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DOCUMENTÁRIOS
Episódios da série "Travessias", de Dorrit Harazim, enfocam idosos e presidiário
Jornalista vê sobreviventes do abandono
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Cinemateca Brasileira promove hoje, para convidados, a
exibição, seguida de debate, dos
documentários "Travessia do Escuro" e "Travessia do Tempo",
ambos da jornalista e cineasta
Dorrit Harazim.
O primeiro enfoca um grupo de
idosos que frequenta aulas de alfabetização num bairro da periferia paulistana. O segundo filme
trata da rotina de José Izabel da
Silva, 51, conhecido como Monarca, que há 27 anos cumpre pena
no presídio do Carandiru.
"Travessia do Tempo" termina
com a transferência de Monarca e
outros companheiros de cárcere
para uma penitenciária no interior do Estado, dentro do programa de desativação do Carandiru.
Em texto de apresentação da série "Travessias" -que inclui também os títulos "Travessia da Vida", sobre a trajetória da sanitarista Zilda Arns, "Travessia da
Dor", "Travessia do Silêncio" e
"Travessia do Asfalto"- Harazim diz que "são todos sobreviventes: da violência, da dor ou do
abandono social do país".
Segundo a documentarista, "a
seu modo, cada um procura atravessar seu maior adversário: o
tempo, a mortalidade infantil, a
escuridão do não-saber".
Após as projeções de hoje, debatem com a cineasta o advogado
Luís Francisco Carvalho Filho,
autor de "A Prisão" (Publifolha),
o ex-diretor do Carandiru Sergio
Zeppelin Filho, atual diretor da
penitenciária de Serra Azul, e o
psicanalista Leopold Nosek.
Nosek diz que o encontro desta
noite será uma oportunidade de
discutir esses que são "tempos de
violência". O psicanalista afirma
estar havendo atualmente uma
"mudança do caráter da violência
e da criminalidade".
"O tempo de reflexão e construção do espírito diminui. O tempo
do bandido romântico isolado
desaparece", diz Nosek.
Continua: "Hoje, você tem uma
agricultura criminosa, uma indústria criminosa, uma exportação criminosa, um capital financeiro criminoso. A concentração
do capital permeia tudo, inclusive
a violência".
Zeppelin Filho, que é um dos
entrevistados de "Travessia do
Tempo", acredita que o documentário permite abordar o tema
"da possibilidade de recuperação
do sentenciado".
No caso específico de Monarca,
o diretor penitenciário enxerga o
exemplo de "um ser humano que
não se deixou deteriorar pelo ambiente e pelas ocorrências do dia-a-dia dentro do Carandiru".
O criminalista Carvalho Filho
acha que Harazim "captou com
muita simplicidade e singeleza todo o drama do encarceramento" e
sustenta que "se alguém se recupera na prisão, é uma exceção, e
isso se deve à personalidade da
pessoa e não ao sistema".
O debate entre os profissionais
começa na sequência da exibição
dos filmes, marcada para às 20h,
na Sala Cinemateca (r. Senador
Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, 0/xx/11/ 5084-2177). "Travessia do Escuro" tem 28 minutos de
duração e "Travessia do Tempo",
55 minutos.
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