São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2004

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DISCO/CRÍTICA

Eminem retorna sem ter o que falar

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Eminem passou os últimos anos xingando e brigando com Moby, Britney Spears, Everlast, Will Smith, Jennifer Lopez, com a ex-mulher, com o Canadá e a Austrália (dois juízes tentaram em vão impedi-lo de entrar nos países), com a "The Source" (uma das principais revistas de rap dos EUA), com os gays norte-americanos, com as feministas norte-americanas... Além de ser processado pela própria mãe. E de ter sido chamado por George W. Bush de "a maior ameaça às crianças da América desde a pólio".
Mas Eminem também foi comparado a Bob Dylan, a John Lennon, a James Dean, aos poetas W.B. Yeats e Robert Browning, foi chamado pela revista "Newsweek" de "mais importante artista pop do mundo", classificado como "adorável" por sir Elton John (que é gay) e foi tema de um ensaio de 8.000 palavras publicado pelo "New York Times" e assinado por Frank Rich, um dos mais influentes colunistas do mais influente jornal do planeta. Além de ter "nas costas" mais de 40 milhões de discos vendidos.
Goste ou não, Eminem é personagem que importa no mundo da música. Fale sobre sua vida ou sobre a vida dos outros, sobre a filha Hailie ou sobre os parceiros sexuais de Christina Aguilera, ele sempre é ouvido. Isso porque este que é um dos únicos rappers brancos realmente respeitados no universo hip hop sabe brincar com as palavras e (des)ordená-las dentro de uma canção.
Cultura pop, trash, ofensas pessoais, brigas, violência... tudo é assunto para Eminem e é transformado em histórias disparadas em velocidade alta. O problema com "Encore", seu quinto álbum, que chega ao Brasil, é que o rapper parece cansado, sem ter o que falar -e nem Michael Jackson e Bush como os alvos da hora resolvem.
Eminem nasceu Marshall Bruce Mathers 3º (em 1972), adotou o apelido Slim Shady para o segundo disco, no seguinte foi Marshall Mathers e retornou a Eminem para o quarto CD. Para "Encore", sobrou a celebridade entediada.
A pista inicial de como seria o álbum veio com "Just Lose It", o primeiro single. É uma tiração de onda semelhante à de "Without Me" -o primeiro single do disco anterior-, mas sem a esperteza lírica e o balanço dance daquele. Mas Eminem conseguiu atenção, principalmente pelo vídeo e a gozação com Michael Jackson.
Em seguida veio "Mosh", música que "apareceu" na internet pouco antes das eleições norte-americanas deste mês. "Venha junto, siga-me enquanto eu o conduzo no meio da escuridão/ Eu providenciarei a luz de que precisamos/ (...) Deposite sua fé e sua confiança enquanto eu o guio no meio da neblina/ À luz no fim do túnel, nós vamos lutar", canta Eminem, por cima de uma batida hipnótica, soturna. É melhor do que qualquer canção "política" que REM e Bruce Springsteen tentaram fazer ultimamente e é um dos pontos altos de "Encore".
Outra inspirada é "Rain Man", em que entram Darth Vader, a Bíblia, Christopher Reeve e (de novo) Bush. Eminem tenta articular uma resposta àqueles que o acham ofensivo, mas depois se rende e diz: "Acabei de fazer uma canção inteira e não disse nada".
Mas não há nada muito mais excitante do que isso. Não se comparado ao que Eminem já fez, como "The Marshall Mathers LP", que é um dos mais importantes discos do pop recente, ou canções como "Stan", "Cleaning Out My Closet", "The Way I Am", "My Name Is", "97 Bonnie & Clyde"...
Em "Encore", Eminem não tem muito o que falar, e o disco, co-produzido por Dr. Dre, também não traz nada de muito contagiante em sua parte musical; as canções parecem se arrastar num sem-fim monótono. Não é preciso ir muito longe: "The College Dropout", disco de Kanye West, e "Drop It Like It's Hot", música de Snoop Dogg e Pharrell Williams, mostram para onde o rap está caminhando. E não é para a mesma direção de "Encore".


Encore
  
Artista: Eminem
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 35, em média



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