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É o melhor filme do ano, e ainda estamos em março
DA CALIFÓRNIA
"A Marca da Maldade".
Raymond Chandler.
"Pacto de Sangue". Will Eisner.
"Blade Runner". Mangás. "Ranxerox". Até o brasileiro "Cidade
Oculta". Mal o filme começa, as
referências vão se enfileirando na
cabeça. Passados os primeiros
cinco minutos de "Sin City", porém, está claro: a platéia está diante de uma obra original, baseada
em outra obra original, paradoxalmente.
Robert Rodriguez consegue
controlar seus excessos para dar
vez à maestria de Frank Miller.
Assim, "Sin City" é mesmo a graphic novel em ação, sendo o diretor um mero realizador das idéias
do desenhista e também a pessoa
que as torna possíveis tecnologicamente. Tudo em preto-e-branco, com detalhes cruciais coloridos, como a rosa vermelha de "A
Lista de Schindler", com uma diferença: ali, a cor reforçava uma
idéia; aqui, é um personagem a
mais, quase uma rubrica.
Três histórias se entrelaçam, a
do brutamontes desfigurado
Marv, que se vinga da morte da
prostituta Goldie, no meio do caminho enfrentando o serial killer
canibal Kevin, enquanto o policial
Hartigan vai para a cadeia ao impedir que a menina Nancy seja estuprada por Junior, o filho de senador que virará o Yellow Bastard
ao perder o pênis. Chega? Tem
ainda a guerra das prostitutas lideradas por Gail com a ajuda do
detetive particular Dwight, deflagrada quando o policial corrupto
Jackie Boy é morto.
É filme para adulto, sem concessões, com nudez e mais violência
do que é possível suportar. Mas
uma violência de mentira, de quadrinhos, em que o sangue é branco, braços e pernas são decepados
e o corpo vivo do ser que sobrou é
dado como comida a um cachorro, pessoas crivadas de balas sobrevivem, homens são atropelados duas vezes por conversíveis e
sobrevivem.
Sobra aos atores o difícil trabalho de serem bidimensionais.
Ajudam as próteses, colocadas
em Marv e Jackie, por exemplo,
que os torna mais angulares, e o
estrito controle do movimento
dramático exercido por Miller no
próprio set -em um momento,
conta Rosario Dawson, a atriz teve de mudar a posição de seu
brinco esquerdo, pois este não estava "na posição correta".
Ajuda também o fato de o elenco masculino ser quase inteiro
formado por canastrões, nomes
com carreiras em decadência, como Mickey Rourke e Rutger
Hauer, respectivamente o ensandecido Marv e o corrupto cardeal
Roark, em duas de suas melhores
performances. Já o elenco feminino, como alguém falou, parece a
sala de espera de um teste da
"Playboy" -e Jessica Alba rouba
a cena como a menininha que
cresce e vira um dos mais belos
animais a caminhar sobre a tela.
Ficam patentes os momentos
em que Miller faz concessões a
Rodriguez e Tarantino, como na
cena do carro entre Owen e Del
Toro, quando o filme escorrega
para o pastiche. São poucos, felizmente, e o resultado geral deve
agradar os fãs de HQ, que gostariam de qualquer maneira, e provocar sentimentos fortes nos
amantes do cinema, que é mais do
que se pode dizer sobre 99% da lavra hollywoodiana atual.
(SÉRGIO DÁVILA)
Sin City
Sin City
Direção: Robert Rodriguez e Frank Miller
Produção: EUA, 2005
Com: Jessica Alba, Bruce Willis, Benicio
del Toro
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