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DANÇA
"A Cuatro Voces", da cia. de Eva Yerbabuena, inspira-se em versos espanhóis
Espetáculo rima flamenco com poesia
LUCIANA ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Sob a caligrafia dos corpos que
se lê em "A Cuatro Voces", em
cartaz hoje e amanhã, no Teatro
Alfa, em São Paulo, há a leitura de
quatro poetas feita pela companhia de Eva Yerbabuena, ícone do
flamenco. "Vicente Aleixandre é a
perfeição, Federico García Lorca,
a inspiração, Miguel Hernández, a
fortaleza, e Blás Otero, o compromisso consigo mesmo", afirma a
coreógrafa e bailarina, para quem
esses são elementos essenciais da
arte.
"Era preciso ler e sentir os poemas e biografias para saber o que
transmitir na dança", ressalta
Yerbabuena, remetendo a outra
de suas reflexões: "Creio que um
poeta sonha em ver seus versos
esboçados em um corpo humano,
e um bailarino, em ver sua dança
em um poema". Por isso, antes
que qualquer movimento fosse
rascunhado, bailarinos debruçaram-se sobre os versos e vivências
desses poetas espanhóis da geração de 27, com exceção de Otero.
Lorca foi fuzilado pelos franquistas durante a Guerra Civil Espanhola. Miguel Hernández foi
condenado a 30 anos de prisão,
onde morreu em 1942. Como esses, Aleixandre também teve sua
obra censurada pelo regime autoritário. E todos, incluindo Otero,
escreveram versos com forte viés
social.
Assim, os sentimentos despertados no grupo durante as leituras
foram o ponto de partida para
que Yerbabuena "escrevesse" o
balé, "rimando" por meio do flamenco a repressão do momento
histórico vivido por tais poetas
com a atualidade de catástrofes e
injustiças. Sua mensagem, entretanto, transcende passado e presente. "Nenhum deles morreu.
Viverão eternamente em sua poesia", conclui Yerbabuena.
"Em cena, nada se trata de entender, mas de sentir", destaca a
coreógrafa. Extravasamento que
também se dá na música de Paco
Jarana, nas letras de Horácio Garcia, na cenografia límpida e no figurino sóbrio em branco, negro,
roxo e amarelo.
E, se é difícil descrever o espetáculo, Yerbabuena recorre a uma
anotação. "A vida é uma possibilidade de existir. A criação uma forma de perdurar. A arte é a existência da criação que perdura eternamente." É o que se lê em sua caligrafia sobre o papel e o que se pode sentir na traçada sobre o palco.
A Cuatro Voces
Quando: hoje, às 21h; amanhã, às 18h
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722, SP, tel. 0/xx/11/
5693-4000)
Quanto: R$ 30 a R$ 90 (ingressos esgotados)
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