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HISTÓRIA
Vídeo mostra a Bagdá do sonho americano
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A primeira parte do programa
"Dentro de Bagdá" mostra a arquitetura da cidade. Na segunda,
Bagdá desaparece e cede lugar à
reconstrução do Iraque pelas tropas dos EUA em um ambiente de
harmonia e paz que não lembra
em nada as 32 mil pessoas mortas
no país desde a invasão, em 2003.
Os minutos iniciais são dedicados às plantas da cidade antiga,
construída para servir de sede para o califado abássida no século
8º, ao passado glorioso mostrado
em histórias das "Mil e Uma Noites" e às obras dos impérios que
ocuparam as margens dos rios Tigre e Eufrates, onde fica Bagdá.
Passada a bonança, o programa
passa aos militares, que teriam
governado mal o país. Logo vem o
argumento da segunda parte, o de
que o Ocidente deve modernizar
o Oriente e também restaurar os
bons velhos tempos.
A ocupação inglesa no século
20, veja-se, é tomada como um
ato de boa vontade européia. O
herdeiro da monarquia iraquiana
deposta em 1958, dócil ao Reino
Unido, é encarregado de reforçar
essa idéia. No vídeo, a república é
tratada como o término de uma
época de progresso. Não há menção a nenhuma das insurgências
nacionalistas da época.
A conseqüência é que os americanos se tornam, sob o ponto de
vista do programa, sucessores dos
ingleses. Porém, com uma missão
extra: retirar Saddam Hussein e
suas armas de destruição em massa do poder. O programa toma as
armas como existentes.
Hoje, segundo "Dentro de Bagdá", a invasão tem feito tamanho
bem que até as relações familiares
iraquianas estariam "mais fortes".
A frase que encerra o programa,
dita por um iraquiano, coroa o
seu argumento: "Os americanos,
por qualquer razão que tenham
vindo, ou que outros tenham dito
que eles vieram, tiraram um homem mau do poder". E ficamos
assim: uma peça de propaganda
divulgada como história. Mostrar
essa diferença, por contraste, é a
principal virtude deste vídeo.
Dentro de Bagdá
Quando: hoje, às 22h, no History Channel
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