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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@folha.com.br
Huis Clos se renova aos 30
Clô Orozco transfere a criação das coleções de sua grife para uma nova estilista e afirma que vai se concentrar no "lado empresarial"
A Huis Clos, uma das grifes
mais sofisticadas do país, comemora 30 anos neste mês
com uma mudança de impacto.
A estilista Clô Orozco está
transferindo a criação das coleções -função que ela exercia
desde o início da marca- para
Sara Kawasaki, de 28 anos.
As inúmeras fãs da Huis Clos,
no entanto, podem ficar tranqüilas. Sara, que estudou modelagem e moulage no Japão,
está na grife desde 2003 e foi
escolhida a dedo pela exigente
Clô. "Ela tem um olhar muito
apurado e uma técnica superdesenvolvida", diz a estilista. A
primeira coleção de Sara será
vista em janeiro, na próxima
São Paulo Fashion Week.
Clô, 56, vai permanecer na
direção-geral da grife e se concentrará mais na gestão dos negócios. "Quero cuidar do lado
empresarial. Tenho um problema de sucessão, pois não tenho
filhos. Além de um olhar novo,
minha marca precisa ser preparada para o futuro", conta, em
seu escritório na fábrica de
3.300 m2 na Barra Funda.
A estilista quer implementar
a exportação e expandir as lojas
tanto da Huis Clos como da
Maria Garcia -a linha mais jovem e menos cara da marca,
desenhada por Camila Cutolo.
Ela vai se dedicar também à linha Clô Orozco, de roupas de
festa, cuja primeira loja deve
ser aberta no ano que vem.
Não se pode dizer, porém,
que Clô deixou de cuidar do lado empresarial nesses anos todos. Em três décadas, construiu uma marca sólida, conceituada e muito desejada pelas mulheres brasileiras mais
antenadas. Para elas, vestir
uma roupa Huis Clos é uma espécie de garantia de que estarão elegantes e modernas
-além de ser um sinal de inteligência e de cultura de moda.
Era tudo que a própria Clô
queria para ela mesma, quando
começou a criar. "Sempre trabalhei como se fizesse roupas
que eu mesma fosse usar, buscando um estilo sofisticado,
mas contemporâneo; elegante,
mas sem exageros. O exagero é
deselegante", afirma a estilista.
Neta de espanhóis, a paulistana Clotilde Maria Orozco de
García educou-se em colégio
de freiras no interior de São
Paulo. Sua mãe foi dona de um
dos salões de beleza mais famosos dos anos 60, o Oásis. O pai
era comunista. "Ele detestava
tudo que era supérfluo. Por isso eu fiquei fútil", brinca Clô.
Antes de ficar fútil, ela também flertou com o comunismo.
"Que jovem não acreditava em
utopias nos anos 60 e 70? Só
não militei por falta de coragem", diz. Aos 19, deixou Bragança Paulista (SP), onde vivia
com o pai, e veio para São Paulo
estudar sociologia política.
Para pagar a faculdade, trabalhou num banco e fazia suas
próprias roupas com a ajuda
das tias Mariquita e Lídia, donas de um ateliê na rua Augusta. As roupas agradaram tanto
as amigas, que elas sugeriram
que Clô criasse uma coleção.
Ela não se entusiasmou com
a idéia, mas decidiu abrir uma
loja multimarcas na rua Pamplona, onde também vendia as
suas criações. Foi entre os negócios da loja que ela conheceu
o primeiro marido, o estilista
Renato Kherlakian, da Zoomp.
A multimarcas fechou, mas
ela continuou vendendo as
roupas que desenhava no atacado. Logo abriu outra loja, na
rua Mario Ferraz, no Itaim, só
com as suas criações. Foram os
primórdios da empresa Huis
Clos, que hoje tem sete lojas no
país -sem contar as duas da
Maria Garcia-, exporta para os
EUA, a Inglaterra e países da
Europa e faz planos para entrar
no mercado japonês em 2009.
"Busco sempre a liberdade da mulher", diz Clô
Pouca gente teria a ousadia
-e o humor- de dar a uma grife de roupas o nome de "Huis
Clos", o mesmo da sombria peça de Jean-Paul Sartre escrita
em 1943, em que três personagens enfrentam a portas fechadas o absurdo da existência e,
de repente, um deles exclama
uma das frases que marcariam
a segunda metade do século 20:
"O inferno são os Outros".
