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Crítica/ "Baby Love"
Francês lembra "comédia família" americana
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
O pediatra Emmanuel,
ou Manu (Lambert
Wilson, de "Medos Privados em Lugares Públicos" e
do recém-lançado "Missão Babilônia"), está na faixa dos 40
anos e quer ter um filho. Seria
difícil encontrar alguém mais
apto à paternidade do que ele,
seguro a respeito do que representa a decisão e com amplo conhecimento sobre crianças.
Mesmo em uma sociedade liberal como a francesa, no entanto, Manu precisará trilhar
caminho um pouco mais pedregoso para realizar esse desejo: ele é homossexual. "Baby
Love" (título internacional em
"esperanto" para "Comme les
Autres" -como os outros) o
acompanha nessa jornada, com
a leveza de uma comédia suavizando a parte "séria" do pacote.
Na construção didática de
personagens e situações, começa-se pelo impacto de um filho
num casal homossexual. Manu
vive com um advogado, Philippe (Pascal Elbé). Alguém diz
que o relacionamento deles é
mais estável do que o de casais
heterossexuais que conhece.
Filme com causa
A idéia de uma criança, contudo, vai alterar drasticamente
o equilíbrio, inclusive porque,
para pleitear a adoção legal,
Manu precisará fingir que é heterossexual. Abre-se uma vertente para examinar a política
do Estado em relação ao tema.
Diante das dificuldades, caminha-se em direção a um plano B: encontrar, no universo de
casais formados por mulheres,
quem também queira um filho
e aceite o acordo de criá-lo em
conjunto. E, depois, a um plano
C: encontrar uma "mãe de aluguel", disposta a abrir mão da
criança logo depois do parto.
Enquanto Manu procura a
saída, surge uma jovem argentina (Pilar López de Ayala) que
talvez se encaixe no plano C,
mas que abrirá um plano D.
"Baby Love" é uma comédia
dramática em torno de uma
causa e, como todo filme que se
empenha claramente na defesa
de certas idéias, tende a ser
mais apreciado por quem já
simpatiza com elas, embora seu
desafio maior seja o de levar
quem não pensa da mesma forma a rever suas posições.
É para esse espectador que o
diretor e roteirista Vincent Garenq -documentarista e profissional de TV em seu primeiro longa para cinema- parece
se dirigir. Toma cuidados para
evitar que o público rotule
"Baby Love" de filme "gay" e
acaba por fazê-lo se parecer
com comédias norte-americanas para consumo de famílias.
Garenq diz que se inspirou
em história ocorrida com um
amigo chamado Manu. As conexões do filme com a sociedade em que vivemos, por sinal,
serão objeto do debate "Dois
Pais ou Duas Mães -Ainda
Existe Preconceito?", na próxima quinta-feira, dia 2, às 21h30,
na Reserva Cultural.
Os pais adotivos Paulo Borges e Leão Lobo participarão do
encontro com a psicóloga Vera
Moris, o juiz Eduardo Rezende
Mello e mediação do jornalista
Christian Petermann.
BABY LOVE
Produção: França, 2006
Direção: Vincent Garenq
Com: Lambert Wilson, Pilar López
de Ayala e Pascal Elbé
Onde: nos cines HSBC Belas Artes,
Cidade Jardim e circuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos
Avaliação: bom
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