da Equipe de Articulistas

A grande estrela do 3º Festival Internacional de Documentários deverá ser o dinamarquês Jon Bang Carlsen, que no próximo dia 2 participa, na Folha, de um debate com o escocês Kevin Macdonald e a brasileira Tata Amaral.
Além de uma retrospectiva com oito de seus filmes, será exibido na Mostra Informativa Vídeo e TV seu metadocumentário "Como Inventar a Realidade".
Este último é certamente uma das obras mais interessantes e originais de todo o festival. Nele, Carlsen apresenta um "making of" de seu documentário "É Agora ou Nunca" (programado na retrospectiva) e explicita seu método de trabalho, que mistura ficção e registro documental de modo extremamente singular.
Quem não puder ver todos os trabalhos de Carlsen programados deve tentar assistir pelo menos a esses dois -o filme e seu "making of"-, que valem por todo um curso sobre a representação do real no cinema.
"É Agora ou Nunca" (1996) trata do tema da solidão masculina e da busca de uma companheira na idade madura. É centrado em Jimmy, um camponês solteirão que vive num lugarejo no litoral da Irlanda. A certa altura, Jimmy recorre a uma agência de casamentos para encontrar a noiva ideal.
Só que, nesse retrato aparentemente tão natural e sem retoques, tudo é rigorosamente encenado, como nos mostra "Como Inventar a Realidade".
Carlsen foi à região que aparece no filme, falou com uma porção de moradores, gravou seus depoimentos, depois escolheu alguns deles e os fez representar a si próprios diante das câmeras.
O método do cineasta consiste em tornar o real mais concentrado e inteligível, deixando de fora as rebarbas e "ruídos" do dia-a-dia -embora mantendo, deste, o frescor e a naturalidade. De certo modo, aproxima-se, pelo caminho inverso, da ficção fortemente documental do cinema iraniano de Kiarostami e Makhmalbaf.
Subproduto da mesma experiência do cineasta é "Meu Diário Irlandês" (1996), que mostra a pequena saga de um menino dinamarquês (filho de Carlsen) para se adaptar aos amigos, à escola e à língua de uma terra estranha (a Irlanda).
É um trabalho encantador, que parece realizado com uma câmera escondida entre meninos de seis ou sete anos.
Entre os outros filmes de Carlsen programados estão "A Vida Será Vivida" (1993), baseado em cartas da mãe do diretor; "Antes dos Hóspedes Chegarem" (1986), sobre um hotel à beira-mar na ilha dinamarquesa de Fano; e "Um Rico Homem" (1978), sobre um dinamarquês que enriqueceu vendendo um fertilizante e emigrou para Beverly Hills.
(JGC)


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