São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2007

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@folha.com.br

Huis Clos se renova aos 30

Clô Orozco transfere a criação das coleções de sua grife para uma nova estilista e afirma que vai se concentrar no "lado empresarial"

A Huis Clos, uma das grifes mais sofisticadas do país, comemora 30 anos neste mês com uma mudança de impacto. A estilista Clô Orozco está transferindo a criação das coleções -função que ela exercia desde o início da marca- para Sara Kawasaki, de 28 anos.
As inúmeras fãs da Huis Clos, no entanto, podem ficar tranqüilas. Sara, que estudou modelagem e moulage no Japão, está na grife desde 2003 e foi escolhida a dedo pela exigente Clô. "Ela tem um olhar muito apurado e uma técnica superdesenvolvida", diz a estilista. A primeira coleção de Sara será vista em janeiro, na próxima São Paulo Fashion Week.
Clô, 56, vai permanecer na direção-geral da grife e se concentrará mais na gestão dos negócios. "Quero cuidar do lado empresarial. Tenho um problema de sucessão, pois não tenho filhos. Além de um olhar novo, minha marca precisa ser preparada para o futuro", conta, em seu escritório na fábrica de 3.300 m2 na Barra Funda.
A estilista quer implementar a exportação e expandir as lojas tanto da Huis Clos como da Maria Garcia -a linha mais jovem e menos cara da marca, desenhada por Camila Cutolo. Ela vai se dedicar também à linha Clô Orozco, de roupas de festa, cuja primeira loja deve ser aberta no ano que vem.
Não se pode dizer, porém, que Clô deixou de cuidar do lado empresarial nesses anos todos. Em três décadas, construiu uma marca sólida, conceituada e muito desejada pelas mulheres brasileiras mais antenadas. Para elas, vestir uma roupa Huis Clos é uma espécie de garantia de que estarão elegantes e modernas -além de ser um sinal de inteligência e de cultura de moda.
Era tudo que a própria Clô queria para ela mesma, quando começou a criar. "Sempre trabalhei como se fizesse roupas que eu mesma fosse usar, buscando um estilo sofisticado, mas contemporâneo; elegante, mas sem exageros. O exagero é deselegante", afirma a estilista.
Neta de espanhóis, a paulistana Clotilde Maria Orozco de García educou-se em colégio de freiras no interior de São Paulo. Sua mãe foi dona de um dos salões de beleza mais famosos dos anos 60, o Oásis. O pai era comunista. "Ele detestava tudo que era supérfluo. Por isso eu fiquei fútil", brinca Clô.
Antes de ficar fútil, ela também flertou com o comunismo. "Que jovem não acreditava em utopias nos anos 60 e 70? Só não militei por falta de coragem", diz. Aos 19, deixou Bragança Paulista (SP), onde vivia com o pai, e veio para São Paulo estudar sociologia política.
Para pagar a faculdade, trabalhou num banco e fazia suas próprias roupas com a ajuda das tias Mariquita e Lídia, donas de um ateliê na rua Augusta. As roupas agradaram tanto as amigas, que elas sugeriram que Clô criasse uma coleção.
Ela não se entusiasmou com a idéia, mas decidiu abrir uma loja multimarcas na rua Pamplona, onde também vendia as suas criações. Foi entre os negócios da loja que ela conheceu o primeiro marido, o estilista Renato Kherlakian, da Zoomp.
A multimarcas fechou, mas ela continuou vendendo as roupas que desenhava no atacado. Logo abriu outra loja, na rua Mario Ferraz, no Itaim, só com as suas criações. Foram os primórdios da empresa Huis Clos, que hoje tem sete lojas no país -sem contar as duas da Maria Garcia-, exporta para os EUA, a Inglaterra e países da Europa e faz planos para entrar no mercado japonês em 2009.

