São Paulo, sábado, 26 de novembro de 2005

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DANÇA

"A Cuatro Voces", da cia. de Eva Yerbabuena, inspira-se em versos espanhóis

Espetáculo rima flamenco com poesia

LUCIANA ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Sob a caligrafia dos corpos que se lê em "A Cuatro Voces", em cartaz hoje e amanhã, no Teatro Alfa, em São Paulo, há a leitura de quatro poetas feita pela companhia de Eva Yerbabuena, ícone do flamenco. "Vicente Aleixandre é a perfeição, Federico García Lorca, a inspiração, Miguel Hernández, a fortaleza, e Blás Otero, o compromisso consigo mesmo", afirma a coreógrafa e bailarina, para quem esses são elementos essenciais da arte.
"Era preciso ler e sentir os poemas e biografias para saber o que transmitir na dança", ressalta Yerbabuena, remetendo a outra de suas reflexões: "Creio que um poeta sonha em ver seus versos esboçados em um corpo humano, e um bailarino, em ver sua dança em um poema". Por isso, antes que qualquer movimento fosse rascunhado, bailarinos debruçaram-se sobre os versos e vivências desses poetas espanhóis da geração de 27, com exceção de Otero.
Lorca foi fuzilado pelos franquistas durante a Guerra Civil Espanhola. Miguel Hernández foi condenado a 30 anos de prisão, onde morreu em 1942. Como esses, Aleixandre também teve sua obra censurada pelo regime autoritário. E todos, incluindo Otero, escreveram versos com forte viés social.
Assim, os sentimentos despertados no grupo durante as leituras foram o ponto de partida para que Yerbabuena "escrevesse" o balé, "rimando" por meio do flamenco a repressão do momento histórico vivido por tais poetas com a atualidade de catástrofes e injustiças. Sua mensagem, entretanto, transcende passado e presente. "Nenhum deles morreu. Viverão eternamente em sua poesia", conclui Yerbabuena.
"Em cena, nada se trata de entender, mas de sentir", destaca a coreógrafa. Extravasamento que também se dá na música de Paco Jarana, nas letras de Horácio Garcia, na cenografia límpida e no figurino sóbrio em branco, negro, roxo e amarelo.
E, se é difícil descrever o espetáculo, Yerbabuena recorre a uma anotação. "A vida é uma possibilidade de existir. A criação uma forma de perdurar. A arte é a existência da criação que perdura eternamente." É o que se lê em sua caligrafia sobre o papel e o que se pode sentir na traçada sobre o palco.


A Cuatro Voces
Quando:
hoje, às 21h; amanhã, às 18h
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, SP, tel. 0/xx/11/ 5693-4000)
Quanto: R$ 30 a R$ 90 (ingressos esgotados)


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