São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 2002

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DOCUMENTÁRIOS

Episódios da série "Travessias", de Dorrit Harazim, enfocam idosos e presidiário

Jornalista vê sobreviventes do abandono

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Cinemateca Brasileira promove hoje, para convidados, a exibição, seguida de debate, dos documentários "Travessia do Escuro" e "Travessia do Tempo", ambos da jornalista e cineasta Dorrit Harazim.
O primeiro enfoca um grupo de idosos que frequenta aulas de alfabetização num bairro da periferia paulistana. O segundo filme trata da rotina de José Izabel da Silva, 51, conhecido como Monarca, que há 27 anos cumpre pena no presídio do Carandiru.
"Travessia do Tempo" termina com a transferência de Monarca e outros companheiros de cárcere para uma penitenciária no interior do Estado, dentro do programa de desativação do Carandiru.
Em texto de apresentação da série "Travessias" -que inclui também os títulos "Travessia da Vida", sobre a trajetória da sanitarista Zilda Arns, "Travessia da Dor", "Travessia do Silêncio" e "Travessia do Asfalto"- Harazim diz que "são todos sobreviventes: da violência, da dor ou do abandono social do país".
Segundo a documentarista, "a seu modo, cada um procura atravessar seu maior adversário: o tempo, a mortalidade infantil, a escuridão do não-saber".
Após as projeções de hoje, debatem com a cineasta o advogado Luís Francisco Carvalho Filho, autor de "A Prisão" (Publifolha), o ex-diretor do Carandiru Sergio Zeppelin Filho, atual diretor da penitenciária de Serra Azul, e o psicanalista Leopold Nosek.
Nosek diz que o encontro desta noite será uma oportunidade de discutir esses que são "tempos de violência". O psicanalista afirma estar havendo atualmente uma "mudança do caráter da violência e da criminalidade".
"O tempo de reflexão e construção do espírito diminui. O tempo do bandido romântico isolado desaparece", diz Nosek.
Continua: "Hoje, você tem uma agricultura criminosa, uma indústria criminosa, uma exportação criminosa, um capital financeiro criminoso. A concentração do capital permeia tudo, inclusive a violência".
Zeppelin Filho, que é um dos entrevistados de "Travessia do Tempo", acredita que o documentário permite abordar o tema "da possibilidade de recuperação do sentenciado".
No caso específico de Monarca, o diretor penitenciário enxerga o exemplo de "um ser humano que não se deixou deteriorar pelo ambiente e pelas ocorrências do dia-a-dia dentro do Carandiru".
O criminalista Carvalho Filho acha que Harazim "captou com muita simplicidade e singeleza todo o drama do encarceramento" e sustenta que "se alguém se recupera na prisão, é uma exceção, e isso se deve à personalidade da pessoa e não ao sistema".
O debate entre os profissionais começa na sequência da exibição dos filmes, marcada para às 20h, na Sala Cinemateca (r. Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, 0/xx/11/ 5084-2177). "Travessia do Escuro" tem 28 minutos de duração e "Travessia do Tempo", 55 minutos.



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