São Paulo, sábado, 26 de outubro de 2002

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LIVRO/LANÇAMENTO

MÍDIA

Filho do ensaísta coordena edição crítica e inicia publicação de inéditos do professor em projeto que deve terminar em 2005

McLuhan retorna com a globalização

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

O mundo deu razão a Marshall McLuhan, professor canadense que declarou, no final dos anos 60, que o meio é a mensagem e que todos vivemos em uma aldeia global? Seu filho Eric, responsável pela edição crítica das obras de McLuhan -lançadas pela editora Gingko Press-, pensa ser sim a única resposta possível.
Eric McLuhan é o diretor do projeto dedicado à obra de seu pai, iniciado em 2000 e que deve ser finalizado em 2005. No início, as reedições receberam sua atenção e agora ele se volta para os "milhares de textos desconhecidos", como disse à Folha, por telefone, do Canadá. Inéditos de Marshall McLuhan começam a chegar ao leitor da era da internet, e ele explica os motivos.

Folha - Como está sendo feita a edição crítica?
Eric McLuhan -
Muito do trabalho esteve fora de catálogo por muitos anos ou foi simplesmente reimpresso. Mas, com o ressurgimento do interesse em seus livros, foi planejada uma edição crítica, porque nos encontramos diante de um desafio: atualizar seus escritos. Assim, lançamos os textos com um tratamento, com notas e outros recursos, para que o leitor entenda o quanto são atuais.

Folha - Por que esse retorno ao pensamento de Marshall McLuhan?
McLuhan -
Há um público interessado. A maioria das pessoas que se opuseram ao trabalho de Marshall McLuhan, nos anos 60 e 70, já se retiraram da vida acadêmica, e uma nova geração passou a ler seus livros com muito mais frescor, descobrindo como seu pensamento pode ser relevante para a situação que vivemos. McLuhan parece ser o único ao redor que indicou a maneira pela qual essas novas mídias podem ser estudadas. Ele está em um ponto de redescobrimento. Na verdade, parte do mundo universitário ainda não o aceita, talvez por ter ele possuído uma mente extremamente independente.

Folha - Mas sua obra vem recuperando espaço na academia?
McLuhan -
A academia ainda não gosta de McLuhan, porque não gosta de celebridades. Desconfia delas. Ou talvez haja ciúme, não sei exatamente como explicar.

Folha - O lançamento, neste mês, de "The Book of Probes", com aulas, discursos e aforismos, marca o início da edição do material inédito. O quanto resta ainda?
McLuhan -
Grande parte de seu trabalho foi feita com curtos artigos publicados em pequenos jornais e revistas. Algumas vezes ele contribuiu para publicações que duraram apenas dois ou três números. E por isso existem milhares, literalmente milhares de artigos praticamente desconhecidos, além de anotações, manuscritos; a tarefa consiste em localizar essa produção. Os arquivos nacionais do Canadá possuem quase a totalidade de seus manuscritos e documentos pessoais.

Folha - A internet seria responsável pelo interesse renovado em McLuhan?
McLuhan -
Acredito que sim. Ele falava da mídia eletrônica como uma extensão do corpo humano. E o sistema nervoso é a internet. Ele falava dessa situação em uma escala global, como no conceito de "aldeia global". McLuhan está de volta porque a globalização é um fato. As novas gerações descobrirão um tipo novo de imaginação. O trabalho de McLuhan começa com a literatura; ele era um professor da disciplina, voltado para a era elisabetana, e vivia nos anos 60 do século 20. Ele não era alguém interessado em tecnologia, mas alguém voltado para as pessoas, para o potencial do homem. Ele queria pensar sobre o que as pessoas podem fazer.


Onde encomendar: Gingko Press Inc. - tel. 00/xx/1/415/924-9615; e-mail: books@gingkopress.com

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