São Paulo, sexta, 27 de março de 1998

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FESTIVAL
O cinema documental faz sua festa

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Começa hoje no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio, o 3º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. Em São Paulo, o evento acontece entre 30 de março e 5 de abril, em dois lugares: Cinesesc e Museu da Imagem e do Som (MIS).
Dirigido pelo crítico Amir Labaki, articulista da Folha, o festival é considerado o mais importante do gênero na América Latina. Este ano, 18 filmes disputam a competição internacional e nove a competição nacional. O prêmio para o filme vencedor, em ambas as disputas, é de US$ 5 mil.
Fora da competição, será apresentada uma retrospectiva do cineasta dinamarquês Jon Bang Carlsen. Convidado do festival, Carlsen participará de debate na Folha no próximo dia 2.
Destaques
Na mostra internacional, alguns dos destaques são o mexicano "Mas Afinal Quem É Juliette?", o norte-americano "El Dia que Me Quieras" e o russo "Quarta-Feira, 19 de Julho de 1961".
O primeiro, dirigido por Carlo Marcovich, literalmente reconstrói a vida de uma adolescente pobre cubana, misturando documento e encenação e promovendo um encontro da protagonista com o pai, que emigrara aos EUA anos atrás. O filme venceu a competição latina do Sundance Festival (EUA) deste ano.
O curta "El Dia que Me Quieras", de Leandro Katz, premiado no Festival de Havana do ano passado, investiga o significado da última foto de Che Guevara, morto, rodeado por seus captores, na Bolívia. O diretor também é convidado do festival.
"Quarta-Feira, 19 de Julho de 1961", de Viktor Kossakovsky, retrata 70 homens e mulheres nascidos no mesmo dia que o cineasta, em São Petersburgo. Ganhou o prêmio da crítica em Berlim e o de melhor documentário no Festival de Edinburgo (Escócia).
A representação do negro no cinema norte-americano é o tema de "Classified X - O Cinema Negro Segundo Melvin Van Peebles", realizado na França por Mark Daniels. O cineasta e ator negro Melvin Van Peebles, pai do também diretor Mario Van Peebles, comenta as imagens de discriminação do negro produzidas por Hollywood.
Obras de impacto
Outros títulos que devem provocar impacto são o curta sueco "Botas Assassinas", de Kjell-Ake Olsson, sobre jovens que usam suas botinas como armas letais, e o média "Assumindo o Passado", de Jeffe Dupre, que biografa cinco gays e lésbicas em três séculos de história americana.
"Assumindo o Passado" conquistou o prêmio do público para documentário no Sundance. Seu diretor, Jeffre Dupre, também é convidado do É Tudo Verdade.
O longa argentino "Tinta Vermelha", que acompanha o dia-a-dia na redação de um jornal popular de Buenos Aires, terá pré-estréia mundial no festival. Seus realizadores, Marcelo Céspedes e Carmen Guarini, são convidados do evento.
Três filmes brasileiros participam da competição internacional: "Nelson Sargento", de Estevão Pantoja; "O Cineasta da Selva", de Aurélio Michiles; e "Geraldo Filme", de Carlos Cortez.
Este último, que traça um painel do samba paulista a partir da vida e obra do compositor Geraldo Filme, é totalmente inédito e abrirá a parte paulistana do festival, dia 30, no Cinesesc.
O júri internacional é composto por Audrius Stonys (documentarista lituano), Kevin Macdonald (cineasta e historiador escocês) e Toni Venturi (cineasta brasileiro, diretor de "O Velho"). O júri brasileiro é formado pelos cineastas Tata Amaral, Tetê Vasconcelos e Thomas Farkas.
Eisenstein
O festival inclui ainda dois programas paralelos: a Mostra Informativa Vídeo e TV e a retrospectiva de filmes dirigidos pelos jurados do evento.
Na primeira, o destaque absoluto é "Eisenstein - A Casa do Mestre", co-produção russo-alemã dirigida por Naum Klejman, Marianna Kirejewa e Alexander Iskin.
Trata-se de um documentário excepcional sobre a vida e a obra do cineasta soviético Sergei Eisenstein, focalizando sobretudo sua inquietação, sua errância e seus conflitos com o poder.
Com imagens preciosas -como as de Eisenstein dando aulas, ou as do congresso de cineastas em que ele foi obrigado a "se retratar" perante o stalinismo- alinhavadas por trechos de filmes do próprio diretor e de outros gigantes (Stroheim, Lang, Murnau, Griffith), o filme é uma vibrante reflexão sobre a tensão entre política e estética na obra do biografado.
Não poderia haver melhor homenagem a um dos maiores cineastas de todos os tempos, no centenário de seu nascimento.
Na mesma mostra, merecem atenção os brasileiros "Jorge Amado", de João Moreira Salles, e "Will Eisner, Profissão Cartunista", de Marisa Furtado e Paulo Serran.
O primeiro aborda a obra do escritor baiano como ponto fulcral das discussões sobre a mestiçagem no Brasil. O segundo é o piloto de uma série sobre o mestre norte-americano dos quadrinhos, criador do "Spirit", e suas relações com o Brasil.
Organizado pela Associação Cultural Kinoforum, o 3º Festival Internacional de Documentários tem patrocínio do Centro Cultural Banco do Brasil, co-promoção do Sesc-SP e co-patrocínio do Ministério da Cultura e da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo.



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