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DISCO/CRÍTICA
Eminem retorna sem ter o que falar
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Eminem passou os últimos
anos xingando e brigando
com Moby, Britney Spears, Everlast, Will Smith, Jennifer Lopez,
com a ex-mulher, com o Canadá e
a Austrália (dois juízes tentaram
em vão impedi-lo de entrar nos
países), com a "The Source" (uma
das principais revistas de rap dos
EUA), com os gays norte-americanos, com as feministas norte-americanas... Além de ser processado pela própria mãe. E de ter sido chamado por George W. Bush
de "a maior ameaça às crianças da
América desde a pólio".
Mas Eminem também foi comparado a Bob Dylan, a John Lennon, a James Dean, aos poetas
W.B. Yeats e Robert Browning, foi
chamado pela revista "Newsweek" de "mais importante artista pop do mundo", classificado
como "adorável" por sir Elton
John (que é gay) e foi tema de um
ensaio de 8.000 palavras publicado pelo "New York Times" e assinado por Frank Rich, um dos
mais influentes colunistas do
mais influente jornal do planeta.
Além de ter "nas costas" mais de
40 milhões de discos vendidos.
Goste ou não, Eminem é personagem que importa no mundo da
música. Fale sobre sua vida ou sobre a vida dos outros, sobre a filha
Hailie ou sobre os parceiros sexuais de Christina Aguilera, ele
sempre é ouvido. Isso porque este
que é um dos únicos rappers
brancos realmente respeitados no
universo hip hop sabe brincar
com as palavras e (des)ordená-las
dentro de uma canção.
Cultura pop, trash, ofensas pessoais, brigas, violência... tudo é assunto para Eminem e é transformado em histórias disparadas em
velocidade alta. O problema com
"Encore", seu quinto álbum, que
chega ao Brasil, é que o rapper parece cansado, sem ter o que falar
-e nem Michael Jackson e Bush
como os alvos da hora resolvem.
Eminem nasceu Marshall Bruce
Mathers 3º (em 1972), adotou o
apelido Slim Shady para o segundo disco, no seguinte foi Marshall
Mathers e retornou a Eminem para o quarto CD. Para "Encore",
sobrou a celebridade entediada.
A pista inicial de como seria o
álbum veio com "Just Lose It", o
primeiro single. É uma tiração de
onda semelhante à de "Without
Me" -o primeiro single do disco
anterior-, mas sem a esperteza
lírica e o balanço dance daquele.
Mas Eminem conseguiu atenção,
principalmente pelo vídeo e a gozação com Michael Jackson.
Em seguida veio "Mosh", música que "apareceu" na internet
pouco antes das eleições norte-americanas deste mês. "Venha
junto, siga-me enquanto eu o
conduzo no meio da escuridão/
Eu providenciarei a luz de que
precisamos/ (...) Deposite sua fé e
sua confiança enquanto eu o guio
no meio da neblina/ À luz no fim
do túnel, nós vamos lutar", canta
Eminem, por cima de uma batida
hipnótica, soturna. É melhor do
que qualquer canção "política"
que REM e Bruce Springsteen
tentaram fazer ultimamente e é
um dos pontos altos de "Encore".
Outra inspirada é "Rain Man",
em que entram Darth Vader, a Bíblia, Christopher Reeve e (de novo) Bush. Eminem tenta articular
uma resposta àqueles que o
acham ofensivo, mas depois se
rende e diz: "Acabei de fazer uma
canção inteira e não disse nada".
Mas não há nada muito mais excitante do que isso. Não se comparado ao que Eminem já fez, como "The Marshall Mathers LP",
que é um dos mais importantes
discos do pop recente, ou canções
como "Stan", "Cleaning Out My
Closet", "The Way I Am", "My
Name Is", "97 Bonnie & Clyde"...
Em "Encore", Eminem não tem
muito o que falar, e o disco, co-produzido por Dr. Dre, também
não traz nada de muito contagiante em sua parte musical; as
canções parecem se arrastar num
sem-fim monótono. Não é preciso ir muito longe: "The College
Dropout", disco de Kanye West, e
"Drop It Like It's Hot", música de
Snoop Dogg e Pharrell Williams,
mostram para onde o rap está caminhando. E não é para a mesma
direção de "Encore".
Encore
Artista: Eminem
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 35, em média
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