São Paulo, segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

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HISTÓRIA

Vídeo mostra a Bagdá do sonho americano

LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira parte do programa "Dentro de Bagdá" mostra a arquitetura da cidade. Na segunda, Bagdá desaparece e cede lugar à reconstrução do Iraque pelas tropas dos EUA em um ambiente de harmonia e paz que não lembra em nada as 32 mil pessoas mortas no país desde a invasão, em 2003.
Os minutos iniciais são dedicados às plantas da cidade antiga, construída para servir de sede para o califado abássida no século 8º, ao passado glorioso mostrado em histórias das "Mil e Uma Noites" e às obras dos impérios que ocuparam as margens dos rios Tigre e Eufrates, onde fica Bagdá.
Passada a bonança, o programa passa aos militares, que teriam governado mal o país. Logo vem o argumento da segunda parte, o de que o Ocidente deve modernizar o Oriente e também restaurar os bons velhos tempos.
A ocupação inglesa no século 20, veja-se, é tomada como um ato de boa vontade européia. O herdeiro da monarquia iraquiana deposta em 1958, dócil ao Reino Unido, é encarregado de reforçar essa idéia. No vídeo, a república é tratada como o término de uma época de progresso. Não há menção a nenhuma das insurgências nacionalistas da época.
A conseqüência é que os americanos se tornam, sob o ponto de vista do programa, sucessores dos ingleses. Porém, com uma missão extra: retirar Saddam Hussein e suas armas de destruição em massa do poder. O programa toma as armas como existentes.
Hoje, segundo "Dentro de Bagdá", a invasão tem feito tamanho bem que até as relações familiares iraquianas estariam "mais fortes". A frase que encerra o programa, dita por um iraquiano, coroa o seu argumento: "Os americanos, por qualquer razão que tenham vindo, ou que outros tenham dito que eles vieram, tiraram um homem mau do poder". E ficamos assim: uma peça de propaganda divulgada como história. Mostrar essa diferença, por contraste, é a principal virtude deste vídeo.


Dentro de Bagdá
Quando:
hoje, às 22h, no History Channel


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