São Paulo, sexta, 27 de março de 1998

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São Paulo está em companhia dos homens

Divulgação
Aaron Eckhart, vencedor do Independent Spirit Awards de revelação como Chad, e Matt Malloy (Howard), em "Na Companhia de Homens"


MARIANE MORISAWA
da Redação

Aparentemente abandonados por suas namoradas, os executivos Chad (Aaron Eckhart) e Howard (Matt Malloy) resolvem vingar-se das mulheres em geral e restaurar o "orgulho ferido" dos machos.
Para tanto, escolhem uma vítima (a bela -e surda- Christine), que, durante seis semanas, será alvo de flores, jantares e galanteios dos dois. Então, será abandonada.
"Na Companhia de Homens" ("In The Company of Men"), primeiro filme de Neil LaBute -que estréia hoje em São Paulo-, causou controvérsia por seu tema, considerado por muitos críticos machista. O diretor -que está produzindo seu segundo longa-metragem, "Your Friends and Neighbours" ("Seus Amigos e Vizinhos"- nega a misoginia.
"A premissa do filme é machista", ele disse em entrevista à Folha, por telefone, de Los Angeles. "Mas muitas mulheres me disseram que achavam meu filme feminista, porque retrata os homens de maneira tão ruim."
Leia trechos da entrevista.

Folha - Chad e Howard usam a vingança para "recuperar a dignidade". Você acha que este é um sentimento comum dos homens?
Neil LaBute -
Não sei se todo o mundo age como eles, mas acho que é uma reação natural. Se o filho de alguém é morto, o pai vai querer vingança. Mas não sabemos que tipo de ódio move Chad. Ele tem essa mentalidade contra todo o mundo. Sente que o mundo o está afrontando e se vinga.
Folha - A competição entre os homens é mais importante no filme do que a vingança contra as mulheres?
LaBute -
É isso que faz o filme singularmente masculino. A mentalidade da caça é muito masculina. Se as protagonistas fossem mulheres, a vingança seria mais solitária, elas não iriam competir.
Folha - Por que parte da crítica considerou o filme misógino?
LaBute -
É um rótulo fácil de se dar. Acredito que o filme seja sobre mais do que isso. A mulher é só um caminho para Chad tirar a mente de Howard do trabalho. A premissa do filme, a idéia de dois homens que dizem "vamos machucar uma mulher para nos sentirmos melhor", é misógina. Mas essa é apenas a premissa. Infelizmente, é no que boa parte dos críticos se concentrou.
Folha - Você acha que os homens também podem se sentir desconfortáveis vendo o filme?
LaBute -
Provavelmente, mais homens do que mulheres. Os homens se identificam com as ações dos personagens.
Folha - Você teve intenção de se vingar das feministas?
LaBute -
Não! Meu desejo é só o de contar uma boa história. Como todos os escritores, tenho o desejo de entreter. Encontrar algo que seja novo e provocante.
Folha - Apesar de Chad parecer o mais abominável, você diz que gosta menos de Howard. Por quê?
LaBute -
No final do filme, Howard é tão desprezível quanto ou até mais que Chad. Porque se espera mais dele, e, se alguém é misógino, é Howard, porque todas as suas experiências com as mulheres foram más.
Folha - Por que Chad é o único que escapa da punição?
LaBute -
Bem, ele escapa da punição tradicional. Como escritor, acredito que isso mantém a história na cabeça das pessoas por mais tempo. Realisticamente, aquele tipo de pessoa frequentemente não é punida. Mas eu acho que Chad está em seu próprio inferno.
Ele consegue seu novo apartamento, seu novo emprego, sua namorada bonita, ele escapou da punição, mas, no final, não parece feliz. Eu acho que o que ele ganhou não valia a pena ganhar.
Folha - Para você, o papel do diretor independente é fazer filmes que entretenham as pessoas mas que também as façam pensar?
LaBute -
Acho que há filmes poderosos feito com US$ 90 milhões ou US$ 90. A força ainda reside na história e nos personagens, nas perguntas que foram levantadas. Para mim, o trabalho é levantar perguntas, e não dar respostas.



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