"Busco sempre a liberdade da mulher", diz Clô

Pouca gente teria a ousadia -e o humor- de dar a uma grife de roupas o nome de "Huis Clos", o mesmo da sombria peça de Jean-Paul Sartre escrita em 1943, em que três personagens enfrentam a portas fechadas o absurdo da existência e, de repente, um deles exclama uma das frases que marcariam a segunda metade do século 20: "O inferno são os Outros".
Clô Orozco resolveu correr o risco. Quando pensava na criação de sua grife, logo sentiu que o nome Huis Clos lhe caía como uma luva. Não só porque remetia à peça que ela adorava, mas porque, afinal, brincava também com o seu apelido.
Mas, se o clima da peça tem pouco a ver com o estilo da Huis Clos, muito leve e dinâmico, a grife com certeza deve algo à paixão sartriana -que, junto com o feminismo de Simone de Beauvoir, influenciou tanto a geração da estilista.
"O homem está condenado a ser livre", disse o filósofo em outra parte. Na Huis Clos, a frase poderia ecoar assim: "A mulher deve buscar a liberdade".
"Sempre busco a liberdade para a mulher. Não só no sentido do conforto, do movimento, mas também de espírito. A elegância hoje passa por esse sentido de liberdade", diz Clô.
O segredo da grife é esse seu gosto pela liberdade, seu modo de pensar a mulher contemporânea sem nostalgias nem fetiches. "Não sou fetichista, como ocorre freqüentemente na moda, sobretudo com estilistas homens", afirma a estilista.
No caso da Huis Clos, a liberdade vai junto com muito rigor na concepção e na confecção. "Para uma coleção, começo escolhendo a cartela de cores, depois discutimos as proporções e, em terceiro lugar, os tecidos. Raramente parto de temas, pois eles amarram muito a criatividade", conta a estilista.
Não é fácil manter um negócio assim no Brasil. Para começar, a indústria têxtil do país está atrasada em décadas. "Fora o algodão e a seda, preciso importar todos os tecidos."
Além disso, há o complexo de inferioridade do país. "A mulher brasileira com dinheiro tem comportamento colonizado. Deveria ter mais orgulho de usar roupa brasileira", diz Clô, que se recusou a jogar todas as utopias no lixo da história.


com VIVIAN WHITEMAN

Livros/lançamentos

Gloria Kalil ensina a nova etiqueta

Será que dá para casar de vestido pink na igreja? E usar roupas decotadas no trabalho? E tirar os sapatos no cinema? Se você ficou em dúvida, Gloria Kalil pode te dar uma luz.
A consultora de moda e diretora do site de moda Chic responde a essas e a outras perguntas em seu novo livro, "Alô, Chics!", que será lançado na próxima terça-feira, dia 30, a partir das 18h30, na Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073).
O evento começa com uma palestra da autora, no auditório Eva Herz, seguida de uma sessão de autógrafos.
As dúvidas respondidas no livro foram enviadas por internautas, ouvintes e telespectadores: além do site, a fashionista comanda também um programa de rádio e atua na TV. Num tom divertido, em linguagem direta, Gloria descomplica as regras de etiqueta urbana e ensina como escapar, com muita elegância, de micos e de situações constrangedoras do cotidiano nas grandes cidades.
"Alô, Chics!" sai pela Ediouro, com tiragem inicial de 50 mil cópias. Este é o quarto livro de Gloria. Antes, vieram "Chic" (1996), "Chic Homem" (1998) e "Chic[érrimo]" (2003).


ALÔ, CHICS!
Autora:
Gloria Kalil
Editora: Ediouro (224 págs.)
Quanto: R$ 39,90


À FLOR DA PELE
Em "A Edição do Corpo" (Estação das Letras, 274 páginas, R$ 38), a antropóloga Nízia Villaça faz um estudo sobre as relações das novas tecnologias, da arte e da moda com a cultura contemporânea do corpo. O livro traça um histórico das mudanças desde a década de 50 até o momento atual.

MULHERES NAS RUAS
Na década de 20, o surgimento das lojas de departamentos mudou os hábitos de consumo e facilitou o acesso das mulheres da elite paulistana às ruas. Essa relação entre compras e espaço público é analisada pela historiadora Maria Claudia Bonadio em "Moda e Sociabilidade" (Senac, 208 páginas, R$ 47).

CINDERELA MODERNA
Fashionistas de peso como a top Gisele Bündchen e a estilista Vivienne Westwood dão dicas de beleza e estilo no divertido "Como Andar de Salto Alto" (Matrix, 503 páginas, R$ 49,90), da jornalista Camilla Morton. A autora já trabalhou na "Vogue" e com o estilista John Galliano, que escreveu o prefácio.


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