São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2008

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Crítica/ "Baby Love"

Francês lembra "comédia família" americana

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

O pediatra Emmanuel, ou Manu (Lambert Wilson, de "Medos Privados em Lugares Públicos" e do recém-lançado "Missão Babilônia"), está na faixa dos 40 anos e quer ter um filho. Seria difícil encontrar alguém mais apto à paternidade do que ele, seguro a respeito do que representa a decisão e com amplo conhecimento sobre crianças.
Mesmo em uma sociedade liberal como a francesa, no entanto, Manu precisará trilhar caminho um pouco mais pedregoso para realizar esse desejo: ele é homossexual. "Baby Love" (título internacional em "esperanto" para "Comme les Autres" -como os outros) o acompanha nessa jornada, com a leveza de uma comédia suavizando a parte "séria" do pacote.
Na construção didática de personagens e situações, começa-se pelo impacto de um filho num casal homossexual. Manu vive com um advogado, Philippe (Pascal Elbé). Alguém diz que o relacionamento deles é mais estável do que o de casais heterossexuais que conhece.

Filme com causa
A idéia de uma criança, contudo, vai alterar drasticamente o equilíbrio, inclusive porque, para pleitear a adoção legal, Manu precisará fingir que é heterossexual. Abre-se uma vertente para examinar a política do Estado em relação ao tema.
Diante das dificuldades, caminha-se em direção a um plano B: encontrar, no universo de casais formados por mulheres, quem também queira um filho e aceite o acordo de criá-lo em conjunto. E, depois, a um plano C: encontrar uma "mãe de aluguel", disposta a abrir mão da criança logo depois do parto.
Enquanto Manu procura a saída, surge uma jovem argentina (Pilar López de Ayala) que talvez se encaixe no plano C, mas que abrirá um plano D.
"Baby Love" é uma comédia dramática em torno de uma causa e, como todo filme que se empenha claramente na defesa de certas idéias, tende a ser mais apreciado por quem já simpatiza com elas, embora seu desafio maior seja o de levar quem não pensa da mesma forma a rever suas posições.
É para esse espectador que o diretor e roteirista Vincent Garenq -documentarista e profissional de TV em seu primeiro longa para cinema- parece se dirigir. Toma cuidados para evitar que o público rotule "Baby Love" de filme "gay" e acaba por fazê-lo se parecer com comédias norte-americanas para consumo de famílias.
Garenq diz que se inspirou em história ocorrida com um amigo chamado Manu. As conexões do filme com a sociedade em que vivemos, por sinal, serão objeto do debate "Dois Pais ou Duas Mães -Ainda Existe Preconceito?", na próxima quinta-feira, dia 2, às 21h30, na Reserva Cultural.
Os pais adotivos Paulo Borges e Leão Lobo participarão do encontro com a psicóloga Vera Moris, o juiz Eduardo Rezende Mello e mediação do jornalista Christian Petermann.


BABY LOVE
Produção: França, 2006
Direção: Vincent Garenq
Com: Lambert Wilson, Pilar López de Ayala e Pascal Elbé
Onde: nos cines HSBC Belas Artes, Cidade Jardim e circuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos
Avaliação: bom



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