São Paulo, segunda-feira, 26 de outubro de 2009

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Waltercio Caldas explora contrastes em individual

Artista carioca, celebrado no exterior, tem rara exposição no Museu Vale (ES)

Instalações nunca vistas no Brasil ou montadas uma única vez estão entre os destaques da retrospectiva "Salas e Abismos"

MARIO GIOIA
ENVIADO ESPECIAL A VILA VELHA (ES)

Círculos e retas, planos translúcidos de vidro e ambientes inteiramente negros, instalações vertiginosas e trabalhos aparentemente inertes.
O artista carioca Waltercio Caldas, 62, parece gostar de explorar os contrastes da própria obra, em uma mostra que quase serve de retrospectiva, aberta anteontem no Museu Vale, em Vila Velha (ES).
A importância da exposição se dá pela raridade com que Waltercio expõe no Brasil. Um dos mais prestigiados artistas brasileiros no exterior, ao lado de Cildo Meireles e Tunga, é nome comum em grandes mostras -Documenta de Kassel, em 1992, e a Bienal de Veneza, em 1997 e em 2007-, mas tem poucas individuais no país.
"Fiquei muito feliz com o convite do Museu Vale, porque foi a oportunidade de exibir para o público brasileiro instalações nunca vistas no país ou montadas uma única vez", diz.
O artista fez sua primeira individual em 1973, no MAM-RJ, e foi nome-chave na arte experimental brasileira daquela década, quando esteve à frente da revista "Malasartes".
"Salas e Abismos" reúne nove ambientes criados por Waltercio desde 1980, entre eles um inédito, "O Silêncio do Mundo", que introduz o público no galpão de 800 m2.
"O Silêncio..." é uma obra imersiva, em que mesas de granito abrigam planos metálicos, esferas de ônix e pedaços de camurça, todos negros, mas que, banhados por uma luz azul, adquirem outros tons.
"Quis começar a mostra com uma obra silenciosa e que captura o espectador também pela ambientação. Nas mesas, há diversos elementos que perpassam a minha obra", afirma ele.
Na sala seguinte, a instalação "A Velocidade", apresentada anteriormente na Bienal de São Paulo, em 1983, lança o público num espaço vertiginoso.
Duas paredes brancas reúnem centenas de antigas caixinhas de chiclete, com o logotipo raspado. Em uma das paredes, as caixinhas foram pintadas de branco. "Gostaria que o espectador corresse por aqui para ter uma sensação próxima da vertigem.
A exposição, assim, é formada por ambientes estridentes, como esse, e silenciosos, como o que a inaugura."

Jogo misterioso
O ambiente mais antigo da mostra é "Ping-Ping", de 1980, pertencente ao MAM-RJ.
Enigmática instalação, reúne uma mesa de pingue-pongue como tela, ao fundo, e outros elementos, como uma rede de jogo, uma bolinha, óculos e uma raquete perfurada.
"Pensar é uma grande emoção", diz o artista, não revelando sentidos do trabalho.
A exposição ainda tem ambientes vistos em países como Espanha, Portugal, Reino Unido e Itália, como "Meio Espelho Sustenido", um dos destaques da Bienal de Veneza de 2007. Planos de vidro, linhas de metal, fios pendurados e retângulos de cor compõem a obra.
"Se o visitante fosse transparente, seria perfeito", brinca Waltercio, que ganha livro pela Cosac Naify no ano que vem.


O jornalista MARIO GIOIA viajou a convite do Museu Vale

SALAS E ABISMOS

Quando: de ter. a qui., sáb. e dom., das 10h às 18h, e sex., das 12h às 20h; até 21/2
Onde: Museu Vale (pátio da antiga estação Pedro Nolasco, s/nº, Vila Velha, ES, tel. 0/xx/27/3333-2484); livre
Quanto: entrada franca


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