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CINEMA/CRÍTICA
Diretor sueco banaliza Bergman em trama musical
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
A Suécia deu ao mundo o cineasta Ingmar Bergman, o
grupo musical Abba e, agora, "A
Vida no Paraíso", um filme que,
creiam, reúne o que há de pior nos
dois. De Bergman vem o conteúdo dramático-psicanalítico e o tema da repressão religiosa, que,
desvinculados da forma rigorosa
do cineasta, banalizam-se automaticamente. Do Abba vem o tratamento sentimental e grudento
dado à música, sem direito à diversão das pistas de dança.
Poucas palavras sobre a trama
são suficientes para que se adivinhe o que vem pela frente. Um
maestro em crise volta à pequena
cidade onde viveu até os sete anos
para reciclar sua vida. Na infância,
como explicam os flashbacks, ele
apanhava dos coleguinhas da escola. Até que sua mãe o tirou dali
e lhe deu a chance de se transformar em um rico e bem-sucedido
maestro, daqueles que suam e até
sangram (!) diante da orquestra.
Esgotado pela pressão do meio
musical e pela agenda desumana
dos concertos, o maestro volta à
cidade natal sem dizer que já vivera ali. Em pouco tempo, ele assume a direção do pequeno coral
protestante. Então, adivinhe: 1) o
que a música provocará nos cidadãos do coro; e 2) o que a música
provocará nos setores mais conservadores da cidade.
"A Vida no Paraíso" jaz no superlotado cemitério das imagens
natimortas, lá onde são enterrados os filmes que seguem direto
para o inferno das boas intenções.
Incomoda, sobretudo, um certo
determinismo subjacente à história (o garoto que mais batia no
maestro se transformou em um
brutal motorista de caminhão que
espanca a mulher, ou seja, crianças violentas tornam-se adultos
violentos; as sensíveis, maestros)
e também aquela crença religiosa
no poder redentor da música.
A principal crítica que o diretor
Kay Pollak tenta imprimir -uma
postura anticristã- é negada pela própria forma do filme, ao reforçar a crença na redenção e transformar o maestro em uma espécie de Cristo contemporâneo.
A Vida no Paraíso
Sä Som I Himmelen
![](http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/bp.gif)
Direção: Kay Pollak
Produção: Suécia, 2004
Com: Michael Nyqvist, Frida Hallgren
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