São Paulo, segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

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POLÍTICA CULTURAL

"Família Alcântara", que vencera concurso de apoio ao cinema em 2004, ganhou também em 2005

Governo paulista premia filme duas vezes

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um mesmo filme venceu duas vezes seguidas o concurso de apoio ao cinema da Secretaria Estadual da Cultura de São Paulo.
O documentário "Família Alcântara" estava entre os ganhadores da disputa de comercialização -que dá verba para o lançamento de filmes no cinema- no ano passado. Neste ano, "Família Alcântara" está de novo na lista de vencedores da mesma categoria.
O edital do concurso afirma que "serão indeferidas as inscrições de projetos selecionados nos programas de fomento realizados em 2003 e 2004, na mesma categoria".
A secretaria informa que "o filme "Família Alcântara" foi premiado em 2004, mas eliminado posteriormente, por falta de documentação". A assessoria do secretário diz que o valor do prêmio foi repassado "a um outro filme", mas não soube informar qual.
Daniel Santiago, diretor do documentário, diz que seu prêmio em 2004 era de "mais ou menos R$ 112 mil" e afirma que não pôde recebê-lo porque não conseguiu "apresentar a documentação no prazo que o investidor pediu".
A verba do concurso é reunida pela secretaria com empresas estatais e privadas, por meio das leis de renúncia fiscal (que autorizam o destino de parcela do Imposto de Renda para projetos culturais).
Para que as empresas possam desembolsar o dinheiro, é necessário cumprir trâmites burocráticos que incluem a emissão de certificados de investimento pela Comissão de Valores Mobiliários.
Santiago diz que agora está com todos os papéis em ordem. Seu prêmio neste ano é de R$ 150 mil. O diretor afirma que o resultado "ratifica a qualidade do filme, que ganhou duas vezes na mesma categoria, com júris diferentes".
A família Alcântara de que trata o filme é um coral formado por descendentes de escravos em MG.
O objetivo do diretor agora é estrear o documentário nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e realizar exibições "em comunidades quilombolas, já que é um documentário com temática afro-brasileira".

Produção e finalização
O resultado da edição 2005 do programa estadual de fomento ao cinema teve aspectos heterodoxos nas outras duas categorias compreendidas pelo concurso -produção e finalização de filmes.
O filme "Infância Roubada", de Bruno Barreto, foi incluído entre os vencedores da categoria produção numa reunião extraordinária agendada pelo secretário de Cultura, João Batista de Andrade, com a comissão julgadora.
A premiação de Barreto, que é carioca, foi questionada por representantes do cinema paulista, com o argumento de que ele não cumpriria a exigência de residir há pelo menos três anos em SP.
Diante da suspeita, a secretaria pediu ao cineasta que comprovasse sua residência em São Paulo, o que foi feito, segundo parecer do departamento jurídico do órgão.
"Infância Roubada" receberá, segundo informação da secretaria, "mínimo de R$ 293 mil". Barreto e os cinco cineastas apontados como suplentes na primeira decisão do júri de produção terão o direito de concorrer novamente em 2006, na mesma categoria, pedindo "a integralização do aporte requisitado no ano de 2005", segundo decisão da secretaria.
O teto para o prêmio de produção neste ano foi de R$ 500 mil.
Na categoria de finalização também houve uma decisão posterior à reunião da comissão julgadora.
Os prêmios previstos para os filmes "Onde Andará Dulce Veiga?", de Guilherme de Almeida Prado, "O Poeta da Vila", de Ricardo van Steen, e "Querô", de Carlos Cortez, foram reduzidos de R$ 300 mil para R$ 100 mil.
Segundo a secretaria, a medida foi adotada porque esses filmes venceram também um concurso de apoio à produção da Ancine (Agência Nacional do Cinema).
Fabiano Gullane, produtor de "Querô", diz que ficou "surpreso" com a redução, mas "feliz" com o prêmio. "Em vez de reclamar, escolhemos trabalhar muito. Queria parabenizar o governador, o secretário João Batista e suas equipes pelo edital de fomento. Foram mais prêmios e mais dinheiro que no ano passado", diz.
O edital previa R$ 2,4 milhões para a categoria finalização. A soma dos prêmios anunciados aos 12 vencedores é de R$ 2,215 milhões. Mas o valor vai mudar.
O total investido na finalização "chegará a um mínimo de R$ 2,4 milhões, dobrando-se a destinação de recursos para dois filmes da faixa 2 [suplentes]: "Garoto Cósmico" [de Alê Abreu] e "O Dia em o Brasil Esteve Aqui" [de Cayto Ortiz]", segundo a secretaria.
Eram três os suplentes indicados pelo júri. Além dos dois acima, "Onde Andará Dulce Veiga?".


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