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O ROTEIRO
Um jogo de enganos
da Reportagem Local
O roteirista e diretor americano
Neil LaBute estudou no Royal
Court, o teatro dos novos autores
em Londres, de onde tem surgido
uma dramaturgia de verborragia
abusiva, cruel. Escreveu e adaptou
peças, como "Woyzeck".
Escreveu um filme como uma
peça. Seu modelo foi a comédia da
Restauração, período (1660/1700)
de reflorescimento do teatro,
pós-elizabetano. "Na Companhia
de Homens" quer ter a forma dos
cinco atos do teatro de então e é
uma comédia de costumes, uma
"black comedy", com diálogos
carregados de ironia.
É uma estrutura tradicional,
num filme que poderia, de fato,
ser uma peça. LaBute foi comparado a David Mamet, dramaturgo
que igualmente arrisca seus filmes, também por isso -pelo eco
do teatro na tela grande.
Outro motivo é que LaBute, no
filme, trata de um tema caro a David Mamet: a identidade masculina em tempos de cerco feminista,
da ordem politicamente correta.
Ao menos é o que o roteiro aponta, à primeira vista.
Dois amigos jovens e engravatados, colegas de escola e agora de
uma empresa, decidem vingar-se
do gênero feminino, que supostamente os oprime, seduzindo e
abandonando uma mulher. É o
que Chad propõe a Howard, no
momento seu superior, e é o que
fazem no correr do filme.
Mas Howard se envolve, confunde-se no escritório e acaba
apaixonado -e rebaixado. Chad
toma o seu lugar. E revela-se que
não é do homem "oprimido" que
Neil LaBute trata, afinal.
Ele diz, na edição do roteiro em
livro: "Eu amo a idéia de induzir as
pessoas e depois voltar-me sobre
elas... Eu não acho que o sexismo
jamais tenha, necessariamente,
desaparecido".
"Na Companhia de Homens" é
brilhante ao enganar o espectador
masculino, como Chad engana
Howard. Faz com que acredite que
é preciso reagir ao cerco feminino,
que nós, pobres homens, somos
uma minoria ameaçada. E depois
se volta contra nós.
A última cena (o sorriso canalha
de Chad, com a cabeça de uma
mulher entre as suas pernas) não
poderia ser mais significativa, na
mensagem de que o poder segue
patriarcal.
(NELSON DE SÁ)
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