São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2007

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THIAGO NEY

A rebeldia em 2007

Se a música pop teve um pouco de rebeldia neste ano, boa parte é responsabilidade da cantora Britney Spears

O NOVO disco de Britney Spears, "Blackout", chega às lojas na semana que vem. O título não poderia ser mais irônico. Porque Britney estava sem lançar álbum desde 2003, mas nunca esteve tão em discussão como nos últimos dois anos.
Nem Pete Doherty nem Amy Winehouse foram tão minuciosamente escrutinados. Por quê? Talvez porque Britney já tenha vendido 80 milhões de cópias de seus discos. Talvez porque Britney esteja recusando o papel de princesinha pop.
A performance da cantora foi o assunto do VMA (a premiação da MTV americana) deste ano. Claro, ela fez playback e, no palco, tentando dançar e rebolar, parecia catatônica, mas o que realmente pareceu incomodar muita gente foi o fato de ela estar "gorda".
O que é engraçado: estamos há tempos criticando modelos e atrizes anoréxicas pelo mau exemplo que passam a crianças e adolescentes inseguras, mas, quando Britney aparece com um pouquinho de volume em seu abdômen, é achincalhada por não estar magérrima.

 

A cantora teve atitudes não muito elogiáveis, como bater em fotógrafos com guarda-chuva, mas foi massacrada porque foi vista em algumas noitadas sem calcinha. Sim, uma mulher de 25 anos ousou sair de casa e se deixou fotografar sem calcinha. Sem contar que, em outra ocasião, a meliante foi vista nas ruas de Los Angeles com os cabelos totalmente raspados. Sim, careca. Caramba... Chama o Bope!
 

Foi nesse clima que a cantora produziu "Blackout", que iria ser lançado em novembro, mas, devido à indesejada chegada à net, teve a data antecipada para a semana que vem. "Blackout" é um disco de produtor -nos créditos, aparecem vários deles. O destaque é Danja (que já trabalhou com Justin Timberlake).
Em "Piece of Me", Britney afirma: "Eu sou Miss América desde que tenho 17 anos/ (...) Um outro dia, um outro drama/ (...) Vocês querem um pedaço de mim". Já em "Why Should I Be Sad" canta: "Meus amigos diziam que você iria me enganar/ Mas eu dizia que eles estavam loucos/ Enquanto isso eu chorava, rezava/ Era tudo verdade?".
"Radar" e "Break the Ice" entram na seara de Rihanna e Beyoncé: batidas fortes, sintetizadores lascivos, jogos vocais. "Gimme More", "Toy Soldier" e "Perfect Lover" são divertidas, melhores do que qualquer coisa feita por Gwen Stefani e lembram os bons momentos de Nelly Furtado. Electro-pop, "Heaven on Earth" não ficaria fora de lugar num disco de Miss Kittin ou Scissor Sisters.
Ela provavelmente não queria e nem tem consciência disso, mas, se a música pop teve um pouco de rebeldia neste 2007, boa parte é responsabilidade de Britney Spears.
 

Da semana: Black Kids. Se o Arcade Fire fosse corajoso, faria canções como "I'm Not Gonna Teach Your Boyfriend How to Dance With You" e "I've Underestimated My Charm".

thiago@folhasp.com.br

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