em
ascensão, Stupakoff se casou com
Margareta, modelo suíça eleita
miss universo em 1966, a partir
dali uma de suas principais modelos nos editoriais de moda, que,
a essa altura, haviam ultrapassado
outra fronteira: do outro lado do
Atlântico, a Vogue francesa o requisitou para uma edição especial. Seus pares passaram a ser fotógrafos-ícones, como Richard
Avedon e Helmut Newton.
O diferencial de Stupakoff era
sua capacidade em injetar vida e
elegância em cenas que ele fazia
parecerem corriqueiras. "Eu fazia
questão que minhas fotos não parecessem fotos de moda. Sempre
detestei os maneirismos. A vida é
mais importante que a moda."
A partir dos anos 90, Stupakoff
ultrapassou mais uma fronteira: a
fotografia perdeu espaço para a
pintura e a colagem. Após a morte
da última de suas três mulheres,
foi morar em Harley, nos EUA.
No último inverno, optou por
Bangkok. Não se adaptou ao calor. Retornou a São Paulo a convite da SPFW. Lugar de onde ele
partiu em busca de si mesmo e
que hoje o recebe com a maior retrospectiva de seu trabalho. A cidade sem fronteiras recebe um
dos seus ilustres forasteiros.
Moda Sem Fronteiras - Otto
Stupakoff
Quando: abre hoje, às 19h; de ter. a seg.
(apenas para convidados)
Onde: Bienal do Ibirapuera (pq.
Ibirapuera, s/nš, portão 3)
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