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Crítica
Café Med oferece boa cozinha mesmo com as amarras da religião
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
Como não está dito em
nenhum lugar, quero
informar ao leitor, desde já, que o Café Med é um restaurante kosher. Ou seja, tenta
obedecer às incontáveis, e praticamente impraticáveis, regras judaicas para a alimentação. Isso ajuda a entender as estranhas idiossincrasias de um
lugar que não é de culinária judaica, e sim mediterrânea.
Mas... de um Mediterrâneo
sem cordeiro (aqui só há peixes,
pois não podem ter contato
com carnes na cozinha comum); sem os iogurtes, queijos
e laticínios realçando todo tipo
de alimento; sem folhas verdes;
sem farinha apropriada para as
massas; sem abrir sexta à noite
e quase sem vinhos.
Qualquer ortodoxia religiosa
impregna -e nega- uma alimentação completa e de prazer
gastronômico. Mas o curioso é
que aqui esses obstáculos terminam realçando méritos dos
proprietários (Simon Pinto, carioca, e Maurício Baroukh,
egípcio naturalizado brasileiro), que se aventuraram por outras cozinhas, ainda que limitadas por suas superstições, e de
uma chef que, tendo já conhecido as glórias de uma cozinha livre, sem as amarras do preconceito, agora executa pratos de
qualidade mesmo na adversidade de tantas limitações.
A chef é Fabiana Agostini, 24,
na área desde os 17, com estágios em chefs como Ferran
Adrià. Trabalhou em restaurantes de Nova York e foi chef
do Santo Grão, em São Paulo.
No Café Med -que, aliás, tem
horários de café mesmo e
mesas na calçada e na confeitaria-, ela cria uma versão da
brandade sutilmente desconstruída em seus componentes
(bacalhau e batata), serve no
couvert um delicado tempura
de rosa, faz massas como ravioloni de alho-poró com manteiga de sálvia e pimenta-rosa
(bom molho, massa um tanto
grossa), trata com delicadeza
peixes como o namorado
com azeite de manjericão e aspargos e oferece sobremesas
como um cremoso tiramisù.
Uma cozinha iluminada como
o Mediterrâneo, driblando o
obscurantismo.
Entre as estranhezas do Café
Med, estão o almoço só em bufê
(com altos e baixos) e, domingo
à noite, um festival de sushi,
massas e pizzas ao mesmo tempo! Ainda assim vale fazer como as legiões de pessoas com
solidéu na cabeça estão fazendo: ir lá, especialmente à noite.
josimar@basilico.com.br
CAFÉ MED
Avaliação:
Endereço: av. Faria Lima, 2.900,
Jardim Paulistano, tel. 0/xx/
11/3079-0391
Funcionamento: seg. a qui., das
12h às 15h e das 19h às 23h; sex.,
das 12h às 15h; sáb., das 21h à
0h; dom., das 8h às 11h, das 12h
às 16h e das 20h às 23h
Ambiente: de restaurante inglês
tradicional, nada mediterrâneo,
mas bem envidraçado e claro
Serviço: dedicado, embora
atrapalhado com o movimento
Vinhos: uma negação, quase nada
Cartões: todos
Estacionamento com
manobrista: R$ 7 (duas horas)
Preços: couvert, R$ 12; entradas,
R$ 12 a R$ 18; pratos principais,
R$ 32 a R$ 48; sobremesas, R$ 12
a R$ 17
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