Clô Orozco resolveu correr o
risco. Quando pensava na criação de sua grife, logo sentiu que
o nome Huis Clos lhe caía como
uma luva. Não só porque remetia à peça que ela adorava, mas
porque, afinal, brincava também com o seu apelido.
Mas, se o clima da peça tem
pouco a ver com o estilo da
Huis Clos, muito leve e dinâmico, a grife com certeza deve algo
à paixão sartriana -que, junto
com o feminismo de Simone de
Beauvoir, influenciou tanto a
geração da estilista.
"O homem está condenado a
ser livre", disse o filósofo em
outra parte. Na Huis Clos, a frase poderia ecoar assim: "A mulher deve buscar a liberdade".
"Sempre busco a liberdade
para a mulher. Não só no sentido do conforto, do movimento,
mas também de espírito. A elegância hoje passa por esse sentido de liberdade", diz Clô.
O segredo da grife é esse seu
gosto pela liberdade, seu modo
de pensar a mulher contemporânea sem nostalgias nem fetiches. "Não sou fetichista, como
ocorre freqüentemente na moda, sobretudo com estilistas homens", afirma a estilista.
No caso da Huis Clos, a liberdade vai junto com muito rigor
na concepção e na confecção.
"Para uma coleção, começo escolhendo a cartela de cores, depois discutimos as proporções
e, em terceiro lugar, os tecidos.
Raramente parto de temas,
pois eles amarram muito a criatividade", conta a estilista.
Não é fácil manter um negócio assim no Brasil. Para começar, a indústria têxtil do país está atrasada em décadas. "Fora o
algodão e a seda, preciso importar todos os tecidos."
Além disso, há o complexo de
inferioridade do país. "A mulher brasileira com dinheiro
tem comportamento colonizado. Deveria ter mais orgulho de
usar roupa brasileira", diz Clô,
que se recusou a jogar todas as
utopias no lixo da história.
com VIVIAN WHITEMAN
Livros/lançamentos
Gloria Kalil ensina a nova etiqueta
Será que dá para casar de vestido pink na igreja? E usar roupas decotadas no trabalho? E
tirar os sapatos no cinema? Se
você ficou em dúvida, Gloria
Kalil pode te dar uma luz.
A consultora de moda e diretora do site de moda Chic responde a essas e a outras perguntas em seu novo livro, "Alô,
Chics!", que será lançado na
próxima terça-feira, dia 30, a
partir das 18h30, na Livraria
Cultura (av. Paulista, 2.073).
O evento começa com uma
palestra da autora, no auditório
Eva Herz, seguida de uma sessão de autógrafos.
As dúvidas respondidas no livro foram enviadas por internautas, ouvintes e telespectadores: além do site, a fashionista comanda também um programa de rádio e atua na TV.
Num tom divertido, em linguagem direta, Gloria descomplica as regras de etiqueta urbana e ensina como escapar, com
muita elegância, de micos e de
situações constrangedoras do
cotidiano nas grandes cidades.
"Alô, Chics!" sai pela Ediouro, com tiragem inicial de 50
mil cópias. Este é o quarto livro
de Gloria. Antes, vieram "Chic"
(1996), "Chic Homem" (1998) e
"Chic[érrimo]" (2003).
ALÔ, CHICS!
Autora: Gloria Kalil
Editora: Ediouro (224 págs.)
Quanto: R$ 39,90
À FLOR DA PELE
Em "A Edição do Corpo"
(Estação das Letras, 274 páginas, R$ 38), a antropóloga
Nízia Villaça faz um estudo
sobre as relações das novas
tecnologias, da arte e da moda com a cultura contemporânea do corpo. O livro traça
um histórico das mudanças
desde a década de 50 até o
momento atual.
MULHERES NAS RUAS
Na década de 20, o surgimento das lojas de departamentos mudou os hábitos de
consumo e facilitou o acesso
das mulheres da elite paulistana às ruas. Essa relação entre compras e espaço público
é analisada pela historiadora
Maria Claudia Bonadio em
"Moda e Sociabilidade" (Senac, 208 páginas, R$ 47).
CINDERELA MODERNA
Fashionistas de peso como
a top Gisele Bündchen e a estilista Vivienne Westwood
dão dicas de beleza e estilo
no divertido "Como Andar
de Salto Alto" (Matrix, 503
páginas, R$ 49,90), da jornalista Camilla Morton. A autora já trabalhou na "Vogue"
e com o estilista John Galliano, que escreveu o prefácio.
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