|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Waltercio Caldas explora contrastes em individual
Artista carioca, celebrado no exterior, tem rara exposição no Museu Vale (ES)
Instalações nunca vistas no Brasil ou montadas uma única vez estão entre os destaques da retrospectiva "Salas e Abismos"
MARIO GIOIA
ENVIADO ESPECIAL A VILA VELHA (ES)
Círculos e retas, planos
translúcidos de vidro e ambientes inteiramente negros, instalações vertiginosas e trabalhos
aparentemente inertes.
O artista carioca Waltercio
Caldas, 62, parece gostar de explorar os contrastes da própria
obra, em uma mostra que quase
serve de retrospectiva, aberta
anteontem no Museu Vale, em
Vila Velha (ES).
A importância da exposição
se dá pela raridade com que
Waltercio expõe no Brasil. Um
dos mais prestigiados artistas
brasileiros no exterior, ao lado
de Cildo Meireles e Tunga, é
nome comum em grandes mostras -Documenta de Kassel,
em 1992, e a Bienal de Veneza,
em 1997 e em 2007-, mas tem
poucas individuais no país.
"Fiquei muito feliz com o
convite do Museu Vale, porque
foi a oportunidade de exibir para o público brasileiro instalações nunca vistas no país ou
montadas uma única vez", diz.
O artista fez sua primeira individual em 1973, no MAM-RJ,
e foi nome-chave na arte experimental brasileira daquela década, quando esteve à frente da
revista "Malasartes".
"Salas e Abismos" reúne nove ambientes criados por Waltercio desde 1980, entre eles
um inédito, "O Silêncio do
Mundo", que introduz o público no galpão de 800 m2.
"O Silêncio..." é uma obra
imersiva, em que mesas de granito abrigam planos metálicos,
esferas de ônix e pedaços de camurça, todos negros, mas que,
banhados por uma luz azul, adquirem outros tons.
"Quis começar a mostra com
uma obra silenciosa e que captura o espectador também pela
ambientação. Nas mesas, há diversos elementos que perpassam a minha obra", afirma ele.
Na sala seguinte, a instalação
"A Velocidade", apresentada
anteriormente na Bienal de
São Paulo, em 1983, lança o público num espaço vertiginoso.
Duas paredes brancas reúnem centenas de antigas caixinhas de chiclete, com o logotipo raspado. Em uma das paredes, as caixinhas foram pintadas de branco.
"Gostaria que o espectador
corresse por aqui para ter uma
sensação próxima da vertigem.
A exposição, assim, é formada
por ambientes estridentes, como esse, e silenciosos, como o
que a inaugura."
Jogo misterioso
O ambiente mais antigo da
mostra é "Ping-Ping", de 1980,
pertencente ao MAM-RJ.
Enigmática instalação, reúne
uma mesa de pingue-pongue
como tela, ao fundo, e outros
elementos, como uma rede de
jogo, uma bolinha, óculos e
uma raquete perfurada.
"Pensar é uma grande emoção", diz o artista, não revelando sentidos do trabalho.
A exposição ainda tem ambientes vistos em países como
Espanha, Portugal, Reino Unido e Itália, como "Meio Espelho Sustenido", um dos destaques da Bienal de Veneza de
2007. Planos de vidro, linhas de
metal, fios pendurados e retângulos de cor compõem a obra.
"Se o visitante fosse transparente, seria perfeito", brinca
Waltercio, que ganha livro pela
Cosac Naify no ano que vem.
O jornalista MARIO GIOIA viajou a convite do
Museu Vale
SALAS E ABISMOS
Quando: de ter. a qui., sáb. e dom., das
10h às 18h, e sex., das 12h às 20h; até
21/2
Onde: Museu Vale (pátio da antiga estação Pedro Nolasco, s/nº, Vila Velha,
ES, tel. 0/xx/27/3333-2484); livre
Quanto: entrada franca
Texto Anterior: Crítica/"Alga Doce": Em tom triste, Wajda deixa de lado a grande história e reflete sobre a morte Próximo Texto: Comentário: Heróis de "Two and a Half Men" têm mulheres como alvo Índice
|