São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2008

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Crítica

Café Med oferece boa cozinha mesmo com as amarras da religião

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Como não está dito em nenhum lugar, quero informar ao leitor, desde já, que o Café Med é um restaurante kosher. Ou seja, tenta obedecer às incontáveis, e praticamente impraticáveis, regras judaicas para a alimentação. Isso ajuda a entender as estranhas idiossincrasias de um lugar que não é de culinária judaica, e sim mediterrânea.
Mas... de um Mediterrâneo sem cordeiro (aqui só há peixes, pois não podem ter contato com carnes na cozinha comum); sem os iogurtes, queijos e laticínios realçando todo tipo de alimento; sem folhas verdes; sem farinha apropriada para as massas; sem abrir sexta à noite e quase sem vinhos.
Qualquer ortodoxia religiosa impregna -e nega- uma alimentação completa e de prazer gastronômico. Mas o curioso é que aqui esses obstáculos terminam realçando méritos dos proprietários (Simon Pinto, carioca, e Maurício Baroukh, egípcio naturalizado brasileiro), que se aventuraram por outras cozinhas, ainda que limitadas por suas superstições, e de uma chef que, tendo já conhecido as glórias de uma cozinha livre, sem as amarras do preconceito, agora executa pratos de qualidade mesmo na adversidade de tantas limitações.
A chef é Fabiana Agostini, 24, na área desde os 17, com estágios em chefs como Ferran Adrià. Trabalhou em restaurantes de Nova York e foi chef do Santo Grão, em São Paulo. No Café Med -que, aliás, tem horários de café mesmo e mesas na calçada e na confeitaria-, ela cria uma versão da brandade sutilmente desconstruída em seus componentes (bacalhau e batata), serve no couvert um delicado tempura de rosa, faz massas como ravioloni de alho-poró com manteiga de sálvia e pimenta-rosa (bom molho, massa um tanto grossa), trata com delicadeza peixes como o namorado com azeite de manjericão e aspargos e oferece sobremesas como um cremoso tiramisù. Uma cozinha iluminada como o Mediterrâneo, driblando o obscurantismo.
Entre as estranhezas do Café Med, estão o almoço só em bufê (com altos e baixos) e, domingo à noite, um festival de sushi, massas e pizzas ao mesmo tempo! Ainda assim vale fazer como as legiões de pessoas com solidéu na cabeça estão fazendo: ir lá, especialmente à noite.

josimar@basilico.com.br


CAFÉ MED
Avaliação:
 
Endereço: av. Faria Lima, 2.900, Jardim Paulistano, tel. 0/xx/ 11/3079-0391
Funcionamento: seg. a qui., das 12h às 15h e das 19h às 23h; sex., das 12h às 15h; sáb., das 21h à 0h; dom., das 8h às 11h, das 12h às 16h e das 20h às 23h
Ambiente: de restaurante inglês tradicional, nada mediterrâneo, mas bem envidraçado e claro
Serviço: dedicado, embora atrapalhado com o movimento
Vinhos: uma negação, quase nada
Cartões: todos Estacionamento com manobrista: R$ 7 (duas horas)
Preços: couvert, R$ 12; entradas, R$ 12 a R$ 18; pratos principais, R$ 32 a R$ 48; sobremesas, R$ 12 a R$ 17